Entrevista com o bispo de Guarulhos, Dom Joaquim Justino Carreira, sobre o tema "dignidade e qualidade de vida", uma das temáticas abordadas durante a Semana Nacional da Vida de 2012. Dom Joaquim é membro da Comissão Episcopal Pastoral para Vida e Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
noticias.cancaonova.com – É característica do ser humano a busca incessante pela felicidade, mas às vezes essa busca é pautada por valores do mundo. Onde está a verdadeira felicidade que preenche o ser humano?
Dom Joaquim Justino Carreira – A felicidade das pessoas é ferida pelo pecado, pelas impurezas, pelo amor-próprio, pelo fechamento nos próprios interesses, pelo egoísmo, pelo orgulho, pela soberba e outros males. Muitos pensam que a felicidade é que todos satisfaçam as suas vontades e que não peçam nada. O ser humano foi criado por Deus por amor e para amar e somente em Deus pode ter a vida eterna e a felicidade às quais aspira e para as quais foi criado. A verdadeira felicidade está em viver a comunhão com Deus, sair do próprio egoísmo e ser feliz fazendo os outros felizes.
noticias.cancaonova.com – Ao buscar a felicidade no mundo e não encontrá-la, as pessoas costumam se frustrar e, às vezes, culpar Deus. Por que Deus permite esse tipo de situações?
Dom Joaquim – Ao buscarmos a felicidade nas coisas do mundo, nunca estaremos satisfeitos, pois sempre existirão coisas que não são nossas. Assim sendo, surge a inveja que me impede de ser feliz, pois não posso dominar todas as coisas e pessoas em meu proveito próprio. Somos criados por Deus, para ser livres. Podemos fazer o bem ou o mal. Nosso egoísmo e falta de sabedoria são tamanhos, que se as coisas vão bem as atribuímos a nós mesmos e se vão mal culpamos a Deus e aos outros. Deus permite tudo isto, porque nos ama e nos deixa livres. Porém, nos chama à conversão e ao verdadeiro sentido da vida. Deus nos fala por Palavras e também pelos acontecimentos. Cabe a nós, diariamente, discernir e escolher o bem. A verdadeira felicidade não está nas riquezas, no bem estar, na glória humana, no poder, na técnica, na arte e nem em outra criatura qualquer, mas apenas em Deus, fonte de todo o bem e de todo o amor.
noticias.cancaonova.com – Em busca de qualidade de vida, muitas pessoas passam por cima de tudo e se respaldam no ditado que diz que “os fins justificam os meios”. Mas essa indiferença em relação ao próximo acaba ferindo a própria dignidade dessa pessoa. Como o cristão deve agir quando presencia esta situação e como deve se prevenir para não cair nesse tipo de conduta?
Dom Joaquim – Muitas pessoas, enganadas a respeito do sentido da vida, pensam apenas no próprio bem estar e na própria felicidade, mesmo prejudicando os outros, a sociedade e a natureza. Posso ter boas intenções, mas se os atos forem desonestos não poderão dar origem ao bem. O bem é bem para todos, amigos e inimigos. O bem supõe adequação à verdade e à sabedoria que vem de Deus. O cristão guiado pela Palavra de Deus e pela doutrina da Igreja deve discernir entre seguir a Sabedoria de Deus ou os enganos do mundo. Deve denunciar o que não realiza e escolher o que de verdade traz a felicidade – amar a Deus e amar o próximo. O verdadeiro desejo da felicidade liberta o ser humano do apego imoderado aos bens deste mundo, para nos realizar na visão e na bem-aventurança de Deus.
noticias.cancaonova.com – O que devemos fazer para termos a verdadeira dignidade e qualidade de vida que Deus quer para nós?
Dom Joaquim – A CNBB através da Comissão Nacional da Pastoral Familiar, em vista de oferecer subsídios para a Semana Nacional da Vida (1 a 7 de outubro de 2012), elaborou o subsídio “Hora da Família” , com temas ligados aos títulos: vida, saúde e dignidade: direito e dever de todos.
A vida humana está cada vez mais ameaçada em sua dignidade desde a concepção até à hora da morte. O mundo está baseado na cultura da morte, usando meios imorais para impedir a fecundação, para abortar os que foram gerados, promovendo as drogas, os vícios que colocam em risco imenso número de pessoas. É grande o desrespeito aos enfermos, aos idosos, aos necessitados, antecipando a morte de muitas pessoas por falta de assistência em geral.
Como cristãos somos chamados a ter consciência dos males internos e externos que nos afetam constantemente. Podemos e devemos renunciar a eles e nos colocarmos a serviço uns dos outros na preservação da vida e da dignidade. Somos chamados a ser corajosos e a viver a caridade, ou seja, o amor a Deus e ao próximo.
A caridade respeita o outro e os seus direitos e exige a prática da justiça. A glória de Deus é o homem vivo, afirma Santo Irineu. Jesus veio para que todos tenham vida e a tenham em abundância. (Jo 10,10).
