Santidade

Jovem assassino francês convertido caminha rumo à beatificação

Na história da Igreja Católica, só houve um outro caso precedente de alguém condenado à pena capital que tenha se convertido e, posteriormente, chegado à honra dos altares: o bom ladrão, crucificado junto a Jesus Cristo, há mais de dois mil anos.

Em pleno século XXI, essa história tem grandes chances de se repetir. Trata-se do processo de beatificação do jovem francês Jacques Fesch, que foi guilhotinado em 1957 por matar um policial e ferir outra pessoa durante um roubo. Sua conversão radical aconteceu na prisão, nos meses que antecederam sua morte, aos 27 anos.

O precedente único explica a cautela com que o caso do jovem foi apresentado à investigação diocesana, em 1987. O então Arcebispo de Paris, Cardeal Jean Marie Lustiger, orientou uma elaborada reflexão sobre a vida de Fesch e obteve a autorização da Congregação para as Causas dos Santos para abrir formalmente a causa de beatificação em 1993. O processo acaba de concluir sua fase diocesana e segue agora para Roma.

"Declarar santo a alguém não significa para a Igreja admirar os méritos dessa pessoa, mas propor um exemplo da conversão de alguém que, independentemente de sua caminhada humana, foi capaz de ouvir a voz de Deus e se arrepender. Não há pecado tão grave que impeça o homem de chegar a Deus, que lhe propõe a salvação", disse o Cardeal Jean quando abriu a investigação. "Espero que, um dia, eu o venere como uma figura da santidade", agregou.

A história

O jovem nasceu em 6 de abril de 1930, em Saint-Germain-en-Laye. Era filho de um rico banqueiro de origem belga, artista e ateu, distante do filho e infiel à esposa, da qual pediu divórcio.

Jacques foi educado na religião católica, mas abandonou a fé aos 17 anos. Aos 21, casou-se no civil com a noiva já grávida. Seu sogro conseguiu um trabalho no banco, período em que teve a vida de um playboy. No entanto, abandonou a esposa e a filha e teve um filho com outra mulher.

O crime cometido por Jacques aconteceu em 24 de fevereiro de 1954, quando tentou roubar o cambista Alexandre Sylberstein, com o objetivo de financiar a compra de um barco que o levaria ao longo do Oceano Pacífico. Sylberstein ficou ferido, mas conseguiu apertar o alarme contra roubos. O jovem Fesch chegou a fugir, mas perdeu seus óculos ao longo do percurso.

Durante a fuga, Fesch disparou contra um oficial de polícia que o perseguia, Jean Vergne, causando sua morte. Minutos mais tarde foi detido. Assassinar um oficial de polícia era um crime atroz e a opinião pública, inflamada pelos relatos da imprensa, manifestou-se decididamente favorável à sua execução. A Corte de Paris condenou-o à morte em 6 de abril de 1957.

A conversão

Logo após sua prisão, Jacques era indiferente à sua situação e ridicularizava a fé católica de seu advogado. No entanto, após um ano, o jovem assassino experimentou uma profunda conversão e arrependeu-se profundamente de seu crime. Ele aceitou sua pena e reconciliou-se com a esposa uma noite antes da execução.

A última coisa que escreveu em seu diário foi: "Em cinco horas, verei a Jesus". Foi guilhotinado em 1º de outubro de 1957.

Após a morte, sua esposa e filha honraram sua memória como exemplo de redenção. No princípio, tal reconhecimento foi depreciado pelo público, mas o trabalho de uma freira carmelita, irmã Véronique, e do padre Augustin-Michel Lemonnier fez com que a família publicasse o diário espiritual que Jacques havia escrito na prisão, páginas que serviram e servem de inspiração para muitas pessoas.

Causa controvertida

O caso de Jacques foi alvo de controvérsia entre os que pensavam que seus crimes o tornavam indigno como modelo a ser seguido e entre os que ressaltavam a esperança de sua conversão final.

"Beatificar a Jacques Fesch não significa reabilitá-lo moralmente, nem dar-lhe um certificado de boa conduta ou um prêmio como a Legião de Honra. Sua conversão foi de ordem espiritual. Beatificar a Jacques Fesch será reconhecer que a comunidade cristã pode rezar a alguém que está ao lado de Jesus", escreveu o teólogo André Manaranche em resposta ao debate.

Em 2 de dezembro de 2009, o Vigário-geral de Sua Santidade para a Cidade do Vaticano, Cardeal Angelo Comastri, acompanhou a irmã de Fesch, Monique, durante uma visita a Bento XVI, no Vaticano. Monique confidenciou ao Papa: "Meu irmão e eu nos entendíamos largamente. Quando ele fez oito anos de idade, fui sua madrinha de batismo, e, quando esteve no cárcere, acompanhei de perto sua extraordinária conversão".

Junto ao biógrafo Ruggiero Francavilla, Monique mostrou ao Papa algumas das cartas escritas por Jacques enquanto estava na prisão.

Na oportunidade, o Cardeal Comastri disse ao jornal L´Osservatore Romano que, quando exercia o cargo de capelão do presídio Regina Coeli, um preso apresentou-lhe a fascinante história de Fesch.

"É um testemunho único: jovem descentrado, de rica família, torna-se assassino e é condenado à morte. Tinha 27 anos. No cárcere, vive uma conversão radical, fulgurante, alcançando altos cumes de espiritualidade", disse.

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