As pregações acontecem na Capela Redemptoris Mater, do Palácio Apostólico Vaticano.
Após quatro cardeais, este ano a tarefa está a cargo de um padre, pela primeira vez. Trata-se de Enrico Dal Covolo, postulador geral dos Salesianos, que escolheu como tema de suas meditações a vocação sacerdotal, exatamente em sintonia com o Ano que a Igreja está celebrando.
Nesta entrevista ao L'Osservatore Romano, o religioso fala sobre o conteúdo e o método dos exercícios que prega para o Papa e a Cúria Romana desde domingo, 21, e que segue até sábado, 27.
Dal Covolo destaca o tema dos Exercícios, fala sobre a necessidade da oração na vida do sacerdote, o desafio de atualizar a formação sacerdotal, o que leva um jovem a se tornar padre e as principais armadilhas para a vida pastoral do presbítero.
L'Osservatore Romano (LOR): Pode nos explicar o tema dos exercícios espirituais deste ano, Lições de Deus e da Igreja sobre a vocação sacerdotal?
Padre Enrico Dal Covolo: O título pode ser explicado tanto na linha do método, quanto na linha do conteúdo destes exercícios. A linha do método é aquela antiga e consagrada da lectio divina, articulada em suas etapas fundamentais da leitura, meditação, oração e contemplação. A conversão da vida é a etapa conclusiva da lectio divina e, consequentemente, a fase final dos exercícios espirituais. O próprio título alude ao conteúdo, que diz respeito à vocação sacerdotal, ilustrada através dos estágios típicos das histórias bíblicas da vocação, que são cinco: o chamado de Deus; a resposta do homem; a missão que Deus confia a quem chama; a dúvida, a tentação, a resistência, a perplexidade do chamado e, enfim, a confirmação tranquilizadora de Deus.
A meditação da manhã percorrerá sistematicamente estes cinco estágios. Já à tarde, as meditações serão inspiradas nas "lições da Igreja", a mais importante das quais é a do sacerdote santo, ou, pelo menos, do sacerdote exemplar. Os cinco "medalhões sacerdotais" selecionados são de Santo Agostinho, São Cura d'Ars, o padre rural de Bernanos, o Venerável Giuseppe Quadrio e o Venerável Papa João Paulo II.
LOR: Durante as meditações, falará de São João Maria Vianney. Quais serão os aspectos mais importantes de que tratará?
Padre Enrico Dal Covolo: Eu escolhi pregar utilizando não apenas a biografia de São João Maria Vianney, porque já é bem conhecida, mas me ative a cinco episódios da sua vida, através dos quais fosse mais fácil fazer comparações entre a própria história do chamado e a história de vocação ao sacerdócio. No fundo, todos estes exercícios são outra coisa que uma verificação da vocação sacerdotal, à luz da Palavra de Deus e da palavra da Igreja.
LOR: Por que um padre necessita fazer um curso de exercícios espirituais?
Padre Enrico Dal Covolo: Essencialmente, porque eles são necessários. O Diretório sobre a vida e o ministério do presbítero recomenda que, todo o ano, os sacerdotes façam o seu exercício espiritual. De fato, no caminho da vida, especialmente nesta cultura em que estamos, muitas vezes pode levar a esquecer as motivações profundas para uma escolha de fé e vocação. Também o Papa, que é o supremo pastor, não está subtraído às tentações, à resistência, a árdua jornada da fé. Também ele necessita dos exercícios espirituais para poder confirmar eficazmente os irmãos na fé e dar o bom exemplo a todos os sacerdotes.
LOR: Como é viver esta experiência de ser o pregador dos exercícios espirituais para o Papa?
Padre Enrico Dal Covolo: Eu me sinto muito atingido pela graça do estado. Devo dizer que não é meu o pedido da atribuição que me é confiada. Sinto a graça de Deus que me ajuda fortemente. Ajudou-me muito a colocar o foco nestas meditações, e eu não levei muito tempo para prepará-las. A graça me sustenta também do ponto de vista emotivo, porque devo dizer que me sinto muito tranquilo. Também posso acrescentar que tenho uma longa experiência na pregação de exercícios espirituais. Se eu contei corretamente, o do Papa deveria ser o 221º curso de exercícios espirituais pregado a padres, freiras, consagrados, em meus trinta anos de sacerdócio.
LOR: O senhor acredita que a formação nos seminários prepara adequadamente os candidatos para desenvolver o seu ministério sacerdotal?
Padre Enrico Dal Covolo: Seguramente há um grande empenho neste sentido. Na recente visita que fez ao Pontifício Seminário Romano, o Papa destacou este esforço na atualização da formação sacerdotal. Certamente é um desafio, em particular, penso que devemos estudar melhor a forma que os futuros sacerdotes encaram a Sagrada Escritura. Muitas vezes, me parece que essa abordagem é demasiada subserviente ao método histórico-crítico. Não que este método não tenha os seus méritos, mas é, por si só, insuficiente. O futuro sacerdote deve escutar as Escrituras com o mesmo espírito que as escutaram os nossos padres, com aquela capacidade sapiencial de ler os textos profundamente eclesial. É o que o Papa chama de "exegese canônica" ou "teológica".
LOR: Estamos celebrando o Ano Sacerdotal, um momento de reflexão sobre a vocação. Por que um jovem, na sua opinião, deveria decidir se tornar um padre?
