Coluna - padre Mario Marcelo

Padre reflete sobre o domínio do bem na vida do cristão

O domínio do BEM na vida do cristão

“Buscai o bem e não o mal, e vivereis; e o Senhor Deus dos exércitos estará convosco, como o dizeis. Detestai o mal, amai o bem, fazei reinar a justiça nas vossas assembléias; talvez então o Senhor, o Deus dos exércitos, tenha piedade do que resta de José!” (Amós 5,14-15)

Quando olhamos ao nosso redor presenciamos muitas situações de violências, agressões, roubos, assassinatos, vandalismos, injustiças, etc., causando o sentimento de que o mal parece dominar a nossa realidade e o coração das pessoas. A indiferença, a exploração, o egoísmo, a escravidão são consequências de uma sociedade que alimenta este mal. Tudo isto nos faz questionar a relação entre o bem e o mal que nos envolve. Lendo uma reportagem do Jornal “Folha de São Paulo”, 23 de abril de 2013, “O mal”, brotaram em mim alguns questionamentos. Posso dizer-lhes que concordo com alguns pontos que o jornal elencou. Que o mal é algo que suscita em nós e em vários tempos questionamentos e indagações sobre a sua origem, efeitos e consequências; e que não podemos negar que a violência esteja presente em nossa sociedade e que fere as pessoas em suas várias dimensões (física, psicológica, espiritual, etc).

A presença do pecado é “sinal” concreto da existência do mal. O pecado é a manifestação do mal. Para melhor entendermos pecado é preciso confrontar com a realidade que envolve o ser humano. Dentro desta realidade não podemos negar a presença do mal que perturba a sociedade e as diversas ciências. O mal existe, está aí e nos influencia. De onde vem este mal? Esta pergunta ultrapassa tempo e espaço, perpassa toda história do homem e as diversas ciências vêm tentando dar uma resposta. Foram várias as reflexões na filosofia, teologia e outras ciências. Todas as tentativas ainda não conseguiram dar toda a resposta para este mistério que deixou e deixa estudiosos ainda com interrogações. O mal rege os problemas que atormentam nossa sociedade. O mal nos desafia e sempre nos desafiou. É um mistério que ultrapassa toda e qualquer tentativa de explicação e justificação. É no relacionamento entre o ser humano e o seu ambiente que o mal está situado. As tentativas de explicação apresentam questionamentos, confrontos, limites, etc.

O questionamento é o seguinte: Deus criou tudo bom, é o que afirma o livro do Gênesis, Gn 1,31: “E viu, Deus, que era bom tudo quanto havia criado” e Paulo afirma em sua carta a Timóteo, “Toda criatura de Deus é boa” (1Tm 4,4a). Portanto, de onde vem o mal? O que é o mal? Até quando o mal vai agir?

O Catecismo da Igreja Católica nos números 309 e 310 faz questionamentos: “Se Deus Todo-Poderoso, Criador do mundo ordenado e bom, cuida de todas as suas criaturas, por que existe o mal? Mas, por que Deus não criou um mundo tão perfeito, que nenhum mal nele pudesse existir?” Os mesmos números nos apresentam as possíveis respostas. É o conjunto da fé cristã que determina a resposta a tal questão: a bondade da criação, o drama do pecado, o amor paciente de Deus que vem ao encontro do homem por suas Alianças, pela Encarnação redentora de seu Filho, pelo dom do Espírito Santo, pela união da Igreja, pela força dos Sacramentos, pelo chamado a uma vida bem-aventurada.

“No seu poder infinito, na sabedoria e bondade infinitas, Deus quis livremente criar um mundo “em processo”, a caminho da perfeição última. Essa evolução supõe, segundo o desígnio de Deus, a aparição de certos seres e o desaparecimento de outros, o mais perfeito e o mais imperfeito, tanto a construção da natureza como a destruição. Com o bem físico existe também o mal físico, enquanto a criação não houver atingido sua perfeição”.

A existência do mal não significa o seu domínio, mas nos chama a atenção para a necessidade da vigilância e que o mal ainda está aí, precisa ser combatido, eliminado do nosso meio. No Novo Testamento fica claro que a existência do mal deve ser tomada a sério, sobretudo na forma de pecado. As ações de Jesus focalizam a luta concreta contra o mal. A cura dos doentes, o perdão dos pecados, a ressurreição dos mortos, a tentação no deserto, etc., revelam a vitória de Jesus sobre o mal e também a atitude que devem adotar os discípulos de Jesus perante o mal moral.

“O que sabemos é que o mal está aí como desafio, e que a responsabilidade de fazê-lo progredir ou regredir é do ser humano. Quando o homem ajuda a progredir o mal ele peca” (CEC 310). No mundo temos muitas oportunidades de praticar o mal. Somos livres. Mas, com certeza, temos mais oportunidades ainda de praticar o bem. Tome consciência, vai sobreviver, quem você alimentar o bem ou o mal.

O problema da sociedade é que as pessoas, os meios de comunicação social enfatizam muito mais o mal, a “desgraça”, a tragédia e deixam de falar bem do bem. Não divulgam as obras de bondade e, por isto, temos a impressão que o mal está vencendo, que as trevas estão dominando a luz. Isto não é verdade, a Luz é mais forte porque o próprio Jesus é a Luz (Jo 8,12) que veio ao mundo e venceu, ressuscitou.

Ao morrer na cruz, Jesus já venceu o mal, até mesmo a morte. A bondade humana prevalece com Cristo: “Onde abundou o pecado, superabundou a Graça” (Rm 5,20). Deus intervém para libertar o ser humano do mal, especialmente quando este é fruto do pecado e das suas conseqüências. O apóstolo Paulo em seus escritos nos mostra que a vitória sobre o mal só é possível com a presença e a atuação de Jesus e sua graça.

O Espírito de Deus que habita em nós é Graça que vem em socorro de nossas fraquezas e, por isto, todos os batizados têm a força que vem de Deus e podem vencer o pecado. A cada pecado que cometemos é o mal que ganha espaço, que vence, mas quando praticamos o bem e evitamos o mal, a Graça de Deus vence e ganha espaço.

Como Pedro (Mt 16,17-18), devemos também nós termos os pensamentos de Deus, pois só assim seremos pedras de construção do Reino de Deus. A pessoa precisa agir de forma a buscar fazer com que o bem sobressaia ao mal. Aquele que acredita na vitória de Jesus é capaz de permanecer firme na luta contra toda forma de maldade presente no mundo. Este não desanima e acredita que quem perseverar até o fim vai vencer, plenamente, com Cristo.


 

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