O relato do martírio de Santo Estêvão, que acabamos de ouvir, quando escutamos a primeira leitura, nos ajuda a fazer memória dos mártires. Em especial os do nosso continente. Nos últimos 40 anos o número de mártires na América Latina se multiplicou, desde que a Igreja no continente, despertada pelo Concílio Vaticano II, assumiu o compromisso –, selado na Conferência de Medellín (196 e aprofundado nas conferências seguintes –, de ficar ao lados dos pobres e excluídos, organizando-os em comunidades eclesiais e despertando-os para a participação da vida social e política.
A partir da fé em Jesus ressuscitado, muitos irmãos nestes anos, perdendo o medo, começaram a denunciar as estruturas injustas, que sufocam e oprimem nossos povos, pagando, muitas vezes, com a vida o compromisso assumido pela fé.
Os frutos deste caminho, com o sacrifício de tantos irmãos e irmãs, estão aparecendo em nosso continente, mesmo em meio às contradições dos novos rumos que a maioria dos países da América Latina está tomando.
A Igreja, em qualquer época, à medida que for fiel a Cristo, não pode evitar a cruz, pois este é o caminho para a ressurreição.
No momento atual, colocando-nos em defesa da vida, em todas as suas manifestações, a começar pelos mais desamparados e excluídos, não nos faltam e não nos faltarão perseguições.
Na defesa da vida é fundamental que – como Igreja – continuemos verdadeiramente indo contra tudo e contra todos de forma a defender a dimensão comunitária da nossa fé, contra as tentações do individualismo, que está aos poucos acabando de corromper a família e os próprios fundamentos da sociedade; e contra o caminho de morte, que a cultura globalizada, de matriz ocidental, está trilhando. O caminho da vida é o da solidariedade, do cuidado, da partilha, da comunhão fraterna.
Nós cristãos, que temos como alicerce da nossa vida nova o Cristo na Eucaristia – Ele que nos disse agora no Evangelho: “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede” (São João 6, 30-35) – confiantes nessa Palavra, não podemos reduzir a mero rito o gesto de Jesus, que antecipa o dom concreto e real da Sua vida por amor a nós. Muito pelo contrário, a Eucaristia, banquete da Palavra e Pão da vida, tem de ser a força que nos impulsiona a construir dia após dia a comunhão com nossos irmãos e irmãs, a partir dos mais pobres. E essa comunhão torna-se visível e eficaz só numa comunidade concreta.
Por isso, é necessário darmos novo impulso às comunidades eclesiais a nós confiadas. Todas as comunidades. As novas formas também que estão aparecendo, graças a Deus, na Igreja. Devemos fortalecer as existentes e fundar outras. Especialmente nas periferias urbanas e rurais, mais afastadas e esquecidas.
A grande experiência das Novas Comunidades eclesiais de base, fruto genuíno da renovação conciliar do nosso continente, deve ser retomada e valorizada, especialmente neste tempo em que somos convocados pela Conferência de Aparecida para a conversão pastoral e para a missão.
Por isso, querendo renovar e fortalecer esta caminhada, esta grande experiência, eu convido todos os meus irmãos bispos para participarem do 12º Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base (CBEs), que será realizado em Porto Velho (RO), de 21 a 25 de julho deste ano. Será o modo concreto para dar ânimo às Comunidades Eclesiais de Base do nosso país. Será a ocasião para renovar e aprofundar a comunhão entre elas e seus pastores. E também a oportunidade de refletir juntos sobre os novos desafios que, como seres humanos e cristãos, temos hoje de enfrentar.
O tema do 12º Intereclesial é a Amazônia, de forma a nos fazer despertar para a urgência do cuidado com a terra, nossa casa comum, que está gravemente ameaçada. Como cristãos temos de ter esse cuidado com as pessoas em primeiro lugar, mas que deve se estender também à nossa casa comum.
Que Deus nos ajude e que, apesar da distância de Porto Velho e da dificuldade de chegar lá, muitos de nós possamos nos reunir nesse grande encontro de nossa Igreja.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo! Para sempre seja louvado!
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