Padre Enrico Dal Covolo: Aquilo que leva, em última análise, um jovem a se tornar sacerdote só pode ser o convite do Senhor, que é o chamado. Como escreve João Paulo II, não podemos defini-lo precisamente em termos exatos, porque é dom e mistério. Mas podemos acrescentar que, certamente, uma pessoa está capacitada a perceber com clareza o chamado do Senhor para ser padre. Então, me pergunto, o que acaba por bloqueá-lo? Hoje, aquilo que bloqueia o jovem, ao ponto de ser incapaz de perceber claramente este chamado, é o clima em que nos encontramos. Um clima cultural de consumismo, muito apegado às necessidades materiais, pouco aberto ao diálogo com o espírito. Isto é o que verdadeiramente pode bloquear o candidato.
Existem também as dificuldades específicas relacionadas com a geração atual, penso sobretudo em nosso Velho Mundo, a velha Europa. Hoje em dia, um jovem é muito frágil em suas escolhas. Torna-se difícil tomar decisões definitivas, tanto para o sacerdócio, quanto para o casamento. Por isso, tanto mais ele se encontra em dificuldade para enfrentar uma escolha como essa, que consiste em doar inteiramente a própria vida ao serviço dos irmãos, seguindo o exemplo de Jesus Cristo, o Bom Pastor. O modelo de Cristo Crucificado é, certamente, um modelo que está em desacordo com a cultura do mundo circundante.
LOR: Quais são os principais riscos na atividade pastoral de um padre?
Padre Enrico Dal Covolo: Uma "armadilha" é a solidão, a qual discutirei de modo particular no perfil do sacerdote rural. Na realidade, a solidão do sacerdote possui algo de necessário. Acontece que o presbítero, durante a sua formação, se prepare para essa solidão, que não é um vazio existencial, mas que deve se traduzir em um encontro privilegiado e íntimo com o Senhor Jesus, ao qual nenhum outro amor pode competir. De uma forma radical, o sacerdote é convidado a não antepor nada ao amor de Cristo, de acordo com a máxima de São Bento.
Bem, a solidão, se você a preenche com este conteúdo, é um bem. Facilita o encontro pessoal com Deus. Às vezes, porém, o sacerdote experimente a solidão como um vazio existencial. Por quê? Porque ele perdeu a dimensão contemplativa da vida. Aqui, então, mostra-se o quanto é importante um curso de exercícios espirituais, porque ajuda exatamente a pensar sobre essas coisas e a se converter.
LOR: A solidão é a armadilha "primeira". E as outras?
Padre Enrico Dal Covolo: Penso nas compensações que o sacerdote busca frente a essa solidão. Compensações que podem ser muitas coisas, sem pensar imediatamente nas coisas mais sérias, isto é, nas buscas que afetam o celibato sacerdotal e são proibidas, ou sem pensar no acúmulo de dinheiro, que, por vezes, é realmente uma armadilha para os sacerdotes. Se pode pensar mais facilmente no chamado ativismo, ou seja, o risco de "fazer por fazer", que se torna quase uma droga. Nesta armadilha, muitos padres têm caído e continuam a cair. Para os bispos, podem ser, às vezes, a armadilha de uma busca de honra, de se sentir quase apegado ao rol de privilégios que possuem, após a ordenação episcopal. Todavia, para eles também continuam valendo os riscos dos sacerdotes.
LOR: O senhor preparou um medalhão sobre Giuseppe Quadrio. Quem é esse padre?
Padre Enrico Dal Covolo: Bento XVI reconheceu a heroicidade da vida e das virtudes de Giuseppe Quadrio em 19 de dezembro. É uma figura muito interessante, porque é um sacerdote salesiano exeplar que foi um teólogo: então, de alguma forma, se santificou através do estudo e do ensino da teologia. Ele também foi decano da Faculdade de Teologia em Turim, antes de o Pontifício Ateneu Salesiano ser transferido para Roma. Ele morreu em 1963, quando ainda não havia completado 42 anos. Era uma promessa para a teologia, uma grande esperança.
Basta pensar que, em 1946, defendeu uma dissertação na Pontifícia Universidade Gregoriana, onde fez a defesa de se definir o dogma da Assunção de Maria. Estavam presentes nove cardeais, bem como Monsenhor Montini, futuro Papa Paulo VI. Aquilo teve ampla ressonãncia no L'Osservatore Romano, que fez uma matéria muito detalhada. Por que foi escolhido? Porque, em suas cartas, descreve a figura ideal do sacerdote. Em certo sentido, quando pinta este retrato do sacerdote ideal, ele também oferece um autorretrato que não se considerava digno de escrever.
LOR: Outro medalhão é sobre um padre rural de Bernanos. Por que essa escolha?
Padre Enrico Dal Covolo: O padre rural o escolhi para concluir a jornada penitencial, na qual falarei da dúvida, da resistência, das tentações que o sacerdote encontra em sua história de vocação. A figura doente do sacerdote é definitivamente exemplar nesse ponto de vista. Proporei a sua experiência, isto é, todas as dúvidas por que passou, as tentações que o marcaram e como, na realidade, em seu leito de morte, ele fez as pazes consigo mesmo e com Deus, à luz do ensinamento do "tudo é graça", de Teresa de Lisieux.
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