Em favor da vida humana

Papa envia mensagem ao "Pátio dos Gentios", em Portugal

O Papa Bento XVI enviou uma mensagem aos participantes da sessão portuguesa do “Pátio dos Gentios”, que teve início na sexta-feira,16, e se encerra neste sábado,17, nas cidades de Guimarães e Braga, com o tema 'O Valor da Vida'. O “Pátio dos Gentios” foi inaugurado com uma conferência de Marcelo Rebelo de Sousa, professor universitário, sobre o tema ‘Identidade e sentido da vida de um povo’.

Em sua mensagem, o Papa saúda os participantes do encontro que reúne crentes e não-crentes ao redor da aspiração comum de afirmar o valor da vida humana sobre a maré crescente da cultura da morte.

Na realidade, – escreve o Papa – a consciência da sacralidade da vida que nos foi confiada, não como algo de que se possa dispor livremente, mas como dom a guardar fielmente, pertence à herança moral da humanidade. “Mesmo entre dificuldades e incertezas, cada homem sinceramente aberto à verdade e ao bem, com a luz da razão e não sem o secreto influxo da graça, pode chegar a reconhecer na lei natural inscrita no coração (cf. Rm 2, 14-15) o valor sagrado da vida humana desde o primeiro momento do seu início até ao seu termo” (Enc. Evangelium vitæ, 2). Não somos produto casual da evolução, mas cada um de nós é fruto de um pensamento de Deus: somos amados por Ele.

Mas, – pergunta-se o Papa – se a razão pode alcançar tal valor da vida, por que chamar em causa Deus? Bento XVI responde citando uma experiência humana. “A morte da pessoa amada é, para quem a ama, o acontecimento mais absurdo que se possa imaginar: aquela é incondicionalmente digna de viver, é bom e belo que exista (o ser, o bem e o belo, como diria um metafísico, equivalem-se transcendentalmente). Entretanto, a mesma morte da mesma pessoa aparece, aos olhos de quem não ama, como um acontecimento natural, lógico (não absurdo). Quem tem razão? Aquele que ama («a morte desta pessoa é absurda») ou o que não ama («a morte desta pessoa é lógica»)?

A primeira posição só é defensível, se cada pessoa for amada por um Poder infinito; e aqui está o motivo por que foi preciso apelar a Deus. De fato, quem ama não quer que a pessoa amada morra; e, se pudesse, impedi-lo-ia sempre. Se pudesse… O amor finito é impotente; o Amor infinito é onipotente. Ora, esta é a certeza que a Igreja anuncia: «Tanto amou Deus o mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigênito, a fim de que todo o que nele crê não se perca, mas tenha a vida eterna» (Jo 3, 16). Sim! Deus ama cada pessoa e, por isso, é incondicionalmente digna de viver.

Na modernidade, porém, o homem quis subtrair-se ao olhar criador e redentor do Pai (cf. Gn 4, 14), fundando-se sobre si mesmo e não sobre o Poder divino. Quase como sucede nos edifícios de cimento armado sem janelas, onde é o homem que provê ao clima e à luz; e, no entanto, mesmo em tal mundo auto-construído, vai-se beber aos «recursos» de Deus, que são transformados em produtos nossos. Que dizer então? É preciso tornar a abrir as janelas, olhar de novo a vastidão do mundo, o céu e a terra e aprender a usar tudo isto de modo justo. De fato, o valor da vida só se torna evidente, se Deus existe. Por isso, seria bom se os não-crentes quisessem viver «como se Deus existisse». Ainda que não tenham a força para acreditar, deviam viver na base desta hipótese; caso contrário, o mundo não funciona. Há tantos problemas que devem ser resolvidos, mas nunca o serão de todo, se Deus não for colocado no centro, se Deus não se tornar de novo visível no mundo e determinante na nossa vida. Aquele que se abre a Deus não se alheia do mundo e dos homens, mas encontra irmãos: em Deus caem os nossos muros de separação, somos todos irmãos, fazemos parte uns dos outros.

O Papa conclui as palavras do Concílio Vaticano II aos homens de pensamento e de ciência: “Felizes os que, possuindo a verdade, a procuram ainda a fim de a renovar, de a aprofundar, de a dar aos outros”.

 

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