Atividades do evento global em Belém (PA) incluem definição de critérios de adaptação, alerta para emissão recorde de gases de efeito estufa e captação de recursos
Da Redação, com Vatican News

Centro de Conveções da COP30 em Belém / Foto: Raimundo Pacco/COP30
Transcorridos cinco dias desde o seu início, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30) enfrenta seus principais desafios: a definição de critérios de adaptação e discussão sobre as finanças públicas dos países participantes.
O presidente da COP30, André Corrêa do Lago, comentou que os negociadores estão analisando os 145 pontos da agenda da conferência com um “espírito construtivo”, considerando o difícil contexto geopolítico. Uma das missões é estabelecer uma lista unificada de critérios para mediar, monitorar e avaliar o progresso das ações de adaptação à emergência climática.
Segundo fontes locais, o grupo de países africanos pretende prolongar os trabalhos técnicos por mais de dois anos e adiar a decisão final para 2027, algo que é visto com preocupação por outras nações.
Alerta para emissões de gases de efeito estufa
As emissões globais de gases de efeito estufa atingirão 38,1 bilhões de toneladas em 2025, estabelecendo um novo recorde no ano que marca o décimo aniversário do Acordo de Paris. Essa é a previsão do Global Carbon Project (GCP), um programa que reúne mais de 100 cientistas de 80 instituições do mundo todo, contida em uma análise apresentada na COP30.
O documento alerta para as emissões de petróleo, gás e carvão, que devem crescer mais de 1% em comparação com 2024. Para o GCP, os dados destacam a discrepância entre os compromissos assumidos em 2015 na capital francesa e a atual trajetória climática global.
Na COP30, limitar o aumento da temperatura a 1,5ºC é apontado como o tema central das negociações. O objetivo é garantir condições climáticas seguras para as futuras gerações na Amazônia, área que representa uma das frentes mais sensíveis da crise climática.
Combate à desinformação
Cerca de 400 organizações científicas, ambientais e sociais lançaram um apelo aos negociadores da COP30 exigindo “ação imediata e vinculativa” para deter a crescente onda de desinformação sobre as mudanças climáticas.
O pedido consta em uma carta pública assinada por mais de 375 personalidades e ONGs. Nela, denunciam que a disseminação de notícias falsas e conteúdo climático manipulado mina a confiança pública, dificulta a adoção de políticas eficazes e retarda a transição energética.
A carta acusa a indústria de combustíveis fósseis de financiar campanhas coordenadas de desinformação com o objetivo de criar “uma percepção artificial de divisão e apatia” e desacreditar as soluções de energia renovável. Pela primeira vez, o tema da desinformação foi oficialmente incluído na agenda de negociação de uma Conferência sobre o Clima das Nações Unidas.
Captação de recursos para Fundo do Clima
O Brasil anunciou a captação de mais de 3,4 bilhões de euros (cerca de 21 bilhões de reais) para o Fundo do Clima, graças a novos acordos assinados durante a COP30. O anúncio foi feito pelo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloízio Mercadante, que classificou a operação como “uma das maiores iniciativas de financiamento verde do mundo”.
Os recursos provêm de instituições de desenvolvimento da Itália, Alemanha, França, Japão e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O anúncio ocorre uma semana após a primeira fase de financiamento, na qual o Tesouro Nacional colocou 1,5 bilhão de dólares em “green bonds” – títulos de dívida destinados a financiar projetos ambientais e apoiar a transição energética – no mercado internacional.
Os recursos do Fundo do Clima serão destinados a programas de redução de emissões, proteção da biodiversidade e expansão de energias renováveis. Segundo o governo, este é um passo concreto para consolidar o papel do Brasil como líder na transição energética global, tema central da COP30.
Integração de sistemas de monitoramento
Os países amazônicos anunciaram um novo sistema conjunto de monitoramento florestal para fortalecer o combate ao desmatamento e à degradação ambiental.
A iniciativa, apresentada nesta quinta-feira, 12, será coordenada pela Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) e financiada com 55 milhões de reais, do Fundo Amazônia gerido pelo BNDES.
O projeto visa integrar os sistemas nacionais de observação florestal dos membros da OTCA – Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela –, unificando metodologias e dados científicos.
Manifestação fluvial
Cerca de 200 barcos desfilaram nesta quinta-feira, 13, pelas águas de Belém (PA) para denunciar a exploração dos rios da Amazônia e o impacto da expansão do setor agropecuário sobre a floresta. A navegação coletiva marcou a abertura da Cúpula dos Povos Indígenas e Movimentos Sociais, realizada paralelamente à COP30 como um espaço de protesto e debate sobre políticas ambientais globais.
A flotilha, segundo os organizadores, visa “mostrar a força do povo” e propor alternativas sustentáveis como a agroecologia. A balsa Imperatriz liderava o movimento, transportando um grupo de líderes indígenas, ativistas e pescadores de Sinop (MT), a “capital da soja” brasileira, que se manifestaram contra os planos do governo de usar os rios da Amazônia para o transporte agrícola.




