Nesta terça-feira, 14, Dom Antônio Affonso de Miranda, bispo que serviu a Diocese de Lorena, onde está localizada a Comunidade Canção Nova, celebra o Centenário de seu Nascimento
Julia Beck
Da redação, com colaboração de Fernando Freitas
Dom Antônio Affonso de Miranda, bispo Emérito de Taubaté (SP), celebra nesta terça-feira, 14, o Centenário de seu Nascimento. “Foi graça de Deus ter vivido tanto tempo, ter passado por horas difíceis e por horas muito boas e cheias de alegria. (…) Sinto-me plenamente realizado na minha vida. Realizado enquanto padre, bispo, jornalista, escritor… sinto-me plenamente realizado”, enfatizou.
Nascido em São Caetano do Xopotó (MG), Dom Antônio foi ordenado sacerdote em 1945. Membro da Congregação dos Missionários de Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento, o bispo foi reitor do seminário de Manhumirim, seminário São Rafael em Dores do Indaiá, cidade onde também foi pároco por 16 anos em três fases distintas. Ainda jovem, ganhou fama de grande pregador. Pregava retiros para padres, religiosos e religiosas, associações religiosas de leigos e pregava missões em cidades do interior.
Enquanto seminarista, Dom Antônio conheceu padre Júlio Maria, grande missionário e pregador vindo da Bélgica. Foi então que o jovem Antônio tornou-se membro da Congregação dos Missionários de Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento, fundada pelo sacerdote, e amigo de padre Júlio, cuja fama de santidade tem um processo em andamento no Vaticano para ser considerado santo pela Igreja Católica.
Após o falecimento de padre Júlio, em dezembro de 1944, Dom Antônio, ainda sacerdote, levou até a Nunciatura Apostólica (Embaixada do Vaticano no Brasil) o pedido de legalização da congregação, que se encontrava em risco de extinção. Esse trabalho levou os seus colegas a escolhê-lo Superior Geral da congregação. O primeiro Superior Geral depois do padre Júlio Maria. Sua eleição se deu em 14 de novembro de 1952. A direção da congregação foi passada em 1962.
Bispo fundante da Canção Nova
Em novembro de 1971, foi nomeado bispo de Lorena. Serviu a diocese de Lorena de 23 de janeiro de 1972 a 6 de janeiro de 1977, quando foi transferido para Campanha-MG. A grande herança deixada por Dom Antônio à diocese de Lorena foi o auxílio na criação da Comunidade Canção Nova. O bispo impulsionou monsenhor Jonas Abib em seu trabalho de evangelização junto aos meios de comunicação social.
“A nossa relação com Dom Antônio é uma relação de fundação. Ele é o bispo fundante da Canção Nova. (…) Em 1976, ele recebeu de Roma a Evangelii Nuntiandi, do Papa Paulo VI, o documento base da Canção Nova e colocou nas mãos do padre Jonas. Ele pediu: ‘Faça alguma coisa’”, conta Diácono Nelsinho Côrrea, membro da Comunidade Canção Nova.
Segundo o missionário, a exortação apostólica do Papa Paulo XI falava que a Igreja Católica deveria usar os meios de comunicação para falar às multidões e, ao mesmo tempo, em cada coração. “Ele foi um profeta dentro da Canção Nova. (…) Nos seus 100 anos, ele é testemunha ocular. Ele disse que viu essa obra nascer. Ele é a voz da Igreja que disse: Padre Jonas, comece”. Diácono Nelsinho Côrrea revela que o bispo também contribuiu para a elaboração do estatuto da Associação Canção Nova.
Bispo que consolidou a Diocese de Taubaté
Depois de passar pela diocese de Lorena, Dom Antônio foi nomeado bispo coadjutor da diocese de Campanha (MG). Teve direito à sucessão e foi administrador apostólico com plenos poderes. Foi escolhido pelo Papa Paulo VI para ser um dos delegados brasileiros na Conferência Episcopal Latino-Americana de Puebla, um evento que tem reflexos importantes na Igreja Católica.
De Campanha, Dom Antônio foi transferido para Taubaté, onde tomou posse no dia 20 de setembro de 1981. Apresentou sua renúncia canônica ao Papa João Paulo II, que a aceitou em 1996, nomeando-o administrador apostólico até a posse do novo bispo. Em 17 de agosto, passou o governo diocesano para o seu sucessor, Dom Carmo João Rhoden, tornando-se bispo emérito de Taubaté, onde permanece até os dias atuais.
Dom Wilson Luís Angotti Filho, atual bispo diocesano de Taubaté, afirmou que Dom Antônio consolidou a diocese. “Ele é sempre lembrado pela grande eloquência, suas homilias muito profundas e esmerada oratória. Assim também como a solenidade de suas celebrações e a piedade com que celebrava. Isso é marcante”, destacou.
“Quando conheci Dom Antônio, em 2008, (…) o que me chamou a atenção e que marca sua trajetória, é a sua atividade constante. Já como bispo emérito, pregava muitos retiros, novenas, e era muito solicitado para celebrar em vários lugares. É muito ativo, inclusive escrevendo”. Dom Antônio publicou mais de 40 livros e opúsculos com temas variados entre teologia, pastoral, liturgia e moral.
Amigável, afável, bem-humorado, firme e decidido. Assim, Dom Wilson define Dom Antônio, que é formado em direito, filosofia, teologia e membro da Academia de Letras da cidade de Taubaté. “É alguém que gosta de estar em contato com o outro, de estar com as pessoas”, complementou. Por fim, Dom Wilson reafirmou sua gratidão a Dom Antônio pela vida que dedicou a Deus e à Igreja. “Queremos agradece-lo pela dedicação, perseverança e pelo seu sim mantido até hoje”.