As iniciativas que buscam a libertação da cristã paquistanesa Asia Bibi – condenada à morte por acusação de blasfêmia contra a fé muçulmana e presa há um ano próximo a Lahore – ganham o reforço do presidente do Pontíficio Conselho para o Diálogo Inter-religioso, Cardeal Jean-Louis Tauran.
Tauran chega nesta quinta-feira, 25, ao Paquistão, na tentativa de sensibilizar o governo local sobre o caso de Asia. O encontro entre o purpurado vaticano e as autoridades civis deve acontecer hoje, incluindo o ministro para as Minorias de fé cristã, Shahbaz Bhatti, e o presidente Asif Ali Zardari.
Bhatti revelou que foi ameaçado por extremistas islâmicos, contrários à revogação da lei da blasfêmia. Durante o encontro, o ministro entrega um relatório detalhado ao presidente, que deve analisar o pedido de clemência feito pela mulher.
"A visita do Cardeal Jean-Louis Tauran representa um grande encorajamento para os cristãos no Paquistão e acontece em um momento crítico, em que se registram crescentes tensões sociais e religiosas, para o caso de Asia Bibi", afirma o Arcebispo de Lahore, Dom Lawrence Saldanha, em uma entrevista à Agência Fides.
Dom Saldanha também destacou que a Igreja local vive preocupada pelo clima de crescente intolerância. "A tensão aumentou e continuam manifestações e apelos dos grupos islâmicos radicais, que aumentam a polarização social e religiosa".
Segundo o bispo, o modo mais razoável para a solução definitiva do caso seria uma nova investigação, feita junto à Suprema Corte, para averiguar de modo inequívoco a inocência de Asia. A Agência Fides recorda que o status presidencial permitiria a libertação de Asia Bibi, mas isso teria como pano de fundo a admissão da culpa, o que suscitaria revolta em meio aos grupos islâmicos.
A Agência AsiaNews reporta que o marido de Asia e seus cinco filhos teriam deixado a própria casa no distrito de Sheikupura, temerosos por sofrer retaliações dos fundamentalistas islâmicos, e se transferiram para um local que permanece em segredo.
Imprecisões
Segundo notícias difundidas na terça-feira, 23, por agências internacionais, o presidente Zardari estaria disposto a conceder o pedido de clemência a Asia, caso fosse confirmada sua condenação. No entanto, uma alto funcionário do governo da província de Punjab teria declarado que nenhum pedido havia chego ao presidente por parte de Asia.
Ao mesmo tempo, no entanto, segundo outras fontes ainda não confirmadas, a mulher já teria sido libertada, conforme reportou a organização International Christian Concern (ICC) nesta segunda-feira, 22.
A missão
O anúncio da missão vaticana no Paquistão foi feito na terça-feira, 23, pelo Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Tarcisio Bertone, na sequência do evento de inauguração do ano acadêmico da Pontifícia Universidade Lateranense. Na oportunidade, Bertone renovou seu apelo pela libertação de Asia Bibi.
O Cardeal Bertone recordou ainda que a Santa Sé, como muitos outros governos, têm levantado a questão da revogação da lei sobre a blasfêmia em vigor no Paquistão, porque “os cidadãos e, entre eles, os fiéis cristãos, não podem ser acusados de crimes que não têm consistência”.
Enquanto isso, os partidos religiosos paquistaneses comunicaram que são fortemente contrários à libertação de Asia Bibi, ameaçando protestos em nível nacional e a organização de um dia de mobilização contra “qualquer conspiração para abolir a lei sobre a blasfêmia".
Em junho de 2009, Asia cumpria trabalhos de operária em Sheikhupura, perto de Lahore, Paquistão. Em uma ocasião pediram-lhe que procurasse água potável para suas companheiras. Algumas das trabalhadoras – todas muçulmanas – se negaram a beber a água por considerá-la "impura" devido a que foi provida por uma cristã.
Um dia mais tarde Bibi foi atacada por um bando. Ela denunciou o caso à polícia e foi levada a uma delegacia para sua segurança, onde paradoxalmente recebeu uma acusação de blasfêmia por ter supostamente insultado Maomé. Desde sua reclusão disse aos investigadores que é perseguida por ser cristã e negou ter proferido os insultos.
A Lei de Blasfêmia agrupa várias normas contidas no Código Penal do Paquistão para sancionar qualquer ofensa de palavra ou obra contra Alá, Maomé ou o Corão, que seja denunciada por um muçulmano sem necessidade de testemunhas ou provas adicionais. Sua aplicação pode supor o julgamento imediato e a posterior condenação à prisão de qualquer pessoa.
Até a data, no Paquistão ninguém foi executado por blasfemar mas ao menos 80 pessoas são processadas anualmente sob estes cargos. Estima-se que somente 3% dos 167 milhões de paquistaneses não são muçulmanos.
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