Assessor da Pastoral de DST/Aids, Frei Luiz Carlos Lunardi, fala ainda sobre realidade do país no enfrentamento do vírus HIV
Julia Beck, com colaboração de Thiago Coutinho
Da redação
Vermelho é a cor atribuída ao mês de dezembro, mês de combate e conscientização sobre a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids). Considerada uma epidemia, o vírus da AIDS, juntamente das doenças sexualmente transmissíveis (DST), tem a atenção da Igreja no Brasil com a Pastoral de DST/Aids, um serviço da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Sobre a síndrome, Frei Luiz Carlos Lunardi, assessor da Pastoral, reafirma a nova campanha do organismo da CNBB: “Aids tem tratamento, quem ama cuida e se cuida”.
Com um trabalho desenvolvido há 17 anos, com foco no tratamento direto das pessoas que vivem e convivem com o vírus HIV, causador da Aids, a Pastoral de DST/Aids surgiu da solicitação, em 1986, de um grupo de pessoas portadoras do vírus HIV. Segundo Frei Lunardi, o pedido era que a Igreja acompanhasse e fizesse um trabalho específico com as pessoas que viviam com Aids naquele tempo.
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“A Igreja começou com uma pequena equipe dentro da Pastoral da Saúde, depois foi evoluindo e, em 2001 foi instituído um serviço específico. Ali foi oficialmente criada a Pastoral da AIDS como um serviço muito mais amplo do que apenas acompanhar as pessoas com HIV, abrangendo um pouco mais, com alguns pilares, como o da prevenção, acompanhamento, assistência, solidariedade e incidência política”, contou o assessor.
Em primeiro lugar, Frei Lunardi explica que a Pastoral auxilia as pessoas a conhecerem sua própria sorologia. Depois de conhecê-la, para que se sinta integrada, a Pastoral incentiva a pessoa a fazer o vínculo com a rede de saúde e ter acesso ao tratamento e acompanhamento médico que é necessário para o caso do HIV. “Nós temos uma série de atividades que vão desde ajuda na marcação de consultas, encaminhamento de pessoas com mais carência no campo social, como também acompanhamento psicológico”, explicitou.
O apoio dado pela Pastoral é, segundo o assessor, uma forma da pessoa descobrir se é soro positivo ou não, para que tenha acesso ao tratamento e acompanhamento médico, e assim consiga viver de forma saudável, possuindo um emprego e boas condições de vida, mesmo infectada com o vírus HIV. “A pastoral da Aids está em 81 dioceses com equipes organizadas e com atividades planejadas dentro dos quatro pilares que a pastoral trabalha: prevenção, acompanhamento, incidência política e campanhas. (…) Trabalhamos organizando os 18 regionais da CNBB e as dioceses”, revelou Frei Lunardi.
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A realidade das pessoas com HIV
De acordo com um recente relatório do UNICEF, o Fundo das Nações Unidas para a Infância, apresentado na última semana, cerca de 360.000 adolescentes morrerão por doenças relacionadas com a AIDS entre 2018 e 2030, ou seja, 76 adolescentes morrerão a cada dia, se não forem feitos ulteriores investimentos nos programas de prevenção, diagnóstico e tratamento do vírus HIV.
O dado é, segundo Frei Lunardi, um retrato que os agentes da Pastoral de DST/Aids comprovam na prática. “Nos trabalhos de base acompanhamos esses índices e essa realidade já há mais tempo. O jovem é uma das populações mais atingidas pelo vírus HIV. Geralmente descobrem diagnósticos tardios e outros o descobrem por coinfecção como sífilis, e outras DSTs, hoje se chamam IST. Essas pessoas nem sempre têm condições ou disposição para fazer um tratamento bem feito e adequado, muitos deles a descobrem quando a doença evoluiu, a ponto de não conseguirem fazer a reversão do quadro. São dados completamente reais que nós comprovamos em várias regiões do Brasil”, comentou o assessor.
Apesar das constatações apontadas pelo relatório, Frei Lunardi frisou que a política de Aids presente no Brasil é um importante programa que precisa ser mantido para que o país alcance melhores resultados, como os estimados pela pesquisa. O relatório “Crianças, HIV e AIDS: O mundo em 2030″, do UNICEF, mostra que, com base em previsões sobre a população e de acordo com as tendências atuais, o número de novos contágios de HIV entre crianças e jovens entre 0 e 19 anos em 2030 atingirão 270.000 aproximadamente, com uma queda de um terço em relação às estimativas atuais. O relatório também mostra que o número de crianças e adolescentes que morrem por causas relacionadas à AIDS cairá dos atuais 119.000 para 56.000 em 2030.
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No entanto, esse declínio é considerado lento, principalmente entre os adolescentes. Segundo o UNICEF, existem quase 700 novos contágios do vírus HIV todos os dias entre os adolescentes de 10 a 19 anos – um a cada dois minutos. De acordo com o relatório, até 2030, o número de novos contágios de HIV entre as crianças nos primeiros dez anos de vida será reduzido pela metade, enquanto entre adolescentes com idades entre 10 e 19 anos só diminuirá em 29%.
“Se o governo mantiver a política de AIDS como ela está organizada atualmente, poderá se alcançar realmente uma redução nesses dados devido a todo esse avanço que conquistamos”, revelou Frei Lunardi. O assessor da Pastoral de DST/Aids frisou a necessidade de serem mantidos não só os investimentos, mas também a política de tratamento, e os programas de AIDS.
Os avanços
No mês de combate à Aids, Frei Lunardi comentou sobre os avanços realizados ao longo dos 30 anos da epidemia, como a diminuição do coquetel antiaids – um combinado de medicamentos que atua evitando que o vírus HIV reproduza-se e diminua a defesa do paciente –, e a valorização do diagnóstico com antecedência.
“A ciência descobriu e prova que hoje, a pessoa que tem o conhecimento do diagnóstico com antecedência, e que se vincula à rede de saúde e tem acesso a medicamentos, essa pessoa tem uma qualidade de vida como qualquer outra pessoa. Infelizmente, as pessoas que não têm acesso são sujeitas a virem a óbito por falta de acompanhamento e conhecimento”, revelou Frei Lunardi.
Segundo o assessor da Pastoral de DST/Aids, desde 1997, ano do descobrimento do coquetel antiaids, a ciência avançou na integração de fórmulas de importantes medicamentos. De acordo com ele, os primeiros medicamentos eram muitos, o que influenciava na desistência do tratamento por parte dos que se descobriam soropositivos.
“A ciência foi integrando fórmulas e chegamos hoje ao que consideramos as melhores estratégias implementadas no campo do tratamento da Aids, que é o tratamento com um único comprimido diante do diagnóstico. Ao tomar muitos comprimidos, a pessoa portadora do vírus HIV tinha muitos efeitos colaterais e não suportando tanta medicação em apenas um dia, acabava desistindo do tratamento e indo a óbito”, revelou.
Hoje o medicamento é fornecido pelo governo brasileiro e possui menos efeitos colaterais, fatores que, segundo Frei Lunardi, favorecem a adesão ao tratamento. “Hoje quem é soropositivo entende que pode viver tanto quanto uma pessoa normal”, concluiu.
Veja a Campanha 2018 da Pastoral de DST/Aids contra a Aids: