Psicóloga do INCA destaca que recaída é esperada no processo de parar de fumar, mas não significa fracasso
Thiago Coutinho
Da Redação
Nesta terça-feira, 29, é comemorado o Dia Nacional de Combate ao Fumo. O principal objetivo desta data é acentuar ações nacionais de sensibilização e mobilização da população acerca dos danos sociais, políticos e econômicos causados pelo tabaco.
Considerada uma droga de caráter psicoativa, o tabaco produz alterações no humor e gera dependência, devido à nicotina. Largar o vício não depende única e exclusivamente do dependente, como esclarece a psicóloga Vera Borges, da Divisão de Controle do Tabagismo do Instituto Nacional de Câncer (INCA) órgão que realiza atividades periódicas de combate ao fumo.
“Essa esperada ‘força de vontade’ é entendida por muitas pessoas como um poder de superação expressivo do tabagista, que ao exercitá-lo, terá resolvido o problema e deixará de fumar. Na prática não é exatamente assim, porque a dependência química compromete seu poder de escolha. Muitas vezes o tabagista promete para si mesmo e aos outros que deixará de fumar, mas tem dificuldades”, explicou Vera.
O carioca Daniel Claro deixou de fumar há oito anos com a ajuda de um remédio. O que o motivou a abandonar o vício em caráter definitivo foi a morte por câncer de pulmão de um amigo próximo. “Fui vê-lo no hospital e me assustei com seu estado, pois ele não reconhecia ninguém. Desde então, nunca mais fumei e passei a praticar diversas atividades físicas”, relatou. Atualmente, Daniel pratica esportes e atividades físicas regularmente.
Há tratamentos disponíveis para abandonar este vício, mas a eficiência vai de acordo com cada indivíduo. “Em todas as dependências químicas, a recaída pode ocorrer, e com o tabagismo não é diferente. Isso se dá ao fato de haver nicotina nos produtos do tabaco, que ao ser retirada pode produzir grande desconforto físico, fazendo com que o tabagista volte a fumar, ou seja, recaindo”, esclareceu Vera.
Roberta Cardoso viveu uma experiência similar ao quadro apresentado pela psicóloga. Fumante há muitos anos, passou os últimos seis meses sem tocar em um cigarro, mas acabou tendo uma recaída recentemente. “Resolvi parar no final do ano passado. De uma hora para outra. Parei por algum tempo, mas em alguns meses voltei. Foi aquela história, ‘só hoje’”, disse. “Minha meta é parar. Minha mãe parou depois de 40 anos fumando. Se ela conseguiu, eu também consigo”, reiterou, esperançosa.
A recaída é um efeito esperado, o que não significa que a pessoa não conseguirá se livrar do vício. “É importante entender que a recaída é esperada, mas não significa fracasso. Ela faz parte do processo para deixar de fumar, até que o tabagista aprenda a lidar com a dependência química”, relatou Vera Borges, acrescentando que os esforços em prol das ações para acabar com o tabagismo continuam, apesar das tentativas contrárias por parte da indústria do tabaco. “O compromisso de reduzir a prevalência de tabagistas no mundo é meta de que a saúde pública não abre mão”, ressaltou a médica.
O tabagismo pode trazer os mais diversos malefícios: câncer no pulmão, boca, laringe, faringe, esôfago, pâncreas, rim, bexiga, estômago e fígado são os mais comuns. “Além de comprometer a qualidade de vida de seus usuários, ainda causa danos financeiros pelo fato de comprar cigarros diariamente e adoecer fumantes passivos”, finaliza Vera.