Cerca de 88% dos entrevistados afirmaram acreditar em outras pandemias; Pesquisa é do Conselho Federal de Medicina
Da redação, com Agência Brasil
A pandemia aumentou o estresse em profissionais de saúde. É o que constatou a pesquisa inédita realizada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).
Participaram da pesquisa 1.600 médicos cadastrados nos conselhos regionais (CRMs). Ela foi realizada entre setembro e dezembro de 2020.
Os médicos que participaram da sondagem atuam nos setores público (22%), privado (24%) ou em ambos (54%). São homens e mulheres com idade média de 49 anos.
A maior parte atua no Sudeste (53%), Nordeste (21%) e Sul (16%). Outros 6% trabalham em unidades de saúde do Centro-Oeste e 5% no Norte do país.
Como a pandemia afetou os profissionais de saúde
Segundo 22,9% dos consultados, o principal impacto sobre os níveis de estresse é a pandemia do novo coronavírus.
Para a grande maioria dos médicos (96%), a pandemia afetou sua vida pessoal ou profissional.
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Lidar com um vírus desconhecido provocou sensação de medo ou pânico em 14,6% dos entrevistados. Ela ocasionou também a redução do tempo dedicado às refeições, família e lazer (14,5%).
Também a pandemia comprometeu o tempo dedicado ao descanso e o nível da qualidade do sono (7,6%).
Consequências no bem-estar
Segundo análise do CFM, esses fatores podem ter consequências no bem-estar desses profissionais. Eles agravam quadros de depressão e até levam ao aparecimento da Síndrome de Burnout – doença psicológica causada pelo excesso de trabalho.
Ao mesmo tempo, 13% dos entrevistados relataram que o novo cenário reforçou seu compromisso com a medicina e com a saúde da população.
A pandemia teria fortalecido sua imagem como médico diante da comunidade (6,2%). Melhorou sua relação com os pacientes e outros profissionais de saúde (4,7%). Ela também estimulou a aproximação com as entidades médicas (3,7%).
Valorização
A pesquisa serviu de base para a campanha que o CFM lançou como parte das comemorações pelo Dia Mundial da Saúde, comemorado nesta quarta-feira, 7.
O objetivo é chamar a atenção dos gestores para a necessidade de reconhecimento e valorização dos médicos do Brasil, especialmente daqueles que atuam na linha de frente da Covid-19.
Confiança
A pesquisa do CFM identificou, por outro lado, que a pandemia do novo coronavírus fortaleceu a confiança estabelecida com os pacientes e familiares para 16% dos consultados.
O momento tornou os pacientes mais receptivos às recomendações médicas (12,6%).
Tensão nas consultas
Cerca de 13,7% dos respondentes afirmaram que o estresse gerado pela pandemia no paciente tornou tenso seu comportamento nas consultas.
Perda dos vínculos de trabalho
Para 11,8% dos médicos que atuam na maior parte do tempo na rede privada, a pandemia causou a perda de vínculos de trabalho para parte dos profissionais. No setor público, esse percentual é de 10,4%.
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Fechamento de consultórios e demissões
A necessidade de fechar consultórios ou demitir funcionários por conta do impacto da Covid-19 no dia a dia de trabalho foi relatada por 14,2% dos entrevistados do setor privado e 10% dos que atuam no Sistema Único de Saúde (SUS).
Novas oportunidades
Outros 11,4% dos entrevistados da rede privada e 15,2% da rede pública acreditam que a pandemia abriu novas oportunidades de trabalho.
Somente 3% declararam não ter observado qualquer impacto e 1% se mostrou indiferente a mudanças em seus locais de trabalho ou não soube avaliar.
Desafios
Cerca de 88% dos médicos ouvidos pela pesquisa afirmaram acreditar no aparecimento de novas epidemias nos próximos anos.
Para enfrentar esses desafios, 15% deles defenderam a valorização dos médicos e outros profissionais da saúde. Isso, com a criação de carreiras específicas. Outros 15% acreditam na priorização de pesquisas científicas e desenvolvimento de tecnologias e produção de insumos estratégicos.
Investimento
Outra prioridade apontada pelos profissionais ouvidos pela autarquia foi a necessidade de maior investimento público em saneamento básico (15%) e saúde (11,4%).
Os médicos falaram também no fortalecimento da atenção básica (13%). Além do reforço no sistema de vigilância sanitária em portos, aeroportos e grandes eventos (12,3%).
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Urgências
O aparelhamento de hospitais e centros de saúde e a ampliação da oferta de leitos de internação e de UTI foram apontados como urgentes por 10,6% e 8,6% dos entrevistados, respectivamente.
Consequências da pandemia
Como consequências futuras da pandemia, 22% dos médicos avaliaram que a principal delas será o maior espaço que a tecnologia ocupará na relação entre médico e paciente.
Cerca de 22% defenderam maior capacitação e preparo dos médicos para tratar eventuais influências em quadros clínicos anteriormente conhecidos.
Plataforma
O CFM, em parceria com o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e o Ministério Público Federal (MPF), por meio do Gabinete Integrado de Acompanhamento da Epidemia de Covid-19 (Giac), lançou uma plataforma digital.
Ela é destinada aos profissionais de saúde, para que possam relatar a falta de condições e de infraestrutura de trabalho.
Os profissionais de saúde poderão, ainda, descrever as situações que contribuíram para o aumento do estresse e da tensão, especialmente nos locais que acolhem casos suspeitos ou confirmados de covid-19.
Através de um programa de computador que simula um bate-papo, os médicos respondem a uma série de questionamentos.
As perguntas vão desde a oferta de equipamentos de proteção individual (EPIs), leitos de internação de enfermaria e UTI, até a extensão das jornadas de trabalho ou dificuldades para realizar situações do dia a dia, como alimentar-se ou dormir.
A ideia das instituições é intensificar a proteção dos médicos que atuam na linha de frente, bem como da sociedade. A plataforma reforça o trabalho de apuração dos relatos encaminhados. Ela também oferece soluções que tragam maior equilíbrio aos ambientes de trabalho.
A solução criada permite acompanhar em tempo real as informações dadas pelos médicos.