Jornalista brasileira comenta relação de Bento XVI com o Papa Francisco, suas aparições públicas, renúncia ao pontificado e sua trajetória como teólogo
Julia Beck
Da redação
O Papa Emérito Bento XVI completa 94 anos nesta sexta-feira, 16. Desde a sua renúncia, em 28 de fevereiro de 2013, o Pontífice tem feito o que se propôs a fazer: vem dedicando-se a uma vida de recolhimento e oração.
A informação é da vaticanista e pesquisadora de História do Catolicismo na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, Mirticeli Medeiros.
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O mosteiro Mater Ecclesiae é a atual residência de Bento XVI desde 2013. As aparições públicas do Papa Emérito são poucas.
Segundo Mirticeli, o Pontífice costuma receber o Papa Francisco e os cardeais após consistórios. “Francisco faz questão de apresentá-lo aos novos cardeais como sinal de respeito”.
Papa Francisco e Papa Bento XVI
A vaticanista comenta que o contato entre o atual Papa e Bento XVI era maior no início do pontificado de Francisco. “Hoje em dia, para preservá-lo, preservar a sua saúde, seu ritmo de vida, Papa Francisco tem evitado dar mais trabalho a ele.”
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A colaboração entre os Papas aconteceu e atualmente ocorre de maneira mais direta, pontuou a jornalista brasileira.
“Inicialmente, Francisco pediu a Bento XVI alguns conselhos relacionados a viagens, reforma da Cúria Romana”, comentou.
Visita ao irmão na Alemanha
Uma das últimas aparições do Papa Emérito foi durante viagem à Alemanha no dia 18 de junho do ano passado. Na ocasião, o Pontífice visitou seu irmão, o padre e maestro católico, Georg Ratzinger.
Georg faleceu no dia 1 de julho, poucos dias depois de receber a visita de seu irmão em Regensburg. O padre era o único membro da família de Bento XVI ainda vivo.
Renúncia
A renúncia de Bento XVI ficará marcada para sempre na história de seu pontificado e também na história da Igreja. O ato é significativo, comenta Mirticeli, diante da predominância do carreirismo na sociedade.
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“Ver um Papa que, depois de um certo tempo, se retira, coloca o seu cargo à disposição, admitindo inclusive a sua impossibilidade de levá-lo adiante é algo significativo, sobretudo neste tempo em que vivemos”, observou.
O impacto da decisão do Papa Emérito também se deve pela opção por uma via pouco seguida na história da Igreja. “Em pouquíssimas situações, os papas renunciaram, e sempre sob uma pressão muito maior”.
Bento XVI fez isso em sã consciência. A vaticanista reforça que o Papa era muito capaz de conduzir a Igreja, mas sentiu que era o momento de se retirar, de terminar sua vida em estilo monástico.
Razões da Renúncia
Mirticeli afirma que era visível o desgaste emocional e físico que Bento XVI vinha sofrendo nos últimos anos de pontificado. Em sua viagem ao México, em 2012, a vaticanista afirma que o Papa Emérito deu sinais claros de que algo não ia bem.
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O Pontífice assumiu o papado com uma certa idade, lembrou a jornalista brasileira. “Ele vinha de um ritmo de trabalho intenso. Era praticamente o “número dois” no Vaticano na época de João Paulo II”, pontuou também.
Para Bento XVI, de acordo com Mirticeli, o pontificado deveria ser assumido por alguém mais jovem, que tivesse maior capacidade de conduzir a Igreja naquele período.
Teólogo
O Papa Emérito tem uma trajetória também como teólogo. A vaticanista recordou que ele foi perito do Concílio Vaticano II e vem de uma carreira acadêmica consolidada. “Sua inteligência, capacidade de interação, abertura ao diálogo e capacidade de conciliar fé e razão chamaram atenção dos papas”.
Papa João XXIII foi quem o chamou como perito do Concílio Vaticano II. Papa Paulo VI o convocou para que fosse a Roma auxiliá-lo. E foi assim, segundo Miriticeli, que Bento XVI iniciou sua carreira eclesiástica.
“Pouco tempo depois de bispo, ele tornou-se cardeal”, observou. Para a jornalista brasileira é também muito importante promover o trabalho do Papa Emérito.
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Mirticeli afirmou que além de Papa, Bento XVI é um grande pensador. Seu trabalho, pontua a vaticanista, pode ser consultado por qualquer pessoa, mesmo que não esteja ligada à fé.
A trilogia “Jesus de Nazaré” e “Introdução ao Cristianismo” são algumas das muitas reflexões do Papa Emérito recomendadas pela jornalista brasileira.
Doutor da Igreja
O título de “Doutor da Igreja” é concedido a homens e mulheres reconhecidos pela Igreja Católica como exemplo de “santidade de vida, ortodoxia doutrinal e ciência sagrada”.
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Ainda em vida, Mirticeli comentou que Bento XVI é aclamado popularmente com este título. “Não acho difícil que depois de sua morte seja reconhecido dessa maneira”.
Um bom teólogo, indicou a vaticanista, é uma pessoa de oração, de vivência cristã. “Bento XVI conseguiu chegar àquilo que uma pessoa precisa para ser reconhecida como Doutor da Igreja: primeiro, com sua vida. A teologia que ela produz não é feita só de palavras, teorias e análises, mas de vida”.