Analisando relação entre família e sociedade, especialista em Doutrina Social da Igreja enfatiza que a família tem muito a oferecer à sociedade
Padre Antônio Aparecido Alves*
Família e Sociedade
Houve uma evolução na compreensão da relação entre família e sociedade na Doutrina Social da Igreja. Começou com a solicitação dos direitos da família no mundo econômico, para chegar a uma afirmação de seus deveres em uma economia moderna de mercado, juntamente com outras instituições sociais que compõem a subjetividade da sociedade, terminando na questão ecológica, sobretudo a ecologia humana (Centesimus Annus n. 39; 49).
É dentro desse percurso que João Paulo II na Centesimus Annus apresenta a família como uma comunidade de trabalho e de solidariedade, pois é lá onde se darão as condições para superar a mentalidade individualista que caracteriza a sociedade moderna. Por outro lado, vem o destaque de seu papel no que tange a preocupação ecológica. Partindo da preocupação com os recursos naturais (Centesimus annus n. 37), chega-se a um nível mais alto e original, que é a ecologia humana (idem, n. 39), onde a família é entendida como promotora de uma cultura da vida, em contraposição à cultura de morte que caracteriza a sociedade.
Família, escola das virtudes sociais
Estamos vivendo em nossas comunidades a Semana Nacional da Família, que este ano tem como tema “Família, uma luz para a vida em sociedade”. Este evento acontece desde 1992 e já está, portanto, em sua 26ª edição, sempre com o objetivo de evangelizar as famílias e evidenciar sua importância para a sociedade. Em geral, ao falar de família, logo se acentua sua crise, seus problemas, seu abandono, seus desafios, enfim, pontos negativos. De uma forma muito feliz, estamos sendo convidados a olhá-la nesta semana como uma luz para a vida em sociedade, evidenciando seus pontos positivos.
É importante destacar que o ambiente familiar é escola das virtudes sociais, tais como “como a honradez, o espírito de justiça, a sinceridade, a amabilidade, a fortaleza de ânimo, sem as quais também se não pode dar uma vida cristã autêntica” (Apostolicam actuositatem n. 4). É em família que aprendemos a respeitar os idosos, a repartir nossas coisas, a ajudar na limpeza e conservação da casa e a dividir as despesas domésticas. Essas virtudes sociais aprendidas e vividas na intimidade do lar devem, portanto, transbordar para o mundo. Uma luz não se acende para ser colocada embaixo de uma mesa, mas em um lugar de destaque, para que possa iluminar a todos. É bom ressaltar, ainda, que neste ano o tema da Semana da Família está em sintonia com o impulso que a Igreja do Brasil quer dar ao compromisso dos cristãos leigos e leigas em seu protagonismo social.
Acreditar na família
É claro que existem crises, problemas e dificuldades na família e seríamos inconsequentes se não o admitíssemos. No entanto, como disse o Papa Francisco, vamos cuidar do trigo e não perder o sono por causa do joio (Evangelii Gaudium n. 24). A família tem muito a oferecer para a sociedade, educando seus membros para serem pessoas honestas, cumpridoras de seus deveres com a sociedade, vivendo com ética em todos os momentos de sua vida. Ela não é um problema a ser resolvido, mas a solução na qual devemos investir. Como disse João Paulo II, “o futuro da humanidade passa pela família” (Familiaris consortio, n. 86).
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*Padre Antonio Aparecido Alves é Mestre em Ciências Sociais com especialização em Doutrina Social da Igreja pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e Doutor em Teologia pela PUC-Rio. Professor na Faculdade Católica de São José dos Campos e Pároco na Paróquia São Benedito do Alto da Ponte em São José dos Campos (SP). Para conhecer mais sobre Doutrina Social visite o Blog: www.caminhosevidas.com.br