Na Missa, o Papa rezou para que a Europa consiga ter a unidade fraterna e recordou o amor de Deus que veio ao mundo para salvá-lo, não para condená-lo
Da redação, com VaticanNews
O Papa Francisco presidiu a Missa na Casa Santa Marta, no Vaticano, na manhã desta quarta-feira, 22, da II Semana do Tempo Pascal. Na introdução, dirigiu seu pensamento à Europa:
“Neste tempo no qual é preciso muita unidade entre nós, entre as nações, rezemos, hoje, pela Europa, a fim de que ela consiga ter essa unidade, essa unidade fraterna que os pais fundadores da União Europeia sonharam”.
Na homilia, o Papa comentou o Evangelho do dia (Jo 3,16-21), em que Jesus diz a Nicodemos que “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que n’Ele crer, mas tenha a vida eterna. De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele”.
O Papa destacou que o amor de Deus parece uma loucura – “o Pai nos deu o Filho unigênito que morreu na cruz por nós” – e afirmou que o crucifixo é o grande livro do amor de Deus por cada pessoa.
“Muitos cristãos passam o tempo contemplando o crucifixo e nele encontram tudo, porque entenderam, o Espírito Santo os fez entender que ali está toda a ciência, todo o amor de Deus, toda a sabedoria cristã: a luz de Deus”.
Leia, abaixo, a transcrição da homilia do Papa desta quarta-feira:
Esta passagem do Evangelho de João, capítulo 3º, o diálogo entre Jesus e Nicodemos, é um verdadeiro tratado de teologia: aqui está tudo. O Kerigma, a catequese, a reflexão teológica, a parenesi… está tudo, neste capítulo. E toda vez que nós o lemos, encontramos mais riqueza, mais explicações, mais coisas que nos fazem entender a revelação de Deus. Seria bonito lê-lo várias vezes, para nos aproximarmos do mistério da redenção. Hoje, tomarei somente dois pontos de tudo isso, dois pontos que estão na passagem de hoje.
O primeiro é a revelação do amor de Deus. Deus nos ama, e nos ama – como diz um santo – como uma loucura: o amor de Deus parece uma loucura. Ama-nos: “amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito”. Deu o Seu Filho, enviou Seu Filho e o enviou para morrer na cruz. Toda vez que nós olhamos o crucifixo, encontramos este amor. O crucifico é o grande livro do amor de Deus. Não é um objeto a ser colocado aqui ou acolá, mais bonito, não tão bonito, mais antigo, mais moderno… Não! É propriamente a expressão do amor de Deus. Deus nos amou assim: enviou Seu Filho, (que) se aniquilou até a morte de cruz por amor. Deus amou tanto o mundo, que deu o Seu Filho.
Quantas pessoas, quantos cristãos passam o tempo olhando o crucifixo… e nele encontram tudo, porque entenderam, o Espírito Santo os fez entender que ali está toda a ciência, todo o amor de Deus, toda a sabedoria cristã. Paulo fala disso, explicando que todos os raciocínios humanos que ele faz servem até um certo ponto, mas o verdadeiro raciocínio, o modo de pensar mais bonito, mas também que mais explica tudo é a cruz de Cristo, é Cristo crucificado que é escândalo e loucura, mas é o caminho. E esse é o amor de Deus. Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito. E por que? Para que todo aquele que crer n’Ele não se perca, mas tenha a vida eterna. O amor do Pai que quer seus filhos consigo.
Olhar o crucifixo em silêncio, olhar as chagas, olhar o coração de Jesus, olhar o todo: Cristo crucificado, o Filho de Deus, aniquilado, humilhado… por amor. Este é o primeiro ponto que hoje este tratado de teologia nos mostra, que é o diálogo de Jesus com Nicodemos.
O segundo ponto é um ponto que nos ajudará também: “A luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à luz, porque suas ações eram más”. Jesus retoma também essa luz. Há pessoas – também nós, muitas vezes – que não podem viver na luz, porque estão acostumadas com as trevas. A luz as encandeia, são incapazes de ver. São morcegos humanos: sabem se deslocar somente na noite. E também nós, quando estamos no pecado, encontramo-nos nesse estado: não toleramos a luz. Viver nas trevas é mais cômodo para nós; a luz nos esbofeteia, mostra-nos aquilo que não queremos ver. Mas o pior é que os olhos, os olhos da alma, de tanto viver nas trevas, acostumam-se a tal ponto, que acabam por ignorar o que vem a ser a luz. Perder o sentido da luz, porque me acostumo mais com as trevas. E muitos escândalos humanos, muitas corrupções nos indicam isso. Os corruptos não sabem o que é a luz, não conhecem. Também nós, quando nos encontramos em estado de pecado, em estado de distanciamento do Senhor, tornamo-nos cegos e nos sentimos melhores nas trevas e caminhamos assim, sem ver, como os cegos, deslocando-nos como podemos.
Deixemos que o amor de Deus, que enviou Jesus para nos salvar, entre em nós e a luz que Jesus traz, a luz do Espírito entre em nós e nos ajude a ver as coisas com a luz de Deus, com a luz verdadeira e não com as trevas que o senhor das trevas nos dá.
Duas coisas hoje: o amor de Deus no Cristo, no crucificado; no cotidiano, na pergunta cotidiana que podemos nos fazer: “Eu caminho na luz ou caminho nas trevas? Sou filho de Deus ou acabei me tornando um pobre morcego?”
O Santo Padre terminou a celebração com a adoração e a bênção eucarística, convidando a fazer a Comunhão espiritual. A seguir, a oração recitada pelo Papa:
Meu Jesus, eu creio que estais presente no Santíssimo Sacramento do Altar. Amo-vos sobre todas as coisas, e minha alma suspira por Vós. Mas, como não posso receber-Vos agora no Santíssimo Sacramento, vinde, ao menos espiritualmente, a meu coração. Abraço-me convosco como se já estivésseis comigo: uno-me Convosco inteiramente. Ah! não permitais que torne a separar-me de Vós!
Antes de deixar a Capela dedicada ao Espírito Santo, foi entoada a antífona mariana “Regina caeli”, cantada no tempo pascal:
Rainha dos céus, alegrai-vos. Aleluia!
Porque Aquele que merecestes trazer em vosso seio. Aleluia!
Ressuscitou como disse. Aleluia!
Rogai por nós a Deus. Aleluia!
D./ Alegrai-vos e exultai, ó Virgem Maria. Aleluia!
C./ Porque o Senhor ressuscitou, verdadeiramente. Aleluia!