“Fraternidade e superação da violência” é o tema da Campanha da Fraternidade desse ano
Padre Antônio Aparecido Alves*
Estamos iniciando com toda a Igreja o tempo forte da Quaresma, e na Igreja do Brasil a Campanha da Fraternidade, que tem uma longa caminhada em nosso País. Ela começou tímida em 1962 em Natal como forma de angariar recursos para a Caritas e, aos poucos, foi se expandido, de modo que a partir de 1964 foi assumida em nível nacional. De lá para cá essa Campanha fez um longo percurso, começando com uma primeira fase que buscava a renovação interna da Igreja à luz do Concílio Ecumênico Vaticano II, passando depois para outra fase que buscava denunciar o pecado social e promover a justiça, até a fase atual que se volta para as realidades existenciais do povo brasileiro. É preciso, ainda, salientar que nesta fase, a cada cinco anos, a Campanha é ecumênica, oferecida também às Igrejas que compõem o CONIC (Conselho Nacional das Igrejas Cristãs). No que tange a Doutrina social da Igreja, desde a década de 1970 as campanhas da fraternidade vêm prestando um relevante serviço à divulgação de seus princípios e orientações, abordando temáticas de cunho sociopolítico, socioambiental e socioeconômico.
Promover uma cultura de paz
Como sempre, a Campanha da Fraternidade quer nos ajudar a viver o espírito quaresmal, que é de conversão pessoal e comunitária, apontando para uma problemática presente na sociedade, que neste ano é a necessidade da superação da violência. É preciso salientar que neste tema o foco não é a “violência”, mas a sua superação, sendo esta a palavra que define o objetivo da Campanha da Fraternidade deste ano. Já tivemos campanhas no passado que ressaltaram o problema da violência, como a de 1983, com o tema “Fraternidade sim, Violência não” e a de 2009 com o tema “Fraternidade e Segurança pública”. Agora o convite é lutar para superar a violência, criando na sociedade uma cultura da paz. Por isso o tema deste ano: “Fraternidade e superação da violência”, com o lema: “Vós sois todos irmãos” (Mt 23,8).
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É preciso admitir que vivemos em uma sociedade com os mais diversos tipos de conflitos sendo alguns banais, como diferenças entre torcida de futebol, gosto por essa ou aquela cor ou alimento, modelo de automóvel, bem como como outros mais complexos, como os entre classes e posição social. No entanto, não podemos deixar que esses conflitos se transformem em confronto, mesmo o conflito de classes. Deve-se buscar solucionar os conflitos de uma forma pacífica, na base da justiça e da paz. Aliás, é necessário promover uma cultura da paz, onde as diferenças não são resolvidas na base da violência, seja ela física, verbal, armada ou moral, mas a partir de um diálogo que respeite e envolva todas as partes. Infelizmente, diante de qualquer conflito, a tendência é ir logo para o uso da força, o que deixa nossa sociedade extremamente violenta. Promover uma cultura da paz é a proposta da Campanha da Fraternidade deste ano.
Os cristãos e a Paz
Promover uma cultura da paz é algo que diz respeito diretamente a nós, cristãos, porque somos seguidores do Príncipe da Paz (Ef 2,14-17) e os que a promovem serão chamados filhos de Deus (Mt 5,9). Crer na paz implica professar que ela somente pode ser obtida pela paz. Por isso, assim como Santo Agostinho queremos afirmar a superioridade do verbum (diálogo) sobre o ferrum (espada). Promover a cultura da paz pressupõe acreditar que somos todos irmãos (Mt 23,8) e não lobos uns dos outros. Enfim, se a paz fracassar no mundo, que não seja por nossa omissão.
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*Padre Antonio Aparecido Alves é Mestre em Ciências Sociais com especialização em Doutrina Social da Igreja pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e Doutor em Teologia pela PUC-Rio. Professor na Faculdade Católica de São José dos Campos e Pároco na Paróquia São Benedito do Alto da Ponte em São José dos Campos (SP). Para conhecer mais sobre Doutrina Social visite o Blog: www.caminhosevidas.com.br