Essa primeira reportagem traz uma abordagem geral sobre a atual situação das famílias brasileiras. O professor do curso de História da Universidade de São Paulo (USP), Carlos de Almeida Prado Bacellar, que desenvolve pesquisas na área de história da família, comentou algumas das principais mudanças pelas quais a família vem passando ao longo da história da sociedade brasileira.
De acordo com o professor, o perfil da família mudou muito ao longo do século XX, principalmente em relação ao tamanho, que diminuiu. “Você tem menos crianças, as mulheres estão entrando no mercado de trabalho, elas não têm tempo para cuidar dessas crianças. O excesso de filhos dificulta a ida da mulher para o mercado de trabalho, então pra ela poder trabalhar, ela não pode ter os filhos na quantidade que ela tinha no passado”.
Os Resultados Gerais da Amostra do Censo 2010, divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), comprovam essa constatação. A pesquisa revela que a taxa de fecundidade no Brasil caiu, de 2,38 filhos por mulher em 2000 para 1,90 em 2010. O índice fica abaixo do chamado nível de reposição (2,1 filhos por mulher), que garante a substituição das gerações.
Um reflexo direto, segundo Bacellar, é na Previdência Social, o que pode levar à necessidade de rever as regras de aposentadoria, como já aconteceu na Europa. “A queda da fecundidade e a consequente diminuição do número de crianças está levando rapidamente a um processo de diminuição da força de trabalho ativa. Cada vez você tem mais pessoas idosas, aposentadas e menos pessoas trabalhando”, explicou.
Filhos
Embora a necessidade de trabalhar seja um fator determinante na decisão de ter filhos, o presidente da comissão episcopal para Vida e Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom João Carlos Petrini, que é bispo de Camaçari (BA), afirma que os filhos são fundamentais para a realização da família e do próprio casal.
Ele informou que uma recente pesquisa realizada por um grupo de sociólogos e antropólogos da Universidade de Bologna e da Universidade Católica de Milão verificou que as famílias sem filhos são muito mais frágeis do que as famílias que têm um filho. A pesquisa, que será apresentada no 7º Encontro Mundial das Famílias, também mostra que as famílias com mais de um filho são muito mais sólidas do que aquelas que têm somente um.
Testemunho
Para ele, é compreensível a decisão de casais que optam por ter dois ou três filhos somente, considerando a realidade econômica e as dificuldades que o mundo oferece. Ainda sim, Belinati afirma que quem quer se casar deve se colocar a serviço da família e dos filhos.
“Não deve se preocupar só com as dificuldades financeiras não, porque Deus provê e nós temos que ter coragem e confiar em Deus. Quem confia em Deus vence”, enfatizou.
Casamento
Mesmo sendo tão importantes para a família, nem sempre os filhos estão recebendo a criação tradicional, com a presença de pai e mãe em matrimônio. A pesquisa do IBGE também descobriu que o número de divórcios está maior.
O historiador explica esse índice a partir da maior valorização que se dá ao casamento por amor e por paixão. “No passado, havia muito casamento arranjado, imposto pela família e que tinha que ser mantido. Hoje, o amor é importante na união de um casal e quando ele acaba há mecanismos que permitem que esse casamento se interrompa”, explicou Bacellar.
Para o bispo, o problema é que, hoje, os jovens, em especial, chegam ao casamento com uma visão um pouco simplificada e ingênua, o que acaba gerando um obstáculo na hora de viver as dificuldades do matrimônio.
“Tem um desnível entre a visão romântica do amor e a dificuldade para que essa visão seja capaz de abraçar e fazer ficar com a realidade”, explicou Dom Petrini .
Ajuda aos casais
O bispo de Camaçari disse que a Igreja está mais atenta aos casais quando eles solicitam o casamento, para avaliar sua maturidade. Ele também afirmou que a Igreja está se esforçando para acompanhar os casais, por meio da Pastoral Familiar e de outros movimentos familiares, para que eles não se sintam sozinhos quando enfrentam dificuldades.
Para evitar tantos divórcios, Dom Petrini acredita que é necessário ter mais senso crítico em relação às propostas que o mundo apresenta. Ele também enfatizou a necessidade de estar mais ligado à luz de Cristo e não temer os dramas da vida, pois eles trazem crescimento.
"Quanto mais enfrentamos um drama hoje e outro amanhã, a personalidade cresce e se fortalece e adquire uma maturidade que acaba sendo admirável inclusive como fonte de sabedoria que se comunica aos filhos e às outras pessoas”, finalizou.