Especialista em Doutrina Social da Igreja lembra que água é direito de todos e critica sua exploração como um bem de mercado
*Padre Antônio Aparecido Alves
Água: direito de todos
Comemoramos hoje o “Dia Mundial da Água”, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1993. A água é um bem natural não somente para os humanos, mas para todos os seres vivos, que necessitam dela para sua sobrevivência.
A preocupação com esta questão nasceu na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada no Rio de Janeiro em 1992. Depois disso aconteceram três Conferências Mundiais sobre a questão hídrica: o I Fórum Mundial da Água em 1997 em Marrakesh (Marrocos), seguido pelo II Fórum em Haia (Holanda), no ano 2000 e o III Fórum em Kyoto (Japão) em 2003, sendo este ano instituído como “Ano Internacional da Água Doce”, com o objetivo de conscientizar sobre a necessidade de se cuidar e gerenciar esse recurso fundamental ao ser humano.
Além disso, a ONU declarou a água como um direito humano, pois ela é pré-requisito para a consecução de todos os demais direitos. No Brasil, a Campanha da Fraternidade de 2004 foi sobre Fraternidade e Água, com o lema “Água, fonte de vida”.
Água, dom de Deus e fonte de vida
A Bíblia indica que a água limpa e potável é símbolo de uma vida digna e um presente de Deus. O Jardim do Éden é descrito como sendo irrigado por um grande rio que se divide em quatro e dá vida a toda a criação (Gn 2,10). Na travessia do deserto, Deus fez brotar água do rochedo para saciar a sede de seu povo, a fim de que eles não morressem (Ex 17,6). O profeta Elias clamou e Deus fez chover, dando vida à terra que estava castigada pela seca (1 Rs 18,41-46). O profeta Ezequiel, por sua vez, anuncia um rio que brota do templo, torna potável a água salobra e faz germinar a vida no deserto por onde vai passando (Ez 47, 1-2.8- 9.12).
Dia mundial da água de 2017: água residual
O tema para o Dia Mundial da Água deste ano é “Águas residuais”, isto é, a água que é utilizada das mais diversas formas e, por isso, fica suja e impura, ficando imprópria para o consumo e é descartada, o que em geral chamamos de “esgoto”.
Estas águas que foram alteradas em suas características naturais devem ser devolvidas para a natureza como foram dela tiradas, isto é, limpas e adequadas para os seres vivos, para não causarem impacto ao meio ambiente. Infelizmente os dados indicam que esta situação deixa muito a desejar, pois em nosso País nas regiões sul, sudeste e centro-oeste apenas 40% em média das águas residuais são tratadas antes de serem despejadas em rios e córregos, caindo para 23% no nordeste e 14% no norte (SNIS 2014).
Cuidar da água residual, dando a ela um destino adequado, seja pelo reuso quanto para o descarte na natureza ainda é um grande desafio.
Não fazer da água somente uma questão econômica
O grande capital tenta atingir sua última fronteira, que é a água. Assim, baseando-se no conceito de escassez, quer transformá-la em um bem de mercado, submetida às leis da oferta e procura. No entanto, a água não é mercadoria, mas direito de todos. Ela existe em disponibilidade suficiente para todos os seres vivos. O que se faz urgente é um melhor gerenciamento de sua utilização, que evite o desperdício e que proceda ao reuso das águas residuais, de modo que o consumo de hoje não comprometa o abastecimento das gerações futuras que irão habitar este planeta. Todo cuidado que tivermos com a água será pouco.
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*Padre Antonio Aparecido Alves é Mestre em Ciências Sociais com especialização em Doutrina Social da Igreja pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e Doutor em Teologia pela PUC-Rio. Professor na Faculdade Católica de São José dos Campos e Pároco na Paróquia São Benedito do Alto da Ponte em São José dos Campos (SP). Para conhecer mais sobre Doutrina Social visite o Blog: www.caminhosevidas.com.br
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