Infectologista recordou experiência que ele e a equipe médica tiveram com o Papa, durante internação do Pontífice no Hospital Gemelli
Da redação, com Vatican News

Papa Francisco durante a oração do Angelus / Foto: REUTERS/Yara Nardi
O diretor da Unidade Operatória de Doenças Infecciosas da equipe médica que tratou Francisco durante sua internação no Hospital Gemelli, Dr. Carlo Torti, recordou as últimas semanas do Pontífice: da sua admissão no local até o abraço do Sucessor de Pedro ao mundo no Domingo de Páscoa, 20.
“Quando chegou a notícia de que iríamos cuidar do Papa, o impacto emocional foi muito intenso em todos nós. Fomos chamados a seguir uma pessoa que representava um ponto de apoio espiritual e moral para o mundo inteiro. Na primeira consulta toda essa preocupação foi resolvida, amenizada, na medida em que a atitude diante do sofrimento que ele demonstrava em relação a nós era a de qualquer paciente que se relaciona de forma equilibrada com o médico”, contou.
O infectologista destacou a extrema confiança demonstrada pelo Santo Padre na equipe do hospital: “Ele também ajudou muito no processo de tratamento. Fomos muito coesos e muito focados em suas necessidades, não só físicas, mas também humanas”.
A proximidade, o aperto de mão, como para todos os outros pacientes, é algo considerado muito importante pelo médico. “A reciprocidade era tanta que o Papa representava também para nós um guia, com as suas necessidades físicas e psicológicas que, na medida do possível, procurávamos levar em conta”.
Terços da Terra Santa
Torti contou que, em várias ocasiões, Francisco deu à equipe do Gemelli um terço, original da Terra Santa. Esta observação não foi casual, o médico reforçou que mesmo nesses momentos, o Papa tinha bem presente a fragilidade do mundo.
Nos seus momentos de fragilidade pessoal, o Pontífice usava estas referências para pensar nos outros, nas pessoas mais necessitadas, explicou o infectologista. “Evidentemente, a sua dimensão espiritual tendia mais para o próximo”, afirmou.
“Uma pessoa que identificava bem as necessidades, não só materiais, das pessoas e procurava apoiá-las num sentido global. Perdemos efetivamente um ponto de referência neste mundo que parece ter cada vez menos”.
Papa foi “cura” para a equipe médica
Cada vez que a equipe médica entrava no quarto de Francisco para a consulta, Torti comentou que o Pontífice deixava todos confortáveis, especialmente nos momentos mais exigentes. Segundo ele, está é também uma espécie de “clareza” metafórica que o Pontífice transmitia.
“Claro que houve momentos em que ficamos muito preocupados, algumas quedas, mas o fato de termos criado uma equipe, e de ele próprio a ter cimentado, foi um pouco a nossa cura. Nós fornecemos a ele uma cura, mas ele forneceu uma cura para toda a equipe”, refletiu.
O médico frisou que o Santo Padre foi um doente que teve uma boa relação com as pessoas que o trataram. “Os médicos também gostam disso”. Em suma, ele comentou que Francisco foi um tecelão até o fim, e “talvez no momento mais crítico da sua saúde”. “É algo que nunca esquecerei”.
Preocupação com o mundo
Torti enfatizou como o Papa conseguiu gerar uma atmosfera serena, quase como se quisesse “desmistificar” sua pessoa. Ele também expressou isso na audiência no Vaticano, em 16 de abril, quando recebeu o grupo de dirigentes e funcionários do Gemelli, da Universidade Católica e da Direção de Saúde e Higiene da Cidade do Vaticano.
“Ele se apresentava como um ponto de referência não tanto por sua autoridade, mais por sua credibilidade. Vocês entendem que os grandes são grandes quanto mais se abaixam e se fazem entender pelas pessoas que interagem com eles. Para mim, esta continua sendo uma das características mais importantes do Papa Francisco: fazer-se próximo e abaixar-se ao nível dos outros, mesmo em momentos em que se pensaria apenas na própria integridade física”.
Olhando para o período de recuperação do Pontífice, o infectologista teve a percepção de que ele era “um paciente certamente apegado à vida e ao seu valor, mas também muito aberto à vontade de Deus”. “É algo que, na minha opinião, lhe deu serenidade”.
“Certamente, mesmo quando sentia dispneia e lutava para respirar, era evidente que a respiração que mais o interessava não era a sua própria, mas a respiração no mundo e para o mundo. Até o fato de se imergir na multidão era como lançar seu coração para além daquele obstáculo da respiração, em direção à respiração do mundo”, concluiu.