Senhores Cardeais,
Venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio,
Queridos irmãos e irmãs.
Dirijo a cada um de vós a minha cordial saudação por esta visita, em ocasião da reunião plenária da Congregação para a Educação Católica. Saúdo o Cardeal Zenon Grocholewski, prefeito do Dicastério, agradecendo-o pelas suas cordiais palavras, bem como ao Secretário, ao Subsecretário, aos Oficiais e aos Colaboradores.
As temáticas que afrontareis nestes dias têm como denominador comum a educação e a formação, que constituem hoje um dos desafios mais urgentes que a Igreja e as suas instituições são chamadas a afrontar. A obra educativa parece que se tornou ainda mais árdua porque, em um cultura que, infelizmente, muitas vezes faz do relativismo o próprio credo, vem a faltar a luz da verdade, de fato considera-se perigoso falar de verdade, incutindo assim a dúvida sobre valores básicos da existência pessoal e comunitária. Por isso, é importante o serviço que desenvolvem no mundo as numerosas instituições formativas que se inspiram na visão cristã do homem e da realidade: educar é um ato de amor, exercício da "caridade intelectual", que requer responsabilidade, dedicação, coerência de vida. O trabalho da vossa Congregação e as escolhas que fareis nestes dias de reflexão e de estudo contribuirão certamente para responder à atual "emergência educativa".
A vossa Congregação, criada em 1925 por Bento XV, há quase cem anos desenvolve a sua obra preciosa a serviço das várias Instituições católicas de formação. Entre essas, sem dúvida, o seminário é uma das mais importantes para a vida da Igreja e exige, portanto, um projeto formativo que leve em conta o contexto anteriormente mencionado. Várias vezes sublinhei como o seminário é uma etapa preciosa da vida, em que o candidato ao sacerdócio faz a experiência de ser "um discípulo de Jesus". Para esse tempo destinado à formação, é requerido certo distanciamento, certo "deserto", porque o Senhor fala ao coração com uma voz que se ouve apenas quando há silêncio (cf. I Re 19,12); mas é pedida também a disponibilidade de viver em comum, a amar a "vida de família" e a dimensão comunitária que antecipam aquela "fraternidade sacramental" que deve caracterizar todo o presbítero diocesano (cf. Presbyterorum ordinis, 8) e que desejei relembrar também na minha Carta aos seminaristas: "uma pessoa não se torna sacerdote sozinha. É necessária a 'comunidade dos discípulos', o conjunto daqueles que querem servir a Igreja de todos".
Nestes dias, estudareis também o esboço do documento sobre internet e a formação nos seminários. Internet, pela sua capacidade de superar as distâncias e de colocar em contato recíproco as pessoas, apresenta grandes possibilidades também para a Igreja e a sua missão. Com o necessário discernimento para o seu uso inteligente e prudente, é um instrumento que pode servir não comente para os estudos, mas também para a ação pastoral dos futuros presbíteros nos vários campos eclesiais, como a evangelização, a ação missionária, a catequese, os projetos educativos, a gestão das instituições. Também neste campo é de extrema importância poder contar com formadores adequadamente preparados para que sejam guias fiéis e sempre atualizados, a fim de acompanhar os candidatos ao sacerdócio para o uso correto e positivo dos meios informáticos.
Neste ano, pois, acontece o LXX aniversário da Pontifícia Obra para as Vocações Sacerdotais, instituída pelo Venerável Pio XII para favorecer a colaboração entre a Santa Sé e as Igrejas locais na preciosa obra de promoção das vocações ao ministério ordenado. Tal acontecimento poderá ser ocasião para conhecer e valorizar as iniciativas vocacionais mais significativas promovidas nas Igrejas locais. É importante que a pastoral vocacional, além de sublinhar o valor do chamado universal a seguir Jesus, insista mais claramente sobre o perfil do sacerdócio ministerial, caracterizado pela sua específica configuração a Cristo, que o distingue essencialmente dos outros fiéis e se coloca ao serviço deles.
Já iniciastes, além disso, uma revisão acerca do que prescreve a Constituição apostólica Sapientia christiana sobre os estudos eclesiásticos, referente ao direito canônico, aos Institutos Superiores de Ciências Religiosas e, recentemente, à filosofia. Um setor sobre o qual refletir particularmente é aquele da teologia. É importante tornar sempre mais sólido o vínculo entre a teologia e o estudo da Sagrada escritura, de modo que essa seja realmente sua alma e coração (cf. Verbum Domini, 31). Mas o teólogo não deve deixar de ser também aquele que fala com Deus. É indispensável, portanto, manter estreitamente unidas a teologia com a oração pessoal e comunitária, especialmente litúrgica. A teologia é scientia fidei e a oração nutre a fé. Na união com Deus, o mistério é, de algum modo, superado, faz-se próximo, e essa proximidade é luz para a inteligência. Desejo sublinhar também a conexão da teologia com as outras disciplinas, considerando que ela é ensinada nas Universidades católicas e, em muitos casos, naquelas civis. O Beato John Henry Newman falava de "círculo do saber", circle of knowledge, para indicar que existe uma interdependência entre os vários ramos do saber; mas Deus e Ele somente tem relação com a totalidade do real; por consequência, eliminar Deus significa romper o círculo do saber. Nessa perspectiva, as Universidades católicas, com a sua identidade bem precisa e a sua abertura à "totalidade" do ser humano, podem desenvolver uma obra preciosa para promover a unidade do saber, orientando estudantes e professores à Luz do mundo, a "luz verdadeira que ilumina todo o homem" (Jo 1,9). São considerações que se aplicam também para as Escolas católicas. É preciso, antes de tudo, a coração de anunciar o valor "amplo" da educação, para formar pessoas sólidas, capazes de colaborar com os outros e de dar sentido à própria vida. Hoje, fala-se de educação intercultural, objeto de estudo também na vossa Plenária. Nesse âmbito, requer-se uma fidelidade corajosa e inovadora, que saiba conjugar a clara consciência da própria identidade e abertura ao diferente, pelas exigências de viver em conjunto nas sociedades multiculturais. Também para esse fim, emerge o papel educativo do ensino da Religião católica como disciplina escolástica em diálogo interdisciplinar com as outras. De fato, ela contribui largamente não somente para o desenvolvimento integral do estudante, mas também para o conhecimento do outro, para a compreensão e o respeito recíproco. Para chegar a tais objetivos, deverá ser prestado particular cuidado à formação dos dirigentes e dos formadores, não somente de um ponto de vista profissional, mas também religioso e espiritual, por que, com a coerência da própria vida e com o envolvimento pessoal, a presença do educador cristão torna-se expressão de amor e testemunho da verdade.
Queridos irmãos e irmãs, agradeço-vos por tudo que fazeis com o vosso competente trabalho ao serviço das instituições educativas. Tenhais sempre o olhar dirigido a Cristo, o único mestre, para que, com o seu espírito, torne eficaz o vosso trabalho. Confio-vos à materna proteção de Maria Santíssima, Sedes Sapientiae, e de coração concedo a todos a Bênção Apostólica.