Queridos irmãos e irmãs!
Na sequência da solene liturgia do Natal do Senhor, hoje celebramos a festa de Santo Estêvão, diácono e primeiro mártir da Igreja. O historiador Eusébio de Cesaréia define-o como o "mártir perfeito" (Die Kirchengeschichte V,2,5: GCS II,1, Lipsia 1903, 430), porque está escrito nos Atos dos Apóstolos: " Estêvão, cheio de graça e fortaleza, fazia grandes milagres e prodígios entre o povo" (6,8). São Gergório de Nissa comenta: "Era um homem honesto e cheio do Espírito Santo: com a bondade da alma cumpria o encargo de alimentar os pobres e, com a liberdade da palavra e a força do Espírito Santo, calava a boca dos inimigos da verdade" (Sermo in Sanctum Stephanum II: GNO X,1, Leiden 1990, 98). Homem de oração e evangelizador, Estêvão, cujo nome significa "coroa", recebeu de Deus o dom do martírio. De fato, ele, "cheio do Espírito Santo […] vê a glória de Deus" (At 7,55). Enquanto era apedrejado, rezava: "Senhor Jesus, acolhe o meu espírito" (At 7,59). Depois, caído de joelhos, suplicava o perdão para os acusadores: "Senhor, não imputeis a eles este pecado" (At 7,60). Por isso a Igreja oriental canta nos hinos: "As pedras tornaram-se para ti degraus e escadas para a subida celeste […] e te aproximastes alegre da festiva reunião dos anjos" (MHNAIA t. II, Roma 1889, 694.695).
Após a geração dos Apóstolos, os mártires adquiriram um lugar de primeiro plano na consideração da Comunidade cristã. Nos tempos de maior perseguição, os seus louvores refrescam o fatigoso caminho dos fiéis e encorajam quem está em busca da verdade para converter-se ao Senhor. Por isso a Igreja, por divina disposição, venera as relíquias dos mártires e honra-lhes com adjetivos como "mestres de virtude", "testemunhas vivas", "colunas animadas", "silenciosos mensageiros" (Gregorio di Nazianzo, Oratio 43, 5: PG 36, 500 C).
Queridos amigos, a verdadeira imitação de Cristo é o amor, que alguns escritores definiram como o "martírio secreto". A esse propósito, São Clemente de Alexandria escreve: "Aqueles que colocam em prática os mandamentos do Senhor lhe dão testemunho em cada ação, pois fazem aquilo que Ele quer e fielmente invocam o nome do Senhor" (Stromatum IV, 7,43,4: SC 463, Paris 2001, 130). Da mesma forma que na Antiguidade, também hoje a sincera adesão ao Evangelho pode requerer o sacrifício da vida e muitos cristãos, em diversas partes do mundo, são expostos à perseguição e às vezes ao martírio. Mas, recorda-nos o Senhor, "aquele que perseverar até o fim será salvo" (Mt 10,22).
A Maria Santíssima, Rainha dos Mártires, dirigimos a nossa súplica para manter íntegra a vontade pelo bem, sobretudo por aqueles que se opõe a nós. Em particular, confiamos à misericórdia divina os diáconos da Igreja, a fim de que, iluminados pelo exemplo de Santo Estêvão, colaborem, segundo a missão que lhes é própria, com o compromisso da evangelização (cf. Exort. ap. postsin. Verbum Domini, 94).
Ao final do Angelus, o Papa dirigiu-se aos peregrinos de língua portuguesa: A minha saudação estende-se também aos peregrinos de língua portuguesa,
desejando que esta vinda a Roma encha de paz e alegria natalícia os vossos corações. Assim podereis imitar Santo Estêvão no seu amor apaixonado por Cristo, fazendo-o transbordar sobre os conterrâneos e vossa família, que de coração abençoo!