Contribuição de JPII

Especialista analisa encíclica de JPII sobre questão social

Na segunda parte do artigo sobre o magistério social de João Paulo II, Padre Antônio fala da encíclica Sollicitudo rei socialis

Padre Antônio Aparecido Alves (Toninho)

jpii encíclica questão socialOutra encíclica social de João Paulo II é a SOLLICITUDO REI SOCIALIS (Solicitude da Igreja pelas coisas sociais). Este documento não é comemorativo da Rerum Novarum, mas do 20º. Ano da Populorum Progressio de Paulo VI (Progresso dos Povos) escrita em 1967.

João Paulo II faz uma reflexão nitidamente ético-teológica sobre a questão do desenvolvimento, denunciando as “estruturas de pecado” que geram a miséria. Propõe a “solidariedade” como o novo nome da Paz, enquanto Paulo VI havia dito na Populorum Progressio que “desenvolvimento” era o seu novo nome.

Acesse também
.: Magistério social de JPII: Encíclica Laborem Exercens

Alguns pontos merecem destaque:

1) Questão da interdependência: a encíclica parte do princípio de que existe uma “interdependência” entre todos os seres humanos. Quando esta é assumida como uma categoria ética, temos a solidariedade. Caso contrário, teremos a hegemonia do mais forte sobre o mais fraco.

2) Uma leitura geopolítica: ele aborda a questão dos dois grandes blocos econômicos, que tentam predominar-se um ao outro. O confronto leste/oeste gerou o fosso entre Norte e Sul.

3) Uma análise estrutural : o subdesenvolvimento do Sul não é ‘natural’, mas causado pela maneira como o mundo está organizado. Existem mecanismos econômicos, financeiros e industriais que geram pobreza e exclusão. Existe uma relação causal entre riqueza/pobreza (Srs, n. 14; 16).

4) Um novo conceito de desenvolvimento: chama a atenção para um falso otimismo mecanicistico, que fazia do desenvolvimento um processo retilíneo, quase automático e ilimitado. Essa idéia, segundo ele, está ligada a uma concepção de ‘progresso’ de tipo iluminístico (Srs, n. 27). O Papa rebate essa visão unilateral do desenvolvimento e sublinha aquilo que era já o ensinamento de seus predecessores a esse respeito, isto é, que o desenvolvimento não pode ser medido somente por estatísticas que mostram algum crescimento econômico, mas por um efetivo melhoramento do nível de vida de todos os seres humanos em todas as suas dimensões. Esta é a chave de leitura para o conceito de desenvolvimento em João Paulo II. Um verdadeiro desenvolvimento deve levar em conta o ‘parâmetro interior’ do homem (Srs, n. 29).

5) O conceito de solidariedade: essa não é uma ‘opção’ a ser feita em nome de um humanitarismo mais ou menos consciente, mas é fruto de uma interdependência que se acentua mais e mais entre os Estados. Não é meramente um “sentimento de vaga compaixão ou de superficial sensibilidade pelos males de tantas pessoas, próximas ou distantes” (Srs, n. 38). Seria muito fácil toma-la sob esse aspecto sentimental. O que significa essa palavra é algo mais.

“Ao contrário, é a determinação firme e perseverante de se empenhar pelo bem comum: ou seja pelo bem de todos e de cada um, porque todos somos realmente responsáveis uns pelos outros” (Srs, n. 38).

6) Um novo conceito de Doutrina Social da Igreja: aparece a idéia da Doutrina social da Igreja como Teologia Moral (Srs 41).

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Padre Antônio Aparecido Alves é Mestre em Ciências Sociais com especialização em Doutrina Social da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma. Doutor em Teologia pela PUC-Rio. Presbítero na Diocese de São José dos Campos/SP

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