Em oração final da Via-Sacra realizada no Coliseu de Roma, Francisco pediu aos cristãos que se identifiquem com o bom ladrão
Da redação, com Boletim da Santa Sé
Na noite desta Sexta-feira Santa, 30, foi vivido no Coliseu de Roma a Via-Sacra. A representação dos passos de Jesus Cristo antes de sua morte — experienciada em 14 estações – foi encerrada com oração do Santo Papa Francisco. “Senhor Jesus, nosso olhar está voltado para Ti, cheio de vergonha, arrependimento e esperança”, afirmou.
Na oração, o Pontífice enumerou atitudes vergonhosas da humanidade diante da doação de Jesus: deixá-lo sozinho para sofrer pelos pecados de seu povo, abandoná-lo mesmo quando ele não deixou a humanidade, ter escolhido Barrabás, o poder, a aparência, o dinheiro.
“Vergonha por, com a boca e coração, toda vez que nos encontramos em um teste dizer: ‘Se tu és o Cristo, salva-nos e acreditaremos!’. Vergonha porque nossas gerações estão deixando aos jovens um mundo fraturado por divisões e guerras; um mundo devorado pelo egoísmo, onde os jovens, os pequenos, os doentes, os idosos são marginalizados”, apresentou o Papa em oração.
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O Santo Padre prosseguiu rogando a Jesus pela graça da santa vergonha diante de erros e falhas. De acordo com Francisco, o olhar do homem a Deus deve ser de um arrependimento que implora misericórdia e que cresce, a partir da certeza de que só Cristo pode salvar a humanidade do mal, pode curá-la da lepra do ódio, do egoísmo, do orgulho, da ganância, vingança e idolatria.
Para o Pontífice, o arrependimento brota quando o homem sente sua pequenez, seu nada e se deixa acariciar pelo doce e poderoso convite de Jesus à conversão. “Arrependimento nascido de nossa vergonha, nascido da certeza de que nosso coração permanecerá sempre inquieto até que encontremos a única fonte de plenitude e quietude. (…) [Senhor] nos dê a graça do santo arrependimento!”.
Diante da majestade de Cristo o Santo Padre reafirmou estar a centelha de esperança que ilumina a escuridão do desespero. A esperança surge, de acordo com o Papa, porque a mensagem de Cristo continua a inspirar, ainda hoje, muitas pessoas e povos ao mostrar que o bem pode vencer o mal e a maldade, que o perdão pode trazer para baixo o rancor e a vingança, e que apenas um fraternal abraço pode vencer a hostilidade e o medo do outro.
“O seu sacrifício continua até hoje para liberar a fragrância do amor divino que acaricia os corações de muitos jovens que continuam a consagrar a sua vida, tornando-se exemplos vivos de caridade e generosidade em um mundo devorado pela lógica do lucro e dinheiro fácil. Tu és esperança, porque muitos missionários continuam, ainda hoje, a desafiar a consciência adormecida da humanidade, arriscando suas vidas para servi-lo nos pobres, descartados, nos imigrantes, no invisível, nos explorados, nos famintos e nos prisioneiros”, suscitou o Santo Padre.
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A Igreja, ainda que composta por pecadores, é sinal de esperança, segundo o Papa. Apesar das tentativas de desacreditá-la, Francisco reafirmou a capacidade da Igreja de atestar, sem limites, o amor de Cristo para a humanidade, elevando-o como modelo de altruísmo, arca da salvação e fonte de certeza e verdade. “Por tua Cruz, (…) ensina-nos que o teu amor é a nossa esperança”.
Por fim, Francisco rogou: “Pedimos a ti, Filho de Deus, que nos identifique como o bom ladrão, que olhou para ti com olhos cheios de vergonha, arrependimento e esperança; que, com os olhos da fé, viu em sua aparente derrota a vitória divina, e assim se ajoelhou diante de sua misericórdia e com honestidade roubou o paraíso!”, concluiu