A vaticanista Aura Miguel acompanhou diversas viagens de João Paulo II e comenta a santidade do Santo Padre
Aura Miguel
(Vaticanista da Rádio Renascença)
“Santo Súbito”
O fenômeno que se seguiu à morte do grande Papa João Paulo II ainda está fresco na memória de todos. Inesquecíveis as longas filas de gente anônima, que esperou várias horas para um último adeus diante do túmulo do Santo Padre. Inesquecível, sobretudo, o clamor da imensa multidão de fiéis que gritava, em língua italiana, “Santo subito!”, isto é, “Santo já!”.
Gravadas na memória ficaram também as palavras proferidas durante as exéquias pelo então decano do colégio cardinalício, Cardeal Joseph Ratzinger. Naquele momento solene, o futuro Papa traçou o melhor retrato de João Paulo II, fazendo a ligação entre a Divina Misericórdia e Nossa Senhora:
“Divina Misericórdia: o Santo Padre encontrou o reflexo mais puro da misericórdia de Deus na Mãe de Deus. Ele, que tinha perdido a mãe na tenra idade, amou ainda mais a Mãe divina. (…) Podemos estar certos de que o nosso amado Papa está agora à janela da casa do Pai, a ver-nos e a abençoar-nos. Sim, abençoa-nos Santo Padre! Nós confiamos a tua querida alma à Mãe de Deus, tua Mãe que te conduziu, todos os dias, e te conduzirá, agora, à glória eterna de Seu Filho, Jesus Cristo nosso Senhor” (Homilia, 8.IV.2005).
A beatificação de João Paulo II, pelo Papa Bento XVI, e agora a sua canonização, pelo Papa Francisco, são a prova oficial desta certeza de que todos já considerávamos evidente, ainda mesmo quando era vivo. Eu própria posso testemunhar o impacto da sua presença tão humana e tão santa, sempre que a providência divina me permitiu encontrá-lo pessoalmente, falar com ele ou até mesmo entrevistá-lo no Vaticano ou durante as viagens apostólicas pelo mundo.
O segredo dessa santidade explica-se pela sua dupla ligação a Cristo e ao Imaculado Coração de Maria, tão evidentemente revelada no momento da sua morte. É que João Paulo II morreu às vésperas litúrgicas da Divina Misericórdia e no primeiro sábado de abril, devoção ligada à Mensagem de Fátima, tão querida ao Papa polaco. Aliás, no seu testamento, há passagens reveladoras desta ligação: “O atentado à minha vida, a 13.5.1981 confirmou, (…) cada vez mais profundamente, que estou totalmente nas mãos de Deus – e permaneço continuamente à disposição de meu Senhor, confiando-me a Ele na Sua Mãe Imaculada (Totus Tuus)” .
Vinte e cinco anos depois do atentado, o cardeal Stanislaw Dziwisz, secretário particular,, atual arcebispo de Cracóvia, veio a Fátima presidir as celebrações do 13 de maio de 2006 e fez a sua leitura do atentado:
“Podemos dizer que, há vinte e cinco anos, graças precisamente à proteção de Maria, aconteceu um milagre. Graças à Sua intercessão, foi salvo o Papa João Paulo II, gravemente ferido pela bala mortífera do sicário. O próprio João Paulo II acreditava firmemente que uma mão disparou, mas outra guiou a bala. (…) Hoje – estou certo! – João Paulo II está na casa do Pai, mas nós não esquecemos aquilo que ele, então, teve de experimentar. Continuamos a agradecer ao Senhor e à Sua Mãe Santíssima a vida dele, consumida ao longo dos sucessivos vinte e quatro anos no serviço fiel a Deus, à Igreja e à humanidade inteira.”
Que o Santo João Paulo II nos ajude a viver como ele viveu, totalmente de Cristo e de Maria, ou seja, humanamente atrativo e plenamente livre.