Queridos irmãos e irmãs!
Na segunda Leitura da Liturgia de hoje, o Apóstolo Paulo sublinha a importância do trabalho para a vida do homem. Tal aspecto é também relembrado pelo "Dia de Ação de Graças", que se celebra tradicionalmente na Itália neste segundo domingo de novembro como ação de graças a Deus ao final da época das colheitas. Ainda que em outras áreas geográficas os tempos do cultivo sejam naturalmente diversos, desejo hoje valer-me das sugestões das palavras de São Paulo para algumas reflexões, em particular sobre o trabalho agrícola.
A crise econômica em curso, acerca da qual se tratou também nesses dias na reunião do assim chamado G20, deve ser abordada em toda a sua seriedade: possui numerosas causas e lança uma forte recordação a uma revisão profunda do modelo de desenvolvimento econômico global (cf. Enc. Caritas in veritate, 21). É um sintoma agudo que uniu-se a outros bem mais graves e já bem conhecidos, como o perdurar do desequilíbrio entre riqueza e pobreza, o escândalo da fome, a emergência ecológica e, agora também esse geral, o problema do desemprego. Nesse cenário, aparece de modo decisivo uma revitalização estratégica da agricultura. De fato, o processo de industrialização, por vezes, jogou sombras sobre o setor agrícola, que, embora trazendo em seu entorno o benefício do conhecimento e das técnicas modernas, contudo, perdeu importância, com notáveis consequências também sobre o plano cultural. Parece-me o momento para uma chamada a revitalizar a agricultura não no sentido nostálgico, mas como recurso indispensável para o futuro.
Na atual situação econômica, a tentação para as economias mais dinâmicas é aquela de correr atrás de alianças vantajosas que, todavia, podem tornar-se pesadas para outros Estados mais pobres, prolongando situações de pobreza extrema de massas de homens e mulheres e drenando os recursos naturais da Terra, confiada por Deus ao homem – como diz o Gênesis – a fim de que a cultive e a proteja (cf. 2,15). Além disso, apesar da crise, conta ainda que, em países de antiga industrialização, incentivam-se estilos de vida marcados por um consumo insustentável, que se tornam danosos para o ambiente e para os pobres. Deve ser perseguido, então, de modo verdadeiramente harmônico, um novo equilíbrio entre agricultura, indústria e serviços, para que o desenvolvimento seja sustentável, a ninguém faltem o pão e o trabalho, e o ar, a água e outros recursos primários sejam preservados como bens universais (cf. Enc. Caritas in veritate, 27). É fundamental, por isso, cultivar e difundir uma clara consciência ética, à altura dos desafios mais complexos do tempo presente; educar todos para um consumo mais sábio e responsável; promover a responsabilidade pessoal em conjunto com a dimensão social das atividades rurais, fundadas sobre valores perenes, como a acolhida, a solidariedade, a partilha do cansaço no trabalho. Não poucos jovens já escolheram essa estrada; também diversos laureados voltaram a dedicar-se à atividade agrícola, sentindo que respondiam assim não somente a uma necessidade pessoal ou familiar, mas também a um sinal dos tempos, a uma sensibilidade concreta com o bem comum.
Rezemos à Virgem Maria, para que essas reflexões possam servir de estímulo à comunidade internacional, enquanto elevamos a Deus o nosso agradecimento pelos frutos da terra e do trabalho do homem.
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