Coordenador internacional da Pastoral da Criança, Nelson Neumann, comentou como a falta de saneamento básico atinge as crianças
Monique Coutinho
Da Redação
A falta de saneamento básico, uso de água imprópria e poluição do ar causam a morte de mais de 1,7 milhão de crianças com menos de cinco anos de idade, segundo relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em março deste ano. Ainda de acordo com o órgão, as causas mais comuns de mortes entre as crianças são diarreia, malária e pneumonia, doenças atribuídas à falta de recursos básicos para a sobrevivência.
Segundo o presidente Executivo do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos, o Brasil avançou no acesso à água tratada, mas a questão da coleta de esgoto ainda é escassa no país.
“Ainda tem metade do Brasil para atender em coleta e tratamento de esgoto e 60% do esgoto do país não é tratado. Isso mostra que temos muito a fazer ainda, principalmente na parte de esgotamento sanitário, principalmente nas regiões mais periféricas, mas mesmo nos bairros nobres, temos deficiência e falta desse serviço, resultando em doenças”, disse.
O responsável afirmou que em 2015 houve mais de 400 mil internações por diarreia devido à falta de saneamento, sendo a maior parte ocupada por crianças até cinco anos. “No Norte e Nordeste, as pessoas tendem a ficar mais doentes, principalmente as crianças, e isso atrapalha o desenvolvimento na escola, em casa, no turismo”, acrescenta.
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A falta de tratamento do esgoto e da água atrapalha as cidades e o país como um todo, pois o investimento nessas áreas auxilia na saúde e no bem-estar do indivíduo. Mas, conforme ressalta Édison, passaram-se décadas sem investimento algum no saneamento básico.
“Não houve investimento justamente no momento em que as cidades cresceram muito. Agora precisamos fazer instalações dessas redes de água e de esgoto com as cidades já evoluídas e construídas”.
“Não polua o meu futuro! O impacto do meio ambiente na saúde das crianças”, é outro relatório também divulgado pela OMS. O estudo revela que 570 mil crianças com menos de cinco anos morrem por infecções respiratórias a cada ano. Tais doenças são atribuídas à poluição do ar, que envolve a queima de combustível, desmatamento e fumo passivo.
Deficiências do meio ambiente
O coordenador internacional da Pastoral da Criança e médico epidemiologista, Nelson Neumann, observa que muitas mortes são ocasionadas por deficiência do meio ambiente, seja pela poluição dentro da própria casa ou aquelas cometidas em ambientes externos.
“Pega as questões das infecções respiratórias: mais da metade delas são atribuíveis a problemas do meio ambiente. Seja a poluição dentro de casa, como o cigarro, ou pela poluição ambiental. A questão das diarreias por exemplo, que proporciona mais da metade das mortes, são por conta do meio ambiente. A dengue é 95% da questão e também envolve o meio ambiente”, diz.
Crianças afetadas
O especialista observa que as crianças são as mais afetadas por tais problemas e em especial a diarreia atrai outros tipos de complicações.
“Primeiro a criança perde nutrientes, o que ela comeu, ela vai jogar fora. Também vai prejudicar células do intestino. Então, mesmo depois de passar a diarreia, ela [criança] vai ter mais dificuldade de absorver bem os alimentos, porque o intestino ficou machucado. E com isso ela vai perder a nutrição e perdendo nutrição ela fica mais frágil, podendo causar um ciclo vicioso”.
Condições básicas para o bom desenvolvimento da criança
Diante desta situação, o coordenador aponta três condições básicas para o bom desenvolvimento da criança: família, rede de segurança e o cuidado com o meio ambiente, sendo a principal condição é compor uma família.
“A família é o principal. A segunda questão é a rede de segurança. É importante ter uma avó, um irmão, ou quem quer que seja no momento de necessidade. Tem também a questão do meio ambiente. O Papa foi muito sábio na Laudato Si quando falou da proteção do meio ambiente. Ele diz que o ser humano precisa cuidar do meio ambiente sim, mas precisa também erradicar a pobreza. Quando as pessoas falam de meio ambiente, falam como se fosse o bem supremo, ele é muito importante, mas as pessoas que vivem no meio ambiente são tão importantes quanto ele” acrescenta.
Campanha da Fraternidade
Em 2017, a Campanha da Fraternidade, promovida pela Igreja Católica no Brasil, deu atenção ao tema do meio ambiente, com foco para o saneamento básico, o desenvolvimento, a saúde integral e a qualidade de vida. O tema foi “Casa Comum, Nossa Responsabilidade” e o lema “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca”.
Agora em 2017, o assunto continua sendo o meio ambiente, desta vez com foco nos biomas brasileiros, bem como a proteção do meio ambiente, servindo de alerta para a população que muitas vezes não sabe dos seus direitos fundamentais para sobrevivências.
“As pessoas muitas vezes não cobram uma solução para o seu bairro e vivem ali naquela situação, achando que aquilo é assim mesmo. A Campanha da Fraternidade tem esse poder de lavar a informação para os cantos mais distantes do Brasil, nas áreas mais remotas, envolvendo a Igreja e isso é importante para que cada um se convença de que é um direito”, conclui Édison.