Vaticano

Concluída primeira semana de trabalhos no Sínodo dos Bispos

Neste sábado em que a Igreja recorda os 46 anos do início do Concílio Vaticano II, inaugurado no dia 11 de outubro de 1962, a XII Assembléia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, sobre "A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja", em andamento no Vaticano, chegou, esta manhã, à sua 10ª Congregação Geral, que se concluiu com o pronunciamento de dois delegados fraternos: o Arquimandrita Ignatios Sotiriadis, representando a Igreja Ortodoxa grega, e o Ir. Alois Löser, religioso alemão, prior da Comunidade Ecumênica de Taizé.

A sociedade atual exige de todos os cristãos, católicos, ortodoxos, protestantes e anglicanos um testemunho comum, sinal de uma visível unidade. E foi exatamente sobre essa exigência que versou o pronunciamento do Arquimandrita Ignatios. Ele reiterou também a necessidade de se cultivar o respeito por todo ser humano, independentemente de sua raça ou religião. Por sua vez, o Ir. Alois Löser desejou que sejam dados novos passos rumo a um ecumenismo espiritual e a uma maior atenção à sede religiosa dos jovens.

Os jovens foram o ponto central de diversos pronunciamentos dos padres sinodais, esta manhã, uma vez que eles representam um dos maiores desafios para a proclamação da Palavra de Deus, e necessitam muito mais de testemunhos do que de mestres. A tarefa da Igreja, portanto, sublinharam os padres sinodais, deve ser a de aproximar-se dos jovens e ensiná-los a suportar tudo o que acontece com eles e em torno deles, ajudando-os a reler tais eventos à luz da Palavra de Deus.

Trabalhos da semana 

A semana foi dedicada quase inteiramente às intervenções individuais dos delegados das várias conferências episcopais, abordando os pontos que consideram mais pertinentes do documento base de discussão, o chamado instrumentum laboris (o documento de trabalho).

Alguns padres sinodais falaram da evangelização em contextos como a Europa do leste, a Birmânia ou a Terra Santa. Em particular foi salientado que os cristãos árabes têm dificuldades na leitura do Antigo Testamento por causa de interpretações politicas e ideológicas que pesam sobre ele.

"Muitos cristãos árabes têm dificuldades em ler o Antigo Testamento, não pelas Palavras de Deus, mas devido às interpretações políticas e ideológicas", disse o patriarca latino de Jerusalém Fouad Twal que finalizou a sua intervenção pedindo mais orações e peregrinos na Terra Santa "para testemunhar Jesus".

Leigos na vida eclesial

O cardeal Vinko Puljic, arcebispo de Sarajevo, na sua intervenção, focalizou o papel dos leigos na vida eclesial. Para o seu serviço, requerem-se "competências diversificadas e uma formação bíblica específica". Para este purpurado, a catequese familiar é um "meio privilegiado para o encontro com Deus que fala ao homem".

Às famílias toca a responsabilidade de iniciar os filhos na Sagrada Escritura. O Arcebispo de Nagasaki, no Japão, Dom Joseph Mitsuaki Takami afirmou que "somente a lectio divina não é suficiente. É importante conhecer as Palavras de Deus, relacioná-las com a nossa vida, partilhá-la e praticá-la ao longo de toda a nossa vida". A forma como cada pessoa se deixa tocar e animar na sua vida cristã é uma questão que, segundo o bispo japonês "deve ser constantemente questionada".

Dom Takami pediu que Bento XVI "recomende a todos os cristãos a meditação e a partilha das Sagradas Escrituras, na Exortação Pós Sinodal. O Bispo pediu ainda a publicação de um livro explicativo "em detalhe, que aborde métodos atuais de como ler a Bíblia".

Liturgia: lugar privilegiado da Palavra de Deus

Para o bispo de Torun, na Polônia, Dom André Suski, é fundamental compreender a liturgia como lugar privilegiado da Palavra de Deus: a proclamação da Palavra, a meditação e o confronto com as muitas situações cotidianas – no âmbito da comunidade paroquial – dá início à comunidade eclesial, como afirmou João Paulo II na Exortação Apostólica Catechesi Tradendae. A paróquia tem motivações também teológicas, é comunidade eucarística.

