O cardeal de São Paulo comentou a crise política brasileira e falou sobre a reunião da Congregação para o Clero, da qual participará em Roma
Da redação, com Rádio Vaticano
O Arcebispo de São Paulo, Cardeal Odilo Pedro Scherer, que está em Roma para a reunião da Congregação para o Clero, comparou, em entrevista à Rádio Vaticano, a crise política brasileira a uma ferida, um tumor ou furúnculo, que só se é capaz de “ser curado quando ele aparece”.
“Quando ele é descoberto e quando se abre, para limpar. Assim, um pouco, a corrupção pode ser comparada a esses males terríveis. Tumores que estão dentro da sociedade, dentro da cultura. E que se eles não são abertos, não são tradados, não são limpados, esses tumores continuam a fazer muito mal e a estragar a saúde do corpo social, do corpo político, da própria cultura”, analisou o cardeal.
“O problema – disse ele – é que nós descobrimos agora o que já vinha acontecendo há muito tempo. Então, nos assustamos muito, porque constatamos que é verdade aquilo que se suspeitava. Isto nos assusta e deixa bastante desorientados”, considerou, acrescentando que é preciso olhar para todas essas questões com esperança.
Para Dom Odilo, o lado positivo é que existe um projeto “sereno” da Justiça fazendo o seu trabalho, o que não acontecia muito no passado, segundo o cardeal, ao referir-se à Operação Lava Jato. Ele destacou os novos fatos que estão surgindo, mas dentro da norma, com a “lei”, o “direito de defesa”, a “presunção de inocência” sendo respeitados. “E isso tem aparecido ultimamente, de modo que também personagens ilustres e grandes empresários, grandes políticos etc. acabam sendo presos e vão para cadeia para pagar as suas dívidas. Por outro lado, o dinheiro público desviado e roubado está sendo devolvido”, completou.
Segundo Dom Odilo, há “uma grande interrogação quanto ao futuro político, o futuro próximo” e o Brasil passa por um momento delicado: “não está bom e nós temos mesmo que torcer para que haja suficiente serenidade e lucidez para as próximas escolhas políticas que deverão acontecer daqui por diante”.
Por fim, questionado sobre novas eleições, o Cardeal disse que, dentro da atual “confusão geral”, novas eleições não chegam num “momento muito oportuno”. Porém, lembra novas eleições trazem também novas possibilidades, mas que é preciso olhar aquilo que prevê a lei. “Vamos confiar que dessa disposição legal saiam possibilidades que sejam boas. Embora o quadro no momento não seja bom, vamos confiar que possa haver alguma novidade boa”.
Congregação para o Clero
Sobre a reunião da Congregação para o Clero, para a qual está em Roma, Dom Odilo afirmou que esta “também acompanha os seminários, as vocações, as questões administrativas das paróquias, enfim, as questões administrativas ordinárias da vida da Igreja. Não do Vaticano, porque isso é até um outro departamento, mas da vida da Igreja.”
O Arcebispo explicou que há uma reunião plenária, com três dias de trabalho, vários argumentos sobre questões de seminários, ligados a nova Ratio Fundamentalis, que são as novas diretrizes da Igreja para formação sacerdotal. “Estaremos analisando questões relativas também aos padres que deixaram o ministério, as dispensas sacerdotais. Depois, veremos alguma coisa em relação à promoção vocacional.”