Associação no interior de SP realiza trabalho de acolhimento à vida, como retrata CF 2020 com o ícone de Santa Dulce
Denise Claro
Da redação
A Campanha da Fraternidade 2020 é voltada para o tema da vida, seu reconhecimento como dom e a capacidade de se comprometer com o próximo, e tem como modelo a figura de Santa Dulce dos Pobres.
O texto-base recorda o episódio da criação, em que Deus vê o caos, e ordena tudo com sua Palavra criadora. O lema da CF 2020 apresenta o episódio do Bom Samaritano, que é capaz de se compadecer com aquele que está deitado à beira do caminho, e se comprometer com a sua situação.
O Secretário Executivo para Campanhas da CNBB, Padre Patriky Samuel Batista, explica que a escolha de Irmã Dulce como ícone desta edição se deu justamente na busca de quem seria o modelo de ‘bom samaritano’ nos dias atuais.
“A gente entrou em consenso que deveria ser uma mulher. Pensamos em diversas figuras na Igreja do Brasil de mulheres que doam a vida, e quando lembramos de Irmã Dulce vimos que vida doada é vida santificada”.
Analisando o cartaz da CF 2020, percebe-se a religiosa, que tem na mão direita a cruz, símbolo da Vida que vence a morte, com o povo ao seu lado.
“Santa Dulce atuou na rua, no contexto do pelourinho, lembrando que onde eu estou é lugar de cuidar. Ela viu, se compadeceu e cuidou. Não sem sofrimentos, ela abdicou de toda a sua vida, porque tudo aquilo que é ofertado, é transformado. A oferta de uma vida transforma o cenário onde nós nos encontramos”.
O cuidado em nossos dias
Na cidade de São José dos Campos (SP), existe desde 2013, o trabalho da Associação Guadalupe.
A entidade acolhe gestantes em situação de vulnerabilidade social e emocional, com o objetivo de salvar as duas vidas, da mãe e do bebê. Na instituição, as mães recebem atendimento médico, psicológico e aconselhamento espiritual, e podem participar das várias oficinas de capacitação profissional.
A responsável pela associação, Mariângela de Oliveira, vê como propício o tema da Campanha da Fraternidade deste ano.
“A vida humana vem sofrendo com o descaso aos mais vulneráveis, desde o bebê no ventre da mãe até o idoso abandonado pela família. Sendo assim, nesse período da Quaresma teremos a oportunidade de propor uma reflexão profunda neste sentido. Precisamos cuidar dos irmãos e irmãs que tem suas vidas colocadas em risco todos os dias em nossa sociedade, pelos mais diversos motivos.”
Mariângela conta que o trabalho nasceu da necessidade de oferecer às gestantes e suas famílias um apoio mais efetivo no sustento próprio e de seus bebês.
“Além de toda estrutura, ajudamos as mães na montagem do enxoval, com cestas básicas e formação profissional. Nosso trabalho é fundamental, pois, no momento em que descobrem a gravidez, as gestantes se vêem em grande parte dos casos, confusas e desesperadas, por conta do abandono do companheiro ou desamparo da família, e encontram na Associação Guadalupe um porto seguro para seguir com a gestação com segurança e tranquilidade.”
A jovem Jéssica de Souza está grávida de seis meses. Há dois meses, conheceu a Associação Guadalupe, em uma situação de vulnerabilidade:
“Quando cheguei aqui estava sem chão, desmotivada, sem fé. Eu e meu companheiro estávamos desempregados e eu já tinha um menino de um ano. Tinha pensado em abortar o bebê, cheguei a usar bebidas, drogas, remédios, porque eu não me achava em condições de criar duas crianças pequenas na situação que eu estava.”
Jéssica encontrou o apoio que precisava. A Associação Guadalupe foi, para ela, as mãos e o coração do Bom Samaritano, que cuidou dela, a amparou, se responsabilizou e se comprometeu pela sua vida e a da criança:
“Aqui eles me ajudaram muito, me acolheram como se eu fosse uma filha, sou muito grata. Comecei a fazer brigadeiros para vender, e hoje pago aluguel, luz, água com esse dinheiro. Voltei a ser católica, estamos nos preparando para casar. Assumimos o bebê, fiz todos os exames, e no ultrassom descobrimos que é uma menina. Quando minha filha nascer, vamos batizá-la, junto com o irmão, aqui na capela da Associação Guadalupe”.
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