Proclamado Doutor da Igreja, santo italiano marcou teologia moral ao propor análise baseada nas circunstâncias, na liberdade individual e na consciência
Gabriel Fontana
Da Redação

Santo Afonso Maria de Ligório / Foto: Reprodução Diocese de Formosa
Um homem do equilíbrio: assim pode ser definido Santo Afonso Maria de Ligório, celebrado nesta sexta-feira, 1º de agosto. Proclamado padroeiro dos moralistas e confessores, o santo italiano também foi reconhecido como Doutor da Igreja, recebendo o título de Doutor da Moral.
O missionário redentorista, padre Evaldo de Souza, recorda que Afonso era um “jovem prodígio”, formando-se em direito civil e eclesiástico com apenas 16 anos. Entretanto, com situações de encontro com a miséria do povo de Nápoles, sua cidade-natal, Afonso se sentiu chamado a deixar os tribunais para se tornar um sacerdote.

Padre Evaldo de Souza / Foto: Arquivo pessoal
Segundo padre Evaldo, o ministério de Santo Afonso foi marcado pelo apostolado prático entre os pobres e, ao mesmo tempo, pela sua formação intelectual sólida. Refletindo-se especialmente sobre a teologia moral cristão, o religioso italiano tornou-se uma referência para a Igreja com um legado que ecoa até os dias atuais.
“A grande contribuição de Santo Afonso Maria de Ligório para a moral cristã foi a capacidade com que ele conseguiu chegar em um equilíbrio aquilo que era uma teologia moral muito rigorista, extremamente marcada pela noção da culpa, da condenação, do pecado e do inferno, e, de outro lado, aquilo que era o laxismo – ou seja, o ‘tudo pode’, sem nenhum tipo de preocupação com o pecado”, comenta o redentorista.
Um homem do equilíbrio
Diante desses extremos, prossegue padre Evaldo, o santo italiano propôs aquilo que a teologia chama de equiprobabilismo. “Trata-se da possibilidade de chegar, em questões morais, em um meio termo, uma síntese, onde o Evangelho e a consciência humana possam conversar, dialogar e chegar a conclusões mais sábias, maduras e verdadeiras diante de situações morais simples ou graves”, explica.
Este conceito baseia-se na presença de Deus, na consciência humana e na liberdade de decisão. “A partir dessa tríade, Santo Afonso é o homem do diálogo. Ele é o homem da reflexão, ele é o homem da busca da verdade sem extremismos, sem respostas fáceis para problemas difíceis”, comenta o missionário redentorista.
Para padre Evaldo, essa noção obriga o bom teólogo moral a debruçar-se longamente sobre determinados assuntos e considerar a existência (ou não) de situações de pecado. “Afonso dizia muito que, diante do mal moral, era preciso partir sempre da valorização do ser humano e das virtudes mais do que do pecado e levar em conta a circunstância em que o mal moral foi praticado”, observa.
“Santo Afonso era um homem do equilíbrio, da busca sistemática, correta e verdadeira daquilo que poderia conduzir o ser humano muito mais para a misericórdia de Deus do que para a condenação do pecado”, acrescenta o sacerdote. Neste contexto, o santo italiano acreditava que a oração, a participação na Eucaristia e a busca dos sacramentos são formas eficazes de afastar o ser humano do pecado.
Orientações práticas

Padre Leonardo Ribeiro / Foto: Canção Nova
Missionário da Comunidade Canção Nova, padre Leonardo Ribeiro nutre profunda devoção a Santo Afonso Maria de Ligório. Ele destaca como as orientações práticas deixadas pelo santo italiano ajudam a nortear a vida espiritual dos cristãos e o seu ministério sacerdotal.
Ele recorda que conheceu os escritos de Santo Afonso Maria de Ligório quando estava no seminário. À época, seu diretor espiritual pediu que ele lesse A Prática do Amor a Jesus Cristo. “A partir desse livro, eu pude crescer, me aprofundar na fé, na minha relação com Jesus Cristo, amando-O de todo o coração e, a partir desse amor por Ele, também poder viver as realidades, enquanto na relação com o próximo”, partilha padre Leonardo.
O sacerdote aponta que o modo do santo italiano de orientar as pessoas é um dos aspectos que mais chamou sua atenção. “A forma que Santo Afonso ensina, por meio de seus escritos, no seu modo de escrever muitas vezes duro, severo, firme, justamente nos leva à reta consciência, ao bom caminho, a retomar o bom caminho”, exprime.
Padre Leonardo ressalta ainda outros escritos que Santo Afonso Maria de Ligório deixou como legado. Ele cita, além dos preciosos ensinamentos sobre os sacramentos da Eucaristia e da Confissão, obras como Tratado da Castidade, que aborda questões da afetividade e da sexualidade humana, e Glórias de Maria, que expressa o amor do sacerdote italiano por Nossa Senhora.
Ensinamentos que permanecem atuais
Com todos esses ensinamentos, padre Evaldo ressalta como Santo Afonso Maria de Ligório pode contribuir com a humanidade ainda nos dias de hoje. “Estamos em tempos de absoluta necessidade de ouvir mais e falar menos, refletir mais e julgar menos”, reflete. É neste cenário que a proposta do santo italiano de acolher o Evangelho a partir da realidade da vida se torna ainda mais atual.
“A linha de reflexão que ele nos deixou dentro da teologia moral nos abre a uma perspectiva de considerar o Evangelho como aquilo que o Evangelho é: a busca da vida, do amor, da misericórdia para todos”, conclui o redentorista.