CONSISTÓRIO

"Abençoai aqueles que vos amaldiçoam", diz Papa aos novos cardeais

O Papa Francisco realizou um Consistório que nomeou 17 novos cardeais, dos quais 13 são eleitores e 4 eméritos

Monique Coutinho
Da redação

Neste sábado, 19, véspera do fechamento da Porta Santa da Misericórdia, o Papa Francisco celebrou na Basílica de São Pedro o Consistório para a criação de 17 novos cardeais, sendo 13 eleitores e quatro eméritos.

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Em seu discurso, o Santo Padre saudou todos ali presentes e comentou sobre o Evangelho de hoje, denominado “discurso da planície”, no qual, após a instituição dos doze discípulos, Jesus foi para um local plano, ao encontro de uma multidão.

“A vocação dos Apóstolos aparece associada com este pôr-se a caminho, rumo à planície, para encontrar uma multidão que se sentia atormentada. A escolha deles, em vez de os fazer permanecer lá no alto, em cima da montanha, leva-os para o seio da multidão, coloca-os no meio das suas tribulações, ao nível da sua vida”, afirma.

Quatro exortações

O Pontífice prossegue dizendo que essa atitude é uma forma de Deus revelar a todos que o verdadeiro ápice se alcança na planície, e recorda que este ápice está em um horizonte e, especial, em um convite: “Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso”.

“Um convite acompanhado por quatro exortações que o Senhor lhes dirige, para moldar a vocação na existência concreta do dia a dia. São quatro ações que darão forma, encarnarão e tornarão palpável o caminho do discípulo. Poderíamos dizer que são quatro etapas da mistagogia da misericórdia: amai, fazei o bem, abençoai e rezai”, diz o Papa.

Sobre esses aspectos o Pontífice afirma ser quatro ações que facilmente é realizada com os amigos, com as pessoas mais ou menos chegadas, próximas na estima, nos gostos, nos costumes.

“O problema surge quando Jesus nos apresenta os destinatários destas ações, e fá-lo com muita clareza, sem divagações nem eufemismos. Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, abençoai aqueles que vos amaldiçoam, rezai pelos que vos caluniam”, observa, acrescentando que estas ações não vem espontaneamente.

Diante disso, o Santo Padre diz que essa é uma das caraterísticas mais específicas da mensagem de Jesus, onde se esconde força e o segredo. Além disso, Francisco afirma que é a partir destas atitudes que nasce a alegria, a força da missão e o anúncio da Boa Nova.

“O inimigo é alguém que devo amar. No coração de Deus, não há inimigos; Deus tem apenas filhos. Nós erguemos muros, construímos barreiras e classificamos as pessoas. Deus tem filhos, e não foi para se livrar deles que os quis. O amor de Deus tem o sabor da fidelidade às pessoas, porque é um amor entranhado, um amor materno e paterno que não as deixa ao abandono, mesmo quando erraram.”

Deus não espera pelo momento que formos bons para amar o mundo, para amar a todos, não espera pelo momento em que seus filhos são menos injustos ou perfeitos, mas ama a todos porque escolheu amar, ama porque deu aos seus o estatuto de filhos. Amou mesmo quando éramos seus inimigos.

“O amor incondicional do Pai para com todos foi, e é, uma verdadeira exigência de conversão para o nosso pobre coração, que tende a julgar, dividir, contrapor e condenar. Saber que Deus continua a amar mesmo quem O rejeita, é uma fonte ilimitada de confiança e estímulo para a missão. Nenhuma mão, por mais suja que esteja, pode impedir a Deus de colocar nela a Vida que nos deseja oferecer”, diz Francisco.

Epidemia na sociedade

O Santo Padre recorda que o tempo atual carateriza-se por problemáticas e interrogativos fortes à escala mundial. Tempo em que ressurgem, à maneira duma epidemia nas nossas sociedades, a polarização e a exclusão como única forma possível de resolver os conflitos.

“Vemos, por exemplo, como rapidamente quem vive ao nosso lado não só possui a condição de desconhecido, imigrante ou refugiado, mas torna-se uma ameaça, adquire a condição de inimigo. Inimigo, porque vem de uma terra distante, ou porque tem outros costumes. Inimigo pela cor da sua pele, pela sua língua ou a sua condição social; inimigo, porque pensa de maneira diferente e mesmo porque tem outra fé.”

O vírus da polarização

Pouco a pouco as diferenças transformam-se em sintomas de hostilidade, ameaça e violência. Quantas feridas se alargam devido a esta epidemia de inimizade e violência, que se imprime na carne de muitos que não têm voz, porque o seu clamor foi esmorecendo até ficar reduzido ao silêncio por causa desta patologia da indiferença.

“Quantas situações de precariedade e sofrimento são disseminadas através deste crescimento da inimizade entre os povos, entre nós! Sim, entre nós, dentro das nossas comunidades, dos nossos presbitérios, das nossas reuniões. O vírus da polarização e da inimizade permeia as nossas maneiras de pensar, sentir e agir”, observa Francisco.

Anunciar o Evangelho

O Papa Francisco afirmou que Jesus não cessa de descer do monte, de querer inserir na encruzilhada da história de cada um ali presente para anunciar o Evangelho da Misericórdia. Jesus continua a chamar e a enviar à planície dos povos, continua a convidar a gastar a vida apoiando a esperança do povo, como sinais de reconciliação. “Como Igreja, continuamos a ser convidados a abrir os nossos olhos para vermos as feridas de tantos irmãos e irmãs privados da sua dignidade, provados na sua dignidade.”

Ao concluir, o Santo Padre disse que o caminho para o céu começa na planície, no dia a dia da vida repartida e compartilhada, de uma vida gasta e repleta de doações. O ápice é esta qualidade do amor; a meta e aspiração é procurar na planície da vida, juntamente com o povo de Deus, “transformar-nos” em pessoas capazes de perdão e reconciliação.

“Amado irmão, aquilo que hoje se te pede é que guardes no teu coração e no coração da Igreja este convite a ser misericordioso como o Pai, sabendo que se alguma coisa nos deve santamente inquietar e preocupar a nossa consciência é que haja tantos irmãos nossos que vivem sem a força, a luz e a consolação da amizade com Jesus Cristo, sem uma comunidade de fé que os acolha, sem um horizonte de sentido e de vida.”

Consistório

Este é o terceiro consistório do pontificado de Francisco. Entre os 13 cardeais eleitores está incluso Dom Sérgio da Rocha, atual arcebispo de Brasília (DF).

Além deste, o Papa Francisco celebrou também outros dois consistórios, sendo um no dia 22 de fevereiro de 2014, criando de 19 cardeais, entre os quais 16 eleitores, e outro no dia 14 de fevereiro de 2015, com total de 20 cardeais, sendo 15 eleitores.

Entre os 13 cardeais eleitores 

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