Francisco pediu aos empresários que gerem empregos e apoiem as mulheres trabalhadoras que desejam engravidar
Catarina Jatobá
Da Redação, com Boletim da Santa Sé
O mundo dos empreendedores foi o assunto da audiência do Papa Francisco nesta segunda-feira, 12, na Sala Paulo VI. Francisco recebeu membros da Confederação Geral da Indústria Italiana, que reúne cerca de 4.200.000 empresários e empreendedores do país. Em discurso, o Santo Padre frisou que o ramo é um componente essencial para a construção do bem comum e um motor de desenvolvimento e prosperidade. Mas advertiu que um homem de negócios pode ser um “mercenário” ou um “bom pastor”.
Ao mencionar a Bíblia, falou da relação do homem com o dinheiro, citando os exemplos do bom samaritano, que pagou antecipadamente os gastos com aquele homem roubado e ferido, e Judas, que por trinta denários entregou Jesus.
“De fato, o mesmo dinheiro pode ser usado, ontem como