Leão XIV disse que hoje a missão não consiste só em “partir”, mas também em “ficar” para anunciar Cristo através do acolhimento, compaixão e solidariedade
Da redação, com Vatican News

Papa Leão XIV na Missa do Jubileu dos Migrantes e Missionários / Foto: Reprodução VaticanNews
Por ocasião do Jubileu dos Migrantes e dos Missionários, o Papa Leão XIV presidiu, neste domingo, 5, a Santa Missa na Praça São Pedro, no Vaticano. Aproximadamente 30 mil fiéis participaram da celebração.
“Estamos aqui porque, junto ao túmulo do Apóstolo Pedro, cada um de nós deve poder dizer com alegria: toda a Igreja é missionária”, afirmou o Pontífice e citou uma frase do Papa Francisco: “É urgente que a Igreja saia para anunciar o Evangelho a todos, em todos os lugares, em todas as ocasiões, sem demora, sem repulsa e sem medo.”
O silêncio de Deus e a força da fé
Comentando as palavras do profeta Habacuque: “Até quando, Senhor, implorarei ajuda e não me ouvirás?” (cf. Hab 1, 2), o Papa recordou a experiência da dor que atravessa a humanidade diante da injustiça. “Este grito de dor é uma forma de oração que permeia toda a Escritura”, disse, evocando também as palavras de Bento XVI em Auschwitz: “Deus permanece em silêncio, e esse silêncio dilacera a alma do orante”. Contudo, Leão XIV destacou que a resposta do Senhor é promessa de esperança: “O justo viverá pela sua fé” (cf. Hab 2, 4).
O Papa afirmou que “a fé não se impõe com meios de poder e de maneiras extraordinárias; basta um grão de mostarda para fazer coisas impensáveis, porque traz em si a força do amor de Deus que abre caminhos de salvação […] que cresce lentamente quando nos tornamos ‘servos inúteis’, ou seja, quando nos colocamos a serviço do Evangelho e dos irmãos sem buscar nossos interesses, mas apenas para levar ao mundo o amor do Senhor”.
“Com essa confiança, somos chamados a renovar em nós o fogo da vocação missionária. Como afirmou São Paulo VI, ‘devemos, pois, anunciar o Evangelho, neste extraordinário período da história humana, época realmente sem precedentes, na qual, aos vértices do progresso, nunca dantes atingidos, se associam abismos de perplexidade e desespero, também eles sem precedentes'”.

Cerca de 30 mil pessoas participaram da Celebração na Praça São Pedro / Foto: Reprodução Vatican News
Nova era missionária
“Irmãos e irmãs, hoje inaugura-se na história da Igreja uma nova era missionária”. O Santo Padre destacou que, se no passado a missão era muitas vezes associada ao “partir” para terras distantes, hoje “as fronteiras da missão já não são geográficas”, porque a pobreza, o sofrimento e o desejo de uma esperança maior “vêm ao nosso encontro”.
“Aqueles barcos que desejam avistar um porto seguro onde atracar e aqueles olhos cheios de angústia e esperança que procuram terra firme onde desembarcar não podem nem devem encontrar a frieza da indiferença ou o estigma da discriminação!”, afirmou.
Segundo o Papa, não se trata de “partir”, mas de “ficar” para anunciar Cristo através do acolhimento, da compaixão e da solidariedade. “Ficar sem nos refugiarmos no conforto do nosso individualismo, ficar para olhar nos olhos aqueles que chegam de terras distantes e martirizadas, ficar para lhes abrir os braços e o coração”.
Dois grandes compromissos
Leão XIV destacou que “tudo isso exige pelo menos dois grandes compromissos missionários: a cooperação missionária e a vocação missionária.”
O Pontífice insistiu na importância de uma renovada cooperação missionária entre as Igrejas: “a presença de tantos irmãos e irmãs do sul do mundo deve ser encarada como uma oportunidade para um intercâmbio que renove o rosto da Igreja e suscite um cristianismo mais aberto, vivo e dinâmico”.
Ele destacou também que “todo missionário que parte para outras terras é chamado a habitar as culturas que encontra com sagrado respeito, direcionando para o bem tudo o que encontra de bom e nobre, e levando-lhes a profecia do Evangelho”.
O Papa recordou ainda “a beleza e a importância das vocações missionárias”, e dirigindo-se especialmente à Igreja europeia disse: “hoje há necessidade de um novo impulso missionário, de leigos, religiosos e presbíteros que ofereçam o seu serviço nas terras de missão, de novas propostas e experiências vocacionais capazes de suscitar este desejo, especialmente nos jovens”.
Deus salva o seu povo
No final da homilia, Leão XIV dirigiu-se diretamente aos migrantes: “Sejam sempre bem-vindos! Os mares e desertos que atravessaram são lugares de salvação, onde Deus se fez presente para salvar o seu povo. Desejo que encontrem esse rosto de Deus nas missionárias e missionários que encontrarão”.
Confiando todos à intercessão de Maria, “primeira missionária do seu Filho”, o Papa pediu que ela sustente a Igreja na construção de um Reino de amor, justiça e paz.