O Santo Padre foi o escolhido como vencedor da edição de 2023 do prestigiado prêmio italiano “E’ Giornalismo”, criado em 1995 por jornalistas renomados
Da redação, com Vatican News
O prêmio “E’ Giornalismo”, criado por um grupo de jornalistas italianos de renome internacional em 1995, é atribuído a personalidades influentes da imprensa e televisão italiana e a jornalistas que moldaram a narrativa na Itália com objetividade, profissionalismo e criatividade.
Num discurso dirigido à delegação que lhe entregou o prêmio neste sábado, 26, o Papa Francisco disse que, embora sempre tenha recusado este tipo de oferta, optou por aceitá-la para enaltecer “a urgência de uma comunicação construtiva, que promova a cultura de encontro e não de confronto; a cultura da paz e não da guerra; a cultura da abertura ao outro e não do preconceito.”
Combater a desinformação
Em seguida, o Sucessor de Pedro lançou um pedido de ajuda: “Numa altura em que todos parecem comentar tudo, mesmo independentemente dos fatos e muitas vezes antes mesmo de serem informados é preciso cultivar o princípio da realidade, da fatos”, afirmou.
A desinformação, acrescentou o Papa, é um dos pecados do jornalismo, dos quais ainda citou outros quatro: “a desinformação, quando o jornalismo não informa ou informa mal; calúnia (…); a difamação, que é diferente da calúnia, mas destrói; e a quarta é a coprofilia, ou seja, o amor ao escândalo, à sujeira, escândalo que vende”.
Para combater a desinformação, continuou, quem trabalha na comunicação precisa difundir uma cultura do encontro, uma cultura do diálogo, uma cultura da escuta do outro e suas razões.
Alertou para os riscos implícitos na cultura digital, que, segundo ele, trouxe-nos tantas novas possibilidades de troca, mas corre o risco de transformar a comunicação em slogans.
Não à orientação da opinião pública com notícias falsas
A verdadeira comunicação, disse ele, baseia-se sempre na apresentação dos fatos de ambos os lados. Francisco expressou preocupação com “as manipulações daqueles que propagam notícias falsas de forma interessante para orientar a opinião pública”.
Num momento em que a Europa ainda segue com a guerra na Ucrânia, o Santo Padre apelou: “Por favor, não cedamos à lógica da oposição, não sejamos influenciados pela linguagem do ódio”.
“A minha esperança é que seja dado espaço às vozes da paz, àqueles que se esforçam por pôr fim a este e a tantos outros conflitos, àqueles que não cederam à lógica ‘cainista’ da guerra, mas continuam, apesar de tudo, a seguir na lógica da paz, na lógica do diálogo e na lógica da diplomacia”, ponderou.
Sínodo
Finalmente, o Pontífice abordou o próximo Sínodo sobre a Sinodalidade que a Igreja se prepara para realizar em outubro, e apelou aos jornalistas para ajudarem a Igreja a “redescobrir a palavra juntos”.
“Dentro de pouco mais de um mês, bispos e leigos de todo o mundo se reunirão aqui em Roma para um Sínodo sobre sinodalidade: ouvir juntos, discernir juntos, rezar juntos”, explicou, observando que a palavra ‘juntos’ é muito importante numa cultura de exclusão.
Reconhecendo que falar de um “Sínodo sobre a Sinodalidade” pode parecer um tanto “abstruso, autorreferencial, excessivamente técnico, de pouco interesse para o público em geral”, o Papa explicou que o que está acontecendo com o caminho sinodal da Igreja é algo verdadeiramente importante à Igreja.
“Por favor, acostumemo-nos a ouvir uns aos outros, a conversar, a não cortar cabeças por uma palavra. Ouvir, discutir com maturidade. Esta é uma graça que todos precisamos para seguir em frente. E é algo que a Igreja hoje oferece ao mundo, um mundo muitas vezes tão incapaz de tomar decisões, mesmo quando a nossa própria sobrevivência está em jogo. Estamos tentando aprender uma nova forma de viver relacionamentos, ouvindo uns aos outros para ouvir e seguir a voz do Espírito”, observou.
Reiterando que os participantes do Sínodo querem contribuir juntos à construção de uma Igreja em que todos se sintam em casa, em que ninguém seja excluído, Francisco reiterou seu pedido “aos mestres do jornalismo” para ajudar a “dizer como este processo realmente é, deixando por trás da lógica dos slogans e das histórias pré-concebidas”, finalizou.