"Com a oração, desejando o desejo de Deus, o intercessor entra sempre mais profundamente na consciência do Senhor e da sua misericórdia e torna-se capaz de um amor que chega até o dom total de si", destacou.
Enquanto Moisés encontra-se sobre o monte Sinai para receber as tábuas da Lei, aos pés do monte o povo a transgride. Incapazes de resistir à espera e à ausência do mediador, Moisés, os Israelitas desejam uma presença tangível, palpável, do Senhor, e encontram no bezerro de metal fundido um deus acessível, ao alcance do humano.
"É essa uma tentação constante no caminho de fé: contornar o mistério divino construindo um deus compreensível, correspondente aos próprios esquemas, aos próprios projetos. Aquilo que acontece no Sinai mostra toda a estupidez e a ilusória vaidade dessa pretensão", alerta.
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.: NA ÍNTEGRA: Catequese de Bento XVI sobre a oração
"Agora, deixa, pois, que se acenda minha ira contra eles e os reduzirei a nada; mas de ti farei uma grande nação" (Ex 32,10), diz Deus a Moisés. Segundo Bento XVI, é quase como que se o Senhor não quisesse agir sem a permissão de Moisés.
"Na realidade, esse 'deixa que se acenda minha ira' é dito exatamente para que Moisés intervenha e Lhe peça para não fazê-lo, revelando assim que o desejo de Deus é sempre de salvação. […] O pedido do intercessor pretende manifestar a vontade de perdão do Senhor. Essa é a salvação de Deus, que implica misericórdia, mas ao mesmo tempo denuncia a verdade do pecado, do mal que existe, e assim deseja que o pecador, reconhecido e rejeitado o próprio mal, possa deixar-se perdoar e transformar por Deus. A oração de intercessão torna-se assim operante, dentro da realidade corrompida do homem pecador, a misericórdia divina, que encontra voz na súplica do orante e se faz presente através dele ali onde há necessidade de salvação", explicou.
A súplica de Moisés centra-se sobre a fidelidade e a graça do Senhor, destacando que a obra de salvação iniciada deve ser completada. "Se Deus destruísse o seu povo, isso poderia ser interpretado como sinal de uma incapacidade divina de levar a cumprimento o projeto de salvação. Deus não pode permitir isso: Ele, o Senhor bom que salva, a garantia da vida, é o Deus de misericórdia e perdão, de libertação do pecado que mata. E, assim, Moisés apela a Deus, à vida interior de Deus contra a sentença exterior. A intercessão, de fato, deseja que o povo de Israel seja salvo, porque é o rebanho que lhe foi confiado, mas também para que naquela salvação se manifeste a verdade realidade de Deus. Amor pelos irmãos e amor por Deus se compenetram na oração de intercessão, são inseparáveis", ressalta o Papa.
Moisés apela à fidelidade de Deus e lembra-o de suas promessas. Nesse sentido, segundo o Bispo de Roma, "o intercessor não se desculpa pelo pecado de seu povo, não elenca presuntos méritos nem do povo nem seus, mas apela à gratuidade de Deus: um Deus livre, totalmente, que não cessa de buscar aquele se distanciou, que se mantém sempre fiel a si mesmo e oferece ao pecador a possibilidade de voltar a Ele e de tornar-se, com o perdão, justo e capaz de fidelidade".
Cristo
Em Moisés, que está no topo do monte face a face com Deus e se faz intercessor para o seu povo e oferece a si mesmo os Padres da Igreja viram uma prefiguração de Cristo, que do alto da cruz realmente está diante de Deus, não somente como amigo, mas como Filho.
"E não somente se oferece, mas com o seu coração transpassado se faz apagar, torna-se, como diz São Paulo mesmo, pecado, toma sobre si os nossos pecados para tornar-nos salvos; a sua intercessão não é somente de solidariedade, mas a identificação conosco: leva a todos nós no seu corpo. E assim toda a sua existência de homem e de Filho é clamor ao coração de Deus, é perdão, mas perdão que transforma e renova", explicita o Sucessor de Pedro.
Ele indica que se deve meditar frequentemente sobre a realidade de que Cristo está diante do rosto de Deus e reza por nós.
"A sua oração sobre a Cruz é contemporânea a todos os homens, contemporânea a mim: Ele reza por mim, sofreu e sofre por mim, se identificou comigo tomando o nosso corpo e a alma humana. E convida-nos a entrar nessa sua identidade, fazendo-nos um corpo, um espírito com Ele, porque do alto da Cruz Ele trouxe não novas leis, tábuas de pedra, mas a si mesmo, o seu corpo e o seu sangue, como nova aliança. Assim, faz-nos consanguíneos com Ele, identificados com Ele. Convida-nos a entrar nessa identificação, a estarmos unidos com Ele no nosso desejo de estar em um corpo, um espírito com Ele. Rezemos ao Senhor para que essa identificação transforme-nos, renove-nos, porque o perdão é renovação, é transformação", finalizou.
A audiência
O encontro do Bispo de Roma com os cerca de 20 mil fiéis reunidos na Praça de São Pedro aconteceu às 10h30 (horário de Roma – 5h30 no horário de Brasília). A reflexão faz parte da "Escola de Oração", iniciada pelo Papa na Catequese de 4 de maio.
Na saudação aos fiéis de língua portuguesa, o Papa salientou:
"Amados peregrinos de língua portuguesa, a minha saudação amiga para todos, com menção especial das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição em festa pela recente beatificação da sua Madre Fundadora. Esta queria ver-vos todas unidas num mesmo e único pensamento: Deus. No pensamento e serviço de cada uma, o hóspede seja Deus; e, com Ele, a vossa vida não poderá deixar de ser feliz. Sobre vós, vossas comunidades e famílias desça a minha Bênção".