COMBATE AO BULLYING

"Acolher e olhar para cada aluno é essencial", afirma psicóloga

De acordo com pesquisa mais recente, mais de 28 mil escolas no Brasil registraram ameaças ou tentativas relacionadas à violência conhecida como bullying

Thiago Coutinho
Da redação

“O ser humano sempre dá sinais, por isso precisamos ficar atentos”, afirma a psicóloga Franciele Mota / Foto: Zhivko Minkov por Unsplash

Segundo levantamento do 17º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em 2024, 38% das escolas brasileiras dizem enfrentar problemas de bullying. Além disso, mais de 28 mil escolas registraram casos de bullying que envolveram ameaças ou ofensas verbais. Diante desses dados, recordou-se nesta segunda-feira, 7, o Dia Nacional de Combate ao Bullying.

“O bullying nada mais é do que um comportamento agressivo, intencional. Acontece quando se tem a intenção de ferir alguém. O maior objetivo do bullying é intimidar, humilhar, física ou emocionalmente”, explica a psicóloga e terapeuta cognitiva comportamental, Franciele Mota Silva.

Na internet e nas redes sociais, essas agressões são conhecidas como cyberbullying — trata-se de um fenômeno contemporâneo que pode ser praticado com uso de imagens, vídeos ou mensagens ofensivas. E o resultado dessas práticas pode ser muito nocivo, especialmente em pessoas mais jovens. “Esses comportamentos geram traumas profundos”, lamenta Franciele. “O adolescente se vê nessa sensação de inutilidade. Cria um mecanismo de defesa, como se fosse um episódio de raiva, uma forma de proteção inconsciente que o ego dele traz para lidar com a dor que sente naquele comportamento agressivo que recebe do outro”, acrescenta.

Medidas

O trabalho preventivo ainda é a melhor saída no combate ao bullying. Colégios ao redor do país adotam medidas como rodas de discussão em torno do tema ou ouvidorias que mantêm o sigilo de quem denuncia a prática de bullying. “A prevenção é a base para um alicerce bem feito”, aconselha Franciele. “Então, é preciso trabalhar campanhas de conscientização, ter esse olhar de relatos dos alunos, o trabalho de valores tem que ser feito desde cedo”.

Não apenas a formação dos alunos tem que ser trabalhada, mas também a dos professores e formadores. “Uma parte que é muito, muito fundamental é a formação dos educadores”, afirma a psicóloga. “Precisamos de educadores capacitados constantemente para poder identificar os tipos de bullying. É preciso que eles identifiquem sinais sutis que a criança dá. O ser humano sempre dá sinais, por isso precisamos ficar atentos a quaisquer mudanças de comportamento. Acolher e olhar para cada aluno é essencial para combater o buyllying”, pondera Franciele.

Repetição de padrões

Em muitos casos, o agressor, o praticante do bullying, também pode ser considerado uma vítima. É muito possível que ele esteja repetindo comportamentos de pessoas que estão ao seu redor. “O agressor vive em ambientes de muita negligência, ambientes de violência doméstica e o que que acontece, consequência, ele acaba reproduzindo esse comportamento, por não saber mesmo lidar com seus próprios problemas, acaba reproduzindo o comportamento do que vive, é um espelho da realidade da vida dele”, explica a psicóloga.

Mesmo também sendo vítima, isso não justifica o comportamento de quem pratica o bullying, ressalva Franciele. “Não é porque você vive em um ambiente hostil que você será hostil com outras pessoas, não justifica”, reforça a especialista. “Mas também nos ajuda a entender o que está ali por trás de toda aquela agressividade”.

É preciso, segundo Franciele, trabalhar esta dor que a pessoa traz, esta falta de empatia com o outro. “Tanto vítimas quanto agressores, cada um tem sua história, sua realidade. Precisamos sempre curar todas as feridas, tanto da vítima quanto do agressor”, aconselha.

Tristeza, queda de rendimento escolar, irritabilidade são alguns dos sinais que podem caracterizar que a criança está sendo vítima de bullying. “Tem algo ali que nos deixa em alerta. Alguns pais demoram a notar isso, o que reforça o comportamento agressivo, o que gera um impacto significativo na vida da criança”, pondera a psicóloga.

É preciso estar no mundo da criança. “Precisamos saber como eles se comunicam, como funciona toda essa era digital para protegê-los. É necessário estarmos conectados ao mundo deles para que possamos ajudá-los”, finaliza.

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