JOVENS

Francisco: “a participação é o bálsamo para as feridas da democracia"

O Santo Padre recebeu na manhã deste sábado, 18, na Sala Clementina, no Vaticano, os jovens participantes no “Projeto Policoro” da Conferência Episcopal Italiana (CEI)

Da redação, com Vatican News

Em seu discurso, o Papa disse que este encontro lhe dá a oportunidade de incentivar o caminho de formação sócio-política, que dá continuação ao “Projeto Policoro” da Igreja italiana. Aqui, aproveitou para ressaltar: “A exigência deste caminho veio de baixo, do seu desejo de se formar para o serviço à sociedade e à política, como também, por sua vez, poder colaborar para a formação de outros jovens”.

A seguir, o Santo Padre recordou o tema que os jovens escolheram, este ano, para seu encontro: a paz. Trata-se, disse, de um tema que não pode faltar na formação sócio-política e, infelizmente, também se torna urgente na conjuntura atual. E acrescentou:

A guerra, caríssimos, é resultado da falência da política. Ela se alimenta com o veneno que considera o outro como inimigo. A guerra nos faz tocar com a mão a absurdidade da corrida aos armamentos e seu uso para resolver os conflitos. Por isso, é preciso de uma ‘política melhor’, que pressupõe, precisamente, o que vocês estão fazendo, ou seja, se educar à paz. Esta é uma responsabilidade de todos”.

A este respeito, Francisco frisou que “a política não goza de boa fama, principalmente entre os jovens. E elencou algumas de suas muitas causas: corrupção, ineficiência, distância na vida das pessoas”.

“Eis porque é preciso ainda mais de uma boa política, que depende das pessoas, como nas administrações locais: uma coisa é ter um prefeito ou vereador disponível e a outra é ser inacessíveis; uma coisa é a política, que vê a realidade e dá atenção aos pobres e a outra é a que se tranca em suas sedes”.

A propósito, Francisco citou o episódio bíblico do rei Acab e a vinha de Nabot, comentado por Santo Ambrósio, que pode ser útil para a formação dos jovens do “Projeto Policoro”: “A política, que exerce o poder para dominar e não para servir, não é capaz de cuidar dos pobres, pelo contrário, os pisoteia, tira proveito da terra e enfrenta os conflitos com a guerra”.

Mas, o Papa citou ainda outro exemplo bíblico, desta vez positivo, que se refere à figura de José, filho de Jacó que, como se sabe, foi vendido como escravo por seus irmãos invejosos e levado para o Egito. Ali, ao ser libertado, passa a servir o Faraó, como uma espécie de vice-rei. José não age como mestre, mas como pai: cuida do país, sobretudo, nos momentos de maior carestia.

Diante da fome do povo, pensou ao bem comum, tanto que o Faraó disse: “Façam tudo o que José lhes disser”, a mesma frase que Maria disse aos servos nas Bodas de Caná referindo-se a Jesus. Enfim, José, que passou por injustiças, buscou apenas os interesses do povo, foi um pacificador e renovou a sociedade.

Estes dois exemplos bíblicos, um negativo e outro positivo, disse o Papa aos presentes, levam-nos a entender qual espiritualidade que pode alimentar a política: a ternura e a fecundidade.

“A ternura é o amor que se torna concreto, como fizeram tantos homens e mulheres corajosos. A fecundidade é composta de partilha, visão profética, diálogo, confiança, compreensão, escuta, tempo e respostas concretas. Significa encarar o futuro e investir nas gerações futuras”.

O Santo Padre concluiu seu discurso aos jovens do “Projeto Policoro” da Igreja italiana levantando questões, que todo bom político deve-se fazer, sobre seu trabalho, o trato com as pessoas, e a paz social semeada. A preocupação do político não deve ser o pacto eleitoral ou seu sucesso pessoal, mas envolver as pessoas, levando-as a participar da comunidade. Por isso, Francisco disse: “A participação é o bálsamo para as feridas da democracia”.

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