Para o bispo auxiliar de Valparaiso (Chile), Santiago Silva, há que tomar em consideração três critérios para a leitura cristã da Bíblia, no contexto cultural de hoje: a sede de Deus; a identidade do cristão como filho de Deus, discípulo de Jesus e templo do Espírito; a nossa condição de "família de Deus" reunida para reconhecer essa condição e se preparar para a missão. Daqui a exigência de uma pastoral e de uma espiritualidade bíblica que favoreçam a experiência do amor de Deus.

Dom Charles Soreng, bispo de Hazaribag (Índia) pôs em relevo a eficácia da Palavra de Deus na construção da comunidade e na realização da comunhão entre fiéis provenientes de culturas diversas, uma comunhão eucarística que se manifesta como testemunho e serviço.

Resposta às esperanças e desafios atuais

Para responder às esperanças e aos desafios de hoje sem cair nos erros e perigos da chamada "teologia da libertação", o bispo equatoriano de Ibarra, D. Júlio Teran fez uma série de observações: a reflexão teológica deve colocar-se no contexto da comunidade cristã de pertença; tal leitura comunitária da Escritura deve confrontar-se com os sinais de pecado e de graça que conformam o mundo globalizado e, no contexto da América Latina, deve prestar especial atenção aos pobres.

Assim, a elaboração da reflexão teológica não terá dificuldade em se articular com a exegese científica, conforme as indicações do magistério. Ponto de convergência do trabalho dos teólogos é sempre a pessoa do Senhor da Igreja, o Jesus histórico que aparece nos Evangelhos e que é o próprio Cristo ressuscitado, realmente presente na Igreja através do mistério da Sua Páscoa.

Homilias

"A homilia não é uma catequese, nem tão pouco uma meditação ou uma lição de exegética", apontou na sua intervenção o Bispo de Terni e presidente da Federação Católica Bíblia, D. Vincenzo Paglia. "A homilia representa um momento em que devemos deixar a Palavra de Deus guiar-nos o coração".

Recordando os vários debates que existem sobre a preparação das homilias, D. Paglia referiu não haver necessidade de "medos por se entregar a Bíblia aos fiéis", referiu, sublinhando que "cada um deveria ter uma Bíblia pessoal para poder consultar e meditar regularmente".

Vários outros bispos recordaram experiências e a relação entre os cristãos dos seus países e a Bíblia.

Realidades em alguns países

O Bispo de Kankan, na Guiné, D. Emmanuel Félémou indicou que a Igreja católica do seu país manifesta um especial interesse por este Sínodo. "Queremos que todos os agentes pastorais – catequistas, religiosos, padres, bispos – veiculem a mensagem que é importante ler a Bíblia e tirar, diariamente uma mensagem para o seu dia".

"Todos os dias, nas famílias, a Bíblia deveria ser lida e meditada", indicou o Bispo africano, reforçando que "os jovens precisam ouvir Jesus Cristo". D. Emmanuel Félémou sublinhou que os bispos "têm o dever de acompanhar a formação".

Por sua vez, o Bispo Anthony Muheria, de Embu, no Quênia, afirmou que a forte presença dos evangélicos em África "que se vangloriam de decorar algumas passagens bíblicas, está conduzindo a uma tendência de mal entendidos no conhecimento sobre a Bíblia, gerando livres interpretações". 

O presidente da CNBB, Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, e arcebispo de Mariana, Dom Geraldo Lyrio Rocha falou em sua intervenção sobre o grande impulso, que vem da Palavra de Deus, na ação evangelizadora da Igreja no Brasil.

E nesta sexta feira à tarde intervieram nos trabalhos sinodais dois delegados fraternos: o reverendo Gunnar Stalsett bispo emérito de Oslo, expoente da federação mundial luterana e o Reverendo Robert Welsh dos Discípulos de Cristo. No centro das suas reflexões, a condenação do fundamentalismo religioso, o convite a todas as pessoas de fé a empenharem-se para se atingir os objetivos do milênio e o apelo a superar as divisões no interior do Corpo de Cristo.

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