Povos indígenas e a Missão continental foram os temas principais da coletiva de imprensa desta segunda-feira, 27, que contou com a presença do presidente do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e Bispo da Prelazia do Xingu (PA), Dom Erwin Kräutler; do presidente da Comissão do projeto “O Brasil na Missão Continental e Bispo de Ponta Grossa, Dom Sérgio Braschi, e do presidente do Regional Nordeste 2 da CNBB (Alagoas, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte e Bispo de Olinda (PE), Dom Antônio Muniz.
Dom Erwin comentou sobre sua colocação na assembleia, no sábado de manhã, e recordou a situação vivida na Raposa Serra do Sol, destacando que foi uma vitória após longos anos de lutas. Contudo, a demarcação da terra indígena não significa que a questão esteja resolvida, pois outras áreas indígenas demarcadas continuam a ser invadidas. Pediu ainda que a causa indígena não ficasse esquecida pela imprensa.
No relatório, distribuído à imprensa esta tarde, o bispo apresenta as condições precárias em que vivem os índios no Brasil, o descaso diante das inúmeras epidemias que atingem os povos indígenas, a discriminação, o aumento do número de assassinatos e recordou que a Constituição Brasileira defende os direitos dos índios: “eles são cidadãos brasileiros legítimos e, entretanto, vivem outra cultura. Não podemos permitir que eles sejam regidos pelos mesmos parâmetros que a sociedade ocidental. Eles tem outras culturas, outras tradições, no entanto, pertencem ao Brasil”.
E disse que continua “defendendo os povos indígenas como vítimas, pois são secularmente agredidos, e se alguma vez acontece algum revide, eu creio que não dá pra julgar sem saber quem provocou isso”.
O bispo criticou a atitude da justiça em colocar em liberdade um dos mandantes da brutal morte de Irmã Dorothy, visto que ele foi condenado diante de evidências irrefutáveis. Disse que “há mais gente que encomendou e é responsável pela morte da irmã”.
Questionado sobre sua postura em relação ao PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), Dom Erwin definiu o programa do governo de autoritário, pois determina as ações e investimentos sem consultar as pessoas interessadas, as que moram perto dos projetos. “Acho que todo brasileiro e brasileira tem direito de opinar. Quando se trata de uma cidade que vai ser inundada, o morador tem direito de falar se quer ou não”, enfatizou.
O Pará é o estado mais rico do Brasil, “na Serra dos Carajás, diariamente, milhões de toneladas de minério estão sendo exportados. Mas qual a dádiva? Qual a contribuição que o próprio Pará recebe? O PAC é feito em Brasília e incide sobre o Brasil sem consultar os povos atingidos”.
Missão Continental
Dom Sergio falou sobre o projeto “O Brasil na Missão Continental” e destacou que o objetivo é despertar o impulso da consciência missionária e para a defesa da vida em nosso continente. “Encontramos tantas ameaças e a violência traz um grande desafio e uma grande convocação para nós, que somos discípulos, para que possamos defender e trazer uma vida digna para os povos indígenas, para todas as pessoas, para os que moram nas periferias”.
O bispo explicou o “permanente estado de missão”, convite da Missão Continental. “Não se trata de algo momentâneo, se trata de provocar um estado permanente de difusão da Boa Nova de Cristo. Por isso que precisamos fazer formação. Nós vivemos ainda uma mentalidade de tradição, prática tradicional e, sobretudo, uma pastoral que ‘Aparecida’ chama de mera manutenção. Temos que nos voltar para fora, isso supõe a busca dos que estão afastados, que foram batizados, mas não estão inseridos nas graças que Cristo nos traz. Supõe uma conversão pessoal e uma conversão pastoral, passar para uma outra atitude do modo como vivemos”.
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