Celebração da Penitência presidida nesta sexta-feira, 29, pelo Papa Francisco, marcou a abertura da iniciativa “24 horas para o Senhor”
Da redação,
O Papa Francisco presidiu no início da tarde desta sexta-feira, 29, a Celebração da Penitência. A missa marcou a abertura da iniciativa “24 horas para o Senhor” no Vaticano. Durante homilia, o Pontífice falou sobre a miséria e a misericórdia, e citou o Sacramento da Conciliação como uma forma do ser humano experimentar a alegria de ser amado até ao extremo por Deus. “A Confissão é a passagem da miséria à misericórdia, é a escrita de Deus no coração”, sublinhou.
A mulher adultera, citada no Evangelho de João (8, 1:11), entregue a Jesus pelos escribas e fariseus, foi um dos pontos de reflexão do Papa. Francisco recordou que os que haviam ido até Jesus para atirar pedras contra a mulher ou para acusá-Lo a propósito da Lei, em um dado momento, foram embora, pois nada mais lhes interessava. “Mas Jesus continua… E continua, porque lá ficou o que era precioso a seus olhos: aquela mulher, aquela pessoa. Para Ele, antes do pecado, vem o pecador. No coração de Deus, eu, tu cada um de nós vem em primeiro lugar; vem antes dos erros, das normas, dos juízos e das nossas quedas”, observou.
“Peçamos a graça dum olhar semelhante ao de Jesus; peçamos para ter o enquadramento cristão da vida: nele, antes do pecado, olhamos com amor o pecador; antes do erro, o transviado; antes do caso, a pessoa”, exortou o Santo Padre. O Papa continuou sua reflexão sobre o texto bíblico da mulher surpreendida em adultério: “Jesus não vê uma alínea da Lei, mas uma situação concreta que O reclama. Por isso, fica ali com a mulher, mantendo-Se quase todo o tempo em silêncio; entretanto, por duas vezes, efetua um gesto misterioso: escreve com o dedo por terra (Jo 8, 8)”.
.: Confira na íntegra a homilia do Papa Francisco na celebração da penitência
Para o Pontífice, o que Jesus teria escrito talvez não seja a coisa mais importante, mas sim o fato de ter escrito: “Vem à mente o episódio do Sinai, quando Deus escrevera as tábuas da Lei com o seu dedo (cf. Ex 31, 18), tal como faz agora Jesus. Depois, através dos profetas, Deus prometera que não mais escreveria em tábuas de pedra, mas diretamente nos corações (cf. Jr 31, 33), nas tábuas de carne dos nossos corações (cf. 2 Cor 3, 3). Com Jesus, misericórdia de Deus encarnada, chegou o momento de escrever no coração do homem, dando uma segura esperança à miséria humana: dar, não tanto leis externas que muitas vezes deixam Deus e o homem distantes, mas a lei do Espírito, que entra no coração e o liberta”.
Segundo Santo Padre, a partir de um encontro sincero com Jesus, a mulher adultera recomeçou a viver, seguiu a sua estrada para não mais pecar (cf. Jo 8, 11). Jesus, com a força do Espírito Santo, liberta todos do mal de dentro, do pecado que a Lei pode obstaculizar, mas não remover, explicou Francisco. O Papa alertou que ainda assim o mal é forte e tem um poder sedutor: atrai, encandeia.
“Para desprender-se dele, não basta o nosso esforço, é preciso um amor maior. Sem Deus, não se pode vencer o mal: só o amor d’Ele eleva por dentro; só a sua ternura, derramada no coração, é que torna livre. Se queremos a libertação do mal, temos de dar espaço ao Senhor, que perdoa e cura; e fá-lo sobretudo através do Sacramento que estamos prestes a celebrar. (…) Sempre que nos abeiramos dela [confissão], lemos que somos preciosos aos olhos de Deus, que Ele é Pai e ama-nos mais de quanto nos amamos a nós mesmo”, ressaltou o Pontífice.
Francisco reforçou sobre o sentimento de solidão e encadeamento que aflige, muitas vezes, homens e mulheres: “Muitas vezes já não sabemos como recomeçar, cansados de nos aceitarmos. Temos necessidade de começar do princípio, mas não sabemos donde. O cristão nasce pelo perdão, que recebe no Batismo; e daqui é que sempre renasce: do perdão arrebatador de Deus, da sua misericórdia que nos restaura. Só como perdoados podemos recomeçar revigorados, depois de termos experimentado a alegria de ser amados até ao extremo pelo Pai. Só através do perdão de Deus é que acontecem em nós coisas verdadeiramente novas. Pensemos na frase que o Senhor nos disse hoje, através do profeta Isaías: ‘Vou realizar algo de novo’ (43, 19)”.
O perdão proporciona, de acordo com o Papa, um novo começo, torna todos, criaturas novas, e os faz palpar a vida nova. Segundo o Santo Padre, o perdão de Deus não é uma fotocópia que se reproduz idêntica em cada passagem pelo confessionário, receber o perdão dos pecados, através do sacerdote, é uma experiência sempre nova, original e inimitável. “Da situação de estar sozinhos com as nossas misérias e os nossos acusadores, como a mulher do Evangelho, faz-nos passar ao estado de erguidos e encorajados pelo Senhor, que nos faz recomeçar”, completou.
Perguntas como: “Que fazer para me afeiçoar à misericórdia, para superar o medo da Confissão?”, são recorrentes entre os fiéis, de acordo com Francisco, que pediu: “Acolhamos o sucessivo convite de Isaías: ‘Não o notais?’ (43, 19). Notar, dar-se conta do perdão de Deus. É importante. Seria bom, depois da Confissão, permanecer – como aquela mulher – com o olhar fixo em Jesus, que acabou de nos libertar: fixo, não mais nas nossas misérias, mas na sua misericórdia. Fixar o Crucificado e exclamar maravilhados: ‘Eis aonde foram parar os meus pecados! Tomaste-os sobre Vós… Não me apontastes o dedo acusador, mas abriste-me os braços e mais uma vez me perdoastes’. É importante recordar o perdão de Deus, lembrar a sua ternura, saborear de novo a paz e a liberdade que experimentamos”.
O coração da Confissão é, segundo o Santo Padre, não os pecados verbalizados, mas o amor divino recebido e do qual todos precisam. Francisco prosseguiu falando que há ainda uma dúvida que permeia os fiéis: “Não vale a pena confessar-se! Volto sempre aos pecados habituais”. O Papa explicou: “O Senhor conhece-nos, sabe que a luta interior é difícil, que somos fracos e propensos a cair muitas vezes reincidentes na prática do mal. Então propõe-nos começar a ser reincidentes no bem, no pedido de misericórdia. Será Ele a erguer-nos, fazendo de nós criaturas novas. Recomecemos, pois, da Confissão, devolvamos a este sacramento o lugar que merece na vida e na pastoral!”.
Por fim, o Pontífice afirmou que também hoje, na Confissão, é possível um encontro de salvação: “Nós, com as nossas misérias e o nosso pecado; o Senhor, que nos conhece, ama e liberta do mal. Avancemos para este encontro, pedindo a graça de o redescobrir”, finalizou.