Homilia - 60 anos de padre

Papa indica amizade com Jesus como "programa de vida sacerdotal"

A Santa Missa em comemoração aos 60 anos da Ordenação Sacerdotal de Bento XVI foi presidida pelo Pontífice na manhã desta quarta-feira, 29 de junho, Solenidade dos Apóstolos Pedro e Paulo, na Basílica de São Pedro.

Ao longo da cerimônia, também houve a entrega do Pálio aos novos Arcebispos Metropolitanos nomeados ao longo do último ano, entre os quais sete brasileiros.

O Papa centrou sua homilia em torno da expressão "Já não vos chamo servos, mas amigos" (cf. Jo 15, 15). Segundo o ordenamento litúrgico do tempo de sua Ordenação, essas palavras eram ditas pelo bispo ao final da cerimônia e significavam a explícita concessão aos novos sacerdotes do mandato de perdoar os pecados.

"'Já não sois servos, mas amigos': nesta frase está encerrado o programa inteiro de uma vida sacerdotal", destacou. Ele disse que tal expressão gera uma grande alegria interior, mas, ao mesmo tempo, na sua grandeza, pode fazer o sacerdote sentir ao longo dos decênios calafrios com todas as experiências da própria fraqueza e da bondade inexaurível de Deus.

"Senti-me impelido a dizer-vos uma palavra de esperança e encorajamento; uma palavra, amadurecida na experiência, sobre o fato que o Senhor é bom. Mas esta é sobretudo uma hora de gratidão: gratidão ao Senhor pela amizade que me concedeu e que deseja conceder a todos nós. Gratidão às pessoas que me formaram e acompanharam. E, subjacente a tudo isto, a oração para que um dia o Senhor na sua bondade nos acolha e faça contemplar a sua glória", expressou.

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Amizade e frutos

"O que é verdadeiramente a amizade?", questionou. E respondeu: "A amizade é uma comunhão do pensar e do querer. […] Ele conhece-me pelo nome. Não sou um ser anônimo qualquer, na infinidade do universo. Conhece-me de modo muito pessoal. E eu? Conheço-O a Ele? A amizade que Ele me dedica pode apenas traduzir-se em que também eu O procure conhecer cada vez melhor".

Segundo o Pontífice, a amizade não é apenas conhecimento, mas sobretudo comunhão do querer. "Significa que a minha vontade cresce rumo ao 'sim' da adesão à d’Ele. Na amizade, a minha vontade, crescendo, une-se à d’Ele: a sua vontade torna-se a minha, e é precisamente assim que me torno de verdade eu mesmo".

Essa expressão de Jesus sobre a amizade está no contexto do discurso sobre a videira, imagem que alude à tarefa dada aos discípulos – "Eu vos destinei, para que vades e deis fruto e o vosso fruto permaneça" (Jo 15, 16). Por isso, a primeira tarefa dada aos discípulos, aos amigos, é pôr-se a caminho: "Sair de si mesmos e ir ao encontro dos outros. O Senhor exorta-nos a superar as fronteiras do ambiente onde vivemos e levar ao mundo dos outros o Evangelho, para que permeie tudo e, assim, o mundo se abra ao Reino de Deus", afirmou.

O Bispo de Roma explicou que o fruto que o Senhor espera de nós é como o vinho, imagem do amor no discurso sobre a videira. No entanto, advertiu que o Antigo Testamento recorda que o vinho esperado das uvas boas é imagem da justiça, que existe em uma vida vivida segundo a lei de Deus.

"E não digamos que esta é uma visão veterotestamentária, já superada. Não! Isto permanece sempre verdadeiro. O autêntico conteúdo da Lei é o amor a Deus e ao próximo. Este duplo amor, porém, não é qualquer coisa simplesmente doce; traz consigo o peso da paciência, da humildade, da maturação na educação e assimilação da nossa vontade à vontade de Deus, à vontade de Jesus Cristo, o Amigo. Só deste modo, tornando verdadeiro e reto todo o nosso ser, é que o amor se torna também verdadeiro, só assim é um fruto maduro. A sua exigência intrínseca, ou seja, a fidelidade a Cristo e à sua Igreja requer sempre que se realize também no sofrimento. É precisamente assim que cresce a verdadeira alegria. No fundo, a essência do amor, do verdadeiro fruto, corresponde à palavra relativa ao pôr-se a caminho, ao ir: amor significa abandonar-se, dar-se; leva consigo o sinal da cruz".

Pálio

O Papa recordou, ao impor o pálio aos Arcebispos Metropolitanos nomeados depois da última festa dos Apóstolos, que esse significa, em primeiro lugar, o jugo suave de Cristo que é colocado aos ombros dos Pastores.

"Assim, para nós, é, sobretudo, o jugo de introduzir outros na amizade com Cristo e de estar à disposição dos outros, de cuidarmos deles como Pastores. […] Recorda-nos que podemos ser Pastores do seu rebanho, que continua sempre a ser d’Ele e não se torna nosso. […] Por fim, o pálio significa também, de modo muito concreto, a comunhão dos Pastores da Igreja com Pedro e com os seus sucessores: significa que devemos ser Pastores para a unidade e na unidade, e que só na unidade, de que Pedro é símbolo, guiamos verdadeiramente para Cristo".

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