Cistercienses

Igreja canonizará 18 mártires trapistas, na Espanha

O Prefeito da Congregação da Causa dos Santos, Cardeal Angelo Amato, relata a história da congregação e fala sobre a atualização da mensagem do martírio

Da redação, com Rádio Vaticano

No próximo sábado, 3, serão beatificados no Mosteiro de Viacoeli, na Província de Santander, Espanha, 18 mártires cistercienses. Trata-se de 16 monges da Abadia de Viaceli de Cóbreces (Santander) e de duas monjas do Mosteiro Fons Salutis de Algemesí (Valência).

O Prefeito da Congregação da Causa dos Santos, Cardeal Angelo Amato, relata a história da congregação e fala sobre a atualização da mensagem do martírio para os dias de hoje.

Leia a íntegra:

“Deflagrada a perseguição, o Mosteiro de Cóbreces, na Província de Santander, que então contava com cerca de sessenta pessoas, foi invadido por milicianos vermelhos em busca de armas. Foi proibido aos monges de sair e de usar a corrente elétrica. Em 20 de agosto de 1936, Festa de São Bernardo, foi comunicada a supressão do culto católico. Não foi mais possível celebrar a Santa Missa, nem receber a comunhão. Os revolucionários requisitaram todos os objetos sacros, destruindo e saqueando tudo que encontraram de precioso ou de útil. Os monges, após um período de detenção, de interrogatórios, de humilhações e de torturas, foram todos mortos em circunstâncias e tempos diferentes, a partir do verão de 1936 até o final de dezembro do mesmo ano”.

– Quem eram estes mártires de Cristo?

“Era religiosos distantes de ideologias partidárias, desejosos somente de servir o Evangelho e de edificar o povo de Deus com a oração, o trabalho e o recolhimento. Eram humildes e inofensivos. Como exemplo, contamos brevemente a vida do chefe do grupo, Padre Pio Julián Heredia Zubía, nascido em 1875 em Larrea (Avala). Aos 14 anos entrou como oblato no Mosteiro cisterciense da Estreita Observância de Val San José, em Getafe, próximo a Madrid. Após a profissão solene, foi ordenado sacerdote em 18 de março de 1899. Em 1918 foi enviado ao novo Mosteiro de Santa Maria de Viaceli e nomeado mestre dos noviços. Eles, em seu depoimento, recordam dele como um formador preparado, paciente e com uma particular devoção mariana. Mais de uma vez foi surpreendido na igreja em profundo diálogo com a Santa Virgem. Após se tornou Prior do mosteiro, que recebeu dele uma extraordinária contribuição de santidade. Apenas ao contemplar a sua face plena de bondade e sorridente, se sentiam convidados a imitá-lo, a viver em Deus e desejar ardentemente a santidade. Era entusiasta da liturgia, tornando-se dela um fervoroso apóstolo. Para ele, a liturgia era a vida da vida do monge”.

– E em relação aos outros, o que o senhor poderia dizer?

“Também os outros confrades mártires, todos jovens, eram pessoas boas, humildes, generosas e totalmente abandonadas à vontade de Deus. O menor do grupo era Frei Ezequiel Álvaro de la Fuente, de apenas 19 anos, que após uma infância atribulada em família, havia encontrado na comunidade monástica  a serenidade e a alegria de viver. Frei Eulogio Álvarez López tinha apenas 20 anos. Um outro jovem, Frei Álvaro González López, de 21 anos, tinha desejado tanto consagrar-se ao Senhor junto ao seu irmão José, também ele monge Viaceli. Um outro mártir, Frei Ángel de la Vega González, alheio à perseguição em andamento, pede e consegue fazer a profissão solene na Festa de São Tiago, em 25 de julho de 1936. Entre os mártires está um noviço de 23 anos, Frei Marcelino Martín Rubio, aberto e alegre, que no momento da prisão não escondeu a sua condição de religioso, e um postulante, o sacerdote Padre José Camí Camí, nativo de Aytona, Província de Lérida, assassinado pouco antes de entrar no mosteiro”.

– Como ocorreu o martírio deles?

“Em tempos e lugares diferentes, do final de julho até o final de dezembro de 1936. Alguns foram fuzilados, outros foram afogados com as mãos atadas e a boca amordaçada na Baía de Santander. A morte deles foi terrível, também porque alguns deles, após terem sido atingidos pela morte, foram esmagados diversas vezes pelas chamadas máquinas da morte dos revolucionários anticatólicos. A crueldade não se deteve nem mesmo diante de monges inofensivos. Por exemplo, Irmã María Micaela foi fuzilada junto à sua irmã Encarnación às 21 horas de 10 de novembro. Tendo ficado gravemente ferida, os vizinhos ouviram os seus lamentos por toda a noite. Na manhã seguinte, os milicianos finalizaram o crime, esmagando-lhe a cabeça. A outra monja, Irmã María Natividad, foi capturada em novembro e algemada com seus irmãos, dois carmelitas e o outro, José, leigo. Descendo pelas escadas, já consciente do fim iminente, gritou: “Viva Cristo Rei!”. Obrigada a entrar no carro da morte, foi fuzilada no meio da estrada. O automóvel assolava após o cadáver, passando diversas vezes sobre ele e esmagando a cabeça da irmã. Dias depois ainda permaneciam manchas de sangue sobre a estrada. Nenhum sinal de respeito e de humana piedade pelos corpos mutilados”.

– O que o martírio destes religiosos representa para seus irmãos e irmãs hoje?

“Os Beatos Mártires de Viacoeli e de Fons Salutis convidam hoje seus irmãos e irmãs a perseverarem na fidelidade à sua vocação, feita de oração, de louvor ao Senhor, de apoio da Igreja com o seu sacrifício cotidiano. É este um verdadeiro martírio branco testemunhado a cada dia para a edificação da Igreja e para a redenção do mundo. É o incenso abençoado que se eleva ao céu. Em segundo lugar eles exortam a manter sempre aberta a porta do mosteiro àqueles que batem para buscar conforto, assistência, ajuda. A recordação da bondade e da generosidade dos Mártires pelos mais necessitados deve continuar a reviver com a mesma magnanimidade e gentileza. Sabemos, por exemplo, que ainda hoje a comunidade, que vive de seu próprio trabalho, dá ocupação a não poucos habitantes de Cóbreces, com os quais sempre estabeleceu uma relação justa e amigável. Sabemos também, que os pobres, como da tradição, encontram sempre hospitalidade e ajuda em seus mosteiros”.

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