Igreja e meio ambiente

Dom Odilo destaca contribuição da Igreja na Rio+20

Jéssica Marçal, com colaboração de Otávio Baldim
Da redação

Dom Odilo destaca contribuição da Igreja na Rio+20

”Nós partimos do princípio da nossa fé em Deus criador. Deus viu que era bom, então se é bom nós devemos tratar bem”, diz Dom Odilo / Foto: Arquivo CN

Enviado especial para a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), o cardeal arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Pedro Scherer, acredita que a Igreja vai poder contribuir dando sequência ao trabalho que já realiza: ajudar o ser humano a ter uma consciência mais clara sobre sua relação com a natureza. A Conferência está sendo realizada no Rio de Janeiro (RJ) de 13 a 22 de junho deste ano.

Dom Odilo participa dos debates nos próximos dias 20 e 22. Nesse período, será realizado o Segmento de Alto Nível da Conferência, com a presença de representantes de vários países do mundo. Ele disse que a palavra da Igreja é apreciada, mesmo diante do fato de que nem sempre todos a levem em conta. O cardeal enfatizou que a Santa Sé tem sim um peso nas discussões e que vai fazer a sua parte, dando a contribuição da Igreja.

Veja abaixo a íntegra da entrevista que Dom Odilo concedeu ao repórter Otávio Baldim.

noticias.cancaonova.com –  Como o senhor vê a possibilidade de representar o Papa Bento XVI na Rio+20?

Dom Odilo Pedro Scherer – Pra mim foi, naturalmente, motivo de grande alegria, e ao mesmo tempo uma responsabilidade grande de estar representando a Santa Sé como enviado especial e ao mesmo tempo chefiando a delegação da Santa Sé para a Conferência Rio+20. Eu, naturalmente, não estarei sozinho, mas com toda uma delegação de diplomatas e estudiosos que vão estar nesta comitiva, digamos assim, dessa delegação da Santa Sé. Eles já estão acompanhando todas essas questões, a organização da Cúpula Rio+20 e, ao mesmo tempo, os assuntos tratados há mais tempo e com todo conhecimento das várias implicações, dos discursos, das posições que ali vão aparecer. Evidentemente, vão ajudar para que agente possa estar ali apresentando e representando a posição da Santa Sé, da Igreja e, em última análise, em relação às várias questões tratadas.

noticias.cancaonova.com – Como a Igreja espera contribuir para a Rio+20?

Dom Odilo – Nós esperamos continuar a fazer aquilo que já estamos fazendo, que a Igreja está fazendo ajudando a sociedade e a humanidade, primeiramente, a ter uma consciência mais clara sobre a relação com a natureza, como ela deve ser. Nós partimos do princípio da nossa fé em Deus criador. Deus viu que era bom, então se é bom nós devemos tratar bem. Se é obra de Deus nós devemos, portanto, valorizá-la, acolhê-la com gratidão, não estragá-la e não desrespeitá-la. Por outro lado, a Igreja, nas questões ambientais, destaca sempre que o homem está no centro. O ser humano deve ser aquele que, de fato e em última análise, é o objeto final das reflexões ambientais. Então não podemos, por exemplo, promover um discurso ambientalista que queira tirar o homem do meio ambiente. Isso seria, do nosso ponto de vista, equivocado. Porém, o ser humano também precisa estar no lugar certo e fazer o que é certo, por isso uma ética correta nas relações com meio ambiente a Igreja também propõe. E a ética é a ética da solidariedade porque nós temos sempre que pensar que não somos os últimos, os únicos a habitar o Planeta Terra. Portanto, esta casa colocada à nossa disposição com todos os seus recursos, a casa que nos hospeda, nos abriga, nos alimenta, esta mesma casa está à nossa disposição agora, mas depois de nós virão outros que também querem usá-la, habitá-la, alegra-se e poder ainda viver bem nesta mesma casa. Então o que nós temos que fazer é pensar nos outros, nunca sozinhos. Um pensamento solidário, este é fundamental quando tratamos das questões ambientais.

noticias.cancaonova.com – O senhor estava falando que o homem não pode esquecer a natureza, até porque ele não conseguiria viver sem os recursos naturais que hoje estão disponíveis, mas não com tanta grandeza como tinha antigamente, não é?

Dom Odilo – Não é que os recursos naturais estão acabando. Eles existem e devem ser zelados. Então o homem, ainda voltando mais uma vez à visão cristã sobre o mundo, o homem e a natureza, o homem foi colocado como um zelador no jardim, no paraíso. Então o homem deve assumir a sua responsabilidade de cuidar bem e não de estragar o jardim, o paraíso terrestre, ou seja, o mundo em que nós vivemos. Por isso o homem está no centro, quer como beneficiado, mas também como responsável para bem cuidar do mundo, justamente na visão solidária de modo que não haja um pensamento e nem uma atitude egoísta em que os bens acabam sendo acumulados apenas em poucas mãos ou para poucos povos e outros fiquem com falta desses bens. Da mesma forma, no futuro poderá haver bens da criação do mundo renováveis, aliás, a maioria dos bens é renovável e nós podemos muito bem viver com eles por muito tempo no Planeta Terra, contanto que nós zelemos pelas condições da vida no planeta, de modo que a nossa terra continue a produzir plantas, frutas, alimentos, sustento para todas as criaturas que aqui vivem e para nós também e que nós não depredemos os recursos naturais tornando inviável a vida para o futuro.

noticias.cancaonova.com – O senhor vai estar participando da Rio+20 entre os dias 20 e 22, que é um dia do segmento do alto nível da Conferência em que estarão participando representantes de vários países do mundo inteiro. O senhor acha que a opinião da Igreja vai ter o mesmo peso da opinião desses representantes?

Dom Odilo – A Santa Sé, representando a Igreja, nós temos que falar que aqui não está presente a Igreja enquanto Igreja, mas está presente o Vaticano representando a Santa Sé, tem uma autoridade moral muito grande. Essa palavra da Igreja é apreciada mesmo que nem sempre todos a levem em conta. Mas a palavra da Igreja representada pela Santa Sé tem um peso e por isso mesmo a Santa Sé não pode deixar de dizer a sua palavra, de apresentar a sua posição. Evidentemente, depois nas decisões as questões são tomadas de acordo com o critério que cada delegação oficial vai ter, as orientações recebidas oficialmente, e aí o voto de todos é igual. Evidentemente que a Santa Sé não deixará de fazer a sua parte.

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