De acordo com o Ministério da Saúde, até 2040 haverá um aumento de 250% das vítimas de doenças vasculares, que podem ser evitadas com um estilo de vida saudável
Thiago Coutinho
Da redação
Foto: JPC-PROD by GettyImages.
Neste mês é celebrada a campanha Agosto Azul e Vermelho, nome dado às iniciativas de prevenção das doenças vasculares . As cores escolhidas, azul e vermelho, representam a circulação venenosa e arterial, respectivamente.
No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, 300 mil pessoas sofrem Infarto Agudo do Miocárdio (IAM), ocorrendo óbito em 30% desses casos. Até 2040, as autoridades estimam que haverá aumento de até 250% desses eventos no País.
“As doenças vasculares podem ser congênitas, hereditárias. A partir da idade adulta, muitas pessoas começam a desenvolver varizes. E a partir de uma idade mais avançada, começam a aparecer as obstruções arteriais”, explica o médico e professor pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e membro do conselho científico da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV), Ricardo Aun.
O sistema vascular, segundo o médico, é constituído basicamente das veias, artérias e dos vasos linfáticos. “As artérias levam o sangue oxigenado para todo o organismo, para distribuir nutrientes e oxigênio. As veias fazem o retorno venoso dos tecidos com o sangue já pobre de oxigênio, uma vez que foram deixados pelos tecidos e órgãos. E precisam retornar às veias mais próximas ao coração e sua cavidade direita. As artérias saem da aorta (exceção das pulmonares), formam um cajado desde o coração e vai distribuindo por ramos entre cabeça, diafragma, irriga todos os órgãos digestivos, rins e vai para as pernas”, detalha o especialista.
Não ao tabagismo
Indivíduos que possam ter fatores de risco por doenças como diabetes, hipercolesterolemia (presença de taxas elevadas de colesterol no sangue) e hereditariedade precisam ser mantidos sob algum controle. O hábito de fumar deve ser absolutamente evitado por essas pessoas. “Não é diminuir, é não fumar. O hábito de fumar está diretamente ligado à perda de membros por grangrena. O controle do colesterol hoje em dia pode ser feito por meio de drogas modernas”, afirma Ricardo Aun.
Os problemas relacionados à vascularização serão mantidos sobre controle com o uso desses remédios. Outro hábito importante a ser praticado são os exercícios físicos — especialmente os aeróbicos. Marchar no chão mesmo, na rua, no parque, fazer uma caminhada promoverá a abertura de novos vasos chamados de circulação colateral. “Essa circulação tem a propriedade de, mesmo com uma obstrução parcial ou completa, uma boa circulação colateral diminui esta obstrução. Já vi doentes com obstrução intensa, que começavam a andar com dor, insistiram e hoje andam até dois quilômetros”, aconselha.
Aneurismas
Segundo o médico, aneurismas também podem acometer o sistema vascular. Aun explica que a parede da artéria é como um tubo com três camadas. “Quando a camada interna, conhecida como média, perde as forças, o local vai se dilatando. Tomo de exemplo a figura de um pneu com câmara rasgado e um ponto dela saindo e formando uma dilatação. A pressão dentro desta dilatação pode levar a uma ruptura”.
Uma curiosidade: nas panturrilhas, conhecidas como coração venoso da perna, a musculatura se contrai. “E estas veias dilatadas, o retorno venoso, com essa contração e com as caminhadas também se torna mais eficaz”, adverte. Exercícios de musculação específicos para as panturrilhas também são ótimos, pois fazem com que o sangue seja mandado de volta ao coração com mais facilidade.
Hábitos saudáveis
Os hábitos saudáveis — que englobam alimentação, exercícios periódicos, boas horas de sono etc. —, são essenciais para que as doenças vasculares não surjam. “Verduras, leguminosos ajudam a elevar o colesterol bom. Já o colesterol ruim, os triglicérides, são causados por gorduras animais. Não é necessário restringi-las por completo, mas é necessário uma alimentação balanceada, prestigiando legumes, frutas etc.”, aconselha.
Carboidratos, massas, açúcares também não ajudam. “Não precisa parar, mas use-os de forma moderada”, pondera.
As varizes também são doenças comuns em quem sofre com as doenças vasculares e são preocupantes. “Podem trazer mais inchaços, dores e complicações maiores. Há tratamentos clínicos das complicações, como úlceras. Ou mesmo cirúrgico. Temos tratamentos com injeção de espuma, uma droga que forma uma espuma com microbolhas que irritam a parede da veia e podem ser usadas em casos de pessoas que não se preocupam muito com estética, mas se preocupam com o lado funcional. É mais eficaz neste sentido”, detalha.
Outra técnica muito utilizada é o laser endovascular, um catéter que gera calor e cauteriza as veias por dentro, que se fecham. “É a técnica que mais tem ganhado espaço”, finaliza o médico.
