Embora a pandemia tenha deixado um rastro de fome e miséria, bispos garantem que não houve falta de ajuda e caridade dos fiéis
Thiago Coutinho
Da redação
O quarto dia da 58ª Assembleia Geral da CNBB nesta quinta-feira, 15, foi marcado por um tema que modificou a realidade do mundo: a pandemia. Embora seja consenso que a pobreza tenha se alastrado pelo país, também é senso comum no episcopado brasileiro que os fiéis brasileiros não se furtaram em prestar auxílio aos mais carentes.
Dom Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus (AM), uma das regiões mais atingidas pela pandemia, reafirmou o empenho dos fiéis nas diversas ações solidárias da Igreja.
“Um detalhe que me comoveu é que havia pessoas que depositaram um real, cinco reais. Isso trouxe mais força para que estivéssemos ao lado delas. Procuramos, inclusive, atender a muitas aldeias, também os nossos irmãos e irmãs que vivem nas ruas, que não tinham onde comer ou ficar. Conseguimos ir ao encontro dessas pessoas”, disse.
Um serviço importante
Dom Wilson Tadeu Jönk, arcebispo de Florianópolis (SC), ressaltou um serviço importante disponibilizado pela Igreja no estado: um núcleo telefônico. Por meio deste trabalho, muitas pessoas que se encontravam fragilizadas por toda a situação criado isolamento social e o alastramento da doença.
“O mais importante foi estabelecer um núcleo telefônico. As pessoas chegam a ligar de novo, agradecendo”, relatou o religioso.
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Por outro lado, mesmo em um estado rico — segundo último censo realizado pelo IBGE, trata-se da segunda maior renda per capita do país — dom Wilson afirmou que o número de moradores de rua aumentou. “Mas como Dom Leonardo disse, quando se necessita de solidariedade, nosso povo atende de forma extraordinária. Houve um aumento do número de pessoas de ruas, mas está havendo uma atenção muito grande a esta necessidade”, disse.
Tempo de cuidar
No dia 12 de abril, foi lançada pela CNBB a segunda etapa da campanha Ação Solidária Emergencial “É Tempo de Cuidar”. Não à toa, o projeto foi lançado no Domingo da Misericórdia.
“Este socorro, que se estende aos migrantes e refugiados que começa aqui em Roraima, com os venezuelanos, vai para todo o Brasil”, afirmou bispo de Roraima (RR), segundo vice-presidente da CNBB e presidente da Cáritas Brasileira, dom Mário Antônio da Silva.
Segundo o bispo, mais de 350 mil famílias já foram beneficiadas pelo projeto. “Na verdade, tem muito mais gente sendo socorrida”, garantiu. “Muita gente está tendo possibilidade de ser ajudada por meio de paróquias, comunidades, a Cáritas e até grupos que professam outras religiões têm-se unido a nós”, acrescentou.
“A fome entra pela porta e não sai pela janela”, lamentou dom Mário. “Pra nós, a fome é aperitivo, mas para muitos irmãos, a fome mata. Por isso, esta Ação Solidária não vai só ao enfrentamento da fome, mas das tristezas, das questões humanas e religiosas”.
A ajuda espiritual
Além deste apoio material, a Igreja também tem-se preocupado com o suporte espiritual. “Temos incentivado muito a leitura da Palavra de Deus. E temos testemunhos belíssimos de famílias que se reuniram e leram a Palavra”, afirmou Dom Leonardo.
Um dos momentos mais difíceis para o religioso, no entanto, foram os sepultamentos. “Talvez o momento mais difícil dessas famílias, que não podiam sequer tocar no caixão, que era levado direto à sepultura. Em Finados, pedimos que as pessoas plantassem árvores, para recordar os falecidos. Fomos percebendo que isso tudo foi ajudando”, explicou.
Este foi o penúltimo dia da 58ª AG CNBB, que vem sendo realizada em caráter virtual por conta das restrições sanitárias impostas pelas autoridades.