Ariane Fonseca
Enviada especial a Brasília
As duas últimas conferências do primeiro dia do Simpósio de Bioética, atividade inédita presente no Congresso Eucarístico Nacional 2010, abordaram o planejamento familiar e o aborto. As palestras foram feitas pela dra. Elizabeth Kipman Cerqueira e a dra. Ieda Therezinha Verreschi no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília (DF), na tarde desta sexta-feira (14). Depois de cada discurso, foram apresentados testemunhos sobre os temas abordados.
Se a partir do Concílio Vaticano II o planejamento familiar tornou-se um direito de todo casal, sem interferência do Estado ou mesmo da Igreja, levanta-se hoje o problema dos métodos adotados pelos mesmos que não desejam ter filhos além dos que foram gerados. A Igreja defende que essa não é apenas uma questão do livre-arbítrio do casal, mas uma questão ética e moral, da competência dos pastores, aos quais foi confiada por Cristo a tutela dos valores inerentes ao casamento e à vida. Foi neste contexto que a médica ginecologista Elizabeth proferiu sua palestra, fazendo um paralelo entre a sexualidade e a espiritualidade.
A palestrante defendeu que os métodos anticoncepcionais são anti-vida e que o casal que opta por esta forma de controle da natalidade está negando o potencial de fecundidade do outro. “O homem e a mulher devem aceitar o outro na sua plenitude, o que inclui a sua capacidade de gerar outra vida”, explicou.
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Elizabeth também falou sobre a encíclica ‘Humanae Vitae’, de 1968, que condena a contracepção e foi considerada um absurdo pela mídia e por grande parte da sociedade. No documento do Papa Paulo VI, a Igreja firmou a proibição ou iliceidade dos métodos artificiais de contracepção, partindo do ponto de vista ético, da dignidade humana, do direito natural e da revelação divina. Entre esses métodos estão a ligadura das trompas nas mulheres, a vasectomia nos homens, o coito interrompido, o uso de preservativos, o aborto voluntário e outros.
O Método de Ovulação Billings é o sistema natural da fertilidade mais conhecido e é aprovado pela Igreja Católica. Ele consiste em anotar diariamente em um gráfico as mudanças que observa no muco cervical e as sensações na vulva. Assim, a mulher deve passar um papel higiênico na abertura da vagina antes e depois de realizar suas necessidades e observar se aparece ou não o muco, bem como suas características.
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A última palestra do dia, da dra. Ieda Therezinha Verreschi, discutiu se os filhos são dom ou um direito do ser humano. Para começar a reflexão, a médica definiu o significado das duas palavras. “O dom é uma dádiva, um dote natural, um presente de Deus. Já o direito é algo correto, que provém da justiça”, explicou. A professora também relatou sobre a fecundação, a reprodução assistida e o aborto.
Um relatório produzido pela Universidade de Brasília (UnB) e pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) contém dados surpreendentes sobre o perfil das mulheres que abortam no país. De acordo com o documento “Aborto e saúde pública: 20 anos de pesquisas no Brasil”, divulgado em 2008, pelo menos 3,7 milhões de mulheres entre 15 e 49 anos realizaram aborto. Ou seja, 7,2% das mulheres em idade reprodutiva.
Sobre os conferencistas
A dra. Elizabeth Kipman Cerqueira é médica ginecologista-obstétrica, especialista em Logoterapia e Logoteoria aplicada à Educação, integrante da Comissão de Ética e coordenadora do Departamento de Bioética do Hospital São Francisco, em Jacareí (SP). Além disso, é diretora do Centro Interdisciplinar de Bioética da Associação ‘Casa Fonte da Vida’ e membro da Comissão de Bioética da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
A dra. Ieda Therezinha do Nascimento Verreschi é médica pela Universidade Federal de Santa Maria, com especialização em Endocrinologia pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Possui mestrado em Farmacologia pela Universidade Federal de São Paulo e doutorado em Farmacologia pela mesma universidade. Atualmente, é professora associada da Universidade Federal de São Paulo (Departamento de Medicina), redatora responsável da Sociedade Brasileira de Endocrinologia Metabologia e membro da Comissão de Bioética da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
Concerto Sinfônico
Para encerrar as atividades do primeiro dia do Simpósio de Bioética, a Orquestra do Teatro Nacional de Brasília fez um concerto sinfônico especialmente para os participantes desta atividade e do Simpósio Teológico, para os bispos do Brasil e para autoridades do governo federal no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. A apresentação, considerada a atividade artística mais importante do CEN 2010, contou com os três primeiros movimentos da sinfonia de Bethoven. A orquestra é composta por cerca de 80 músicos.
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