É disso que está convencido o presidente da Federação Italiana de Exercícios Espirituais (Fies), Cardeal Salvatore De Giorgi, associação reconhecida pela Conferência Episcopal Italiana (CEI) e destinada a promover os chamados "tempos fortes" de espiritualidade.
A prática dos exercícios, no entanto, não conhece uma verdadeira crise. "Infelizmente não está crescendo, mas em processo de 'ajuste' do ritmo", observa o cardeal. Ele registra pontos a favor, particularmente entre os leigos e as novas gerações. "Especialmente entre os jovens que fazem a experiência de uma vida de comunidade".
Os sacerdotes, pelo dever do exemplo a que estão desafiados por seu ministério, são os primeiros a serem chamados para a revisão contínua da experiência interior. "Na vida de um sacerdote, os exercícios espirituais são o momento mais favorável para verificar sua fidelidade ao dom recebido, para a purificação contínua do coração, para a animação do ministério", acrescenta De Giorgi. "É por isso que os Papas, de Leão XIII a Bento XVI, propuseram e recomendaram, não tanto como uma obrigação canônica, mas como exigência urgente e insubstituível a necessidade da vida espiritual".
Além disso, completou-se recentemente o aniversário de oitenta anos da encíclica Mens Nostra, dedicada por Pio XI, em 20 de dezembro de 1929, à "importância dos exercícios espirituais".
"O quadro sócio-religioso-cultural da época, que levou o Papa Ratti a dar relevo à 'suma importância, utilidade e adequação destes santos retiros' era, sem dúvida, menos complexo e menos comprometido que o de hoje, o do secularismo que coloca Deus entre parênteses, do materialismo que de fato o nega, do cientificismo que pretende tomar o seu lugar, do relativismo ético que rejeita todas as normas morais absolutas e transcendentes", explica o purpurado italiano.
Todavia, a análise que Pio XI faz da crise de seu tempo é "clara e lúcida" e ainda apresenta enormes pontos de atualidade. "A grande doença da era moderna – lê-se na Mens nostra -, principal fonte dos males que todos nós condenamos, é a falta de reflexão". Uma falta que produz escravos do materialismo e da corrida às riquezas, "que minimiza gradualmente na mente todos os ideais nobres".
Os Exercícios
A experiência dos exercícios espirituais é uma prática que, baseando-se na grande tradição do passado, requer ajustes contínuos para as necessidades do momento. Muita coisa mudou desde o tempo de Santo Inácio de Loyola, célebre fundador dos exercícios.
Já o Papa Paulo VI, em 1965, no discurso à primeira reunião da Fies, recorda o Cardeal De Giorgi, "fez uma vibrante e estimulante exortação para se reformular os exercícios: 'Ai se os Exercícios Espirituais se tornassem uma repetição formal ou, eu diria, um esquema preguiçoso. Há toda uma reformulação dos exercícios que esperamos, sinceramente, que os nossos bravos padres saibam fazer', disse o Papa".
O secretário nacional da Fies, padre Estanislau Renzi, destaca o trabalho desenvolvido especialmente entre os jovens: "Eles vivem agora em um mundo que ama o barulho, não o silêncio e o recolhimento, e desejam se ver livres de leis e de disciplina". Para eles, de acordo com padre Renzi, é "difícil falar sobre a busca da vontade de Deus na disposição da própria vida".
No entanto, há muitos, entre 20 e 30 anos, que praticam os exercícios espirituais frequentando assiduamente cursos, por vezes, nos fins de semana, em casas de espiritualidade, cujos representantes lhes oferecem a oportunidade para rezar e refletir individualmente e em comunidade, a fim de discernir as escolhas de vida e fazer o seu caminho espiritual na Igreja. Os cursos estão abertos a todos os jovens que querem crescer na fé e aprofundá-la, a fim de esforçar-se para ordenar suas vidas de acordo com o projeto de Deus.
Padre Renzi também enfatiza que os exercícios espirituais não são apenas um momento de estudo ou simples meditação e oração. É também um tempo de busca e orientação interior. "Tal como caminhar, andar, correr são exercícios físicos – escreveu Santo Inácio -, os Exercícios Espirituais também devem preparar a alma para remover todos os afetos desordenados e, após retirá-los, tentar encontrar a disposição da vontade de Deus na própria vida, para a salvação da própria alma", ressalta.
Nesse sentido, afirma o secretário da Fies, citando os ensinamentos de Bento XVI, se "a secularização, que muitas vezes se transforma em secularismo e abandona o sentido positivo da secularidade, coloca uma dura prova para a vida cristã dos fiéis e pastores, os exercícios espirituais, enquanto escuta ruminada e longa da Palavra de Deus, permitem discernir a vontade de Deus e, de acordo com ela, superar a mentalidade na qual Deus está ausente e permite, ao mesmo tempo, lutar para viver em comunhão com Deus e nossos irmãos".
Enfim, os exercícios espirituais se apresentam como uma solução para renovar a vida cristã e responder aos graves desafios colocados pela sociedade secular e pela indiferença religiosa.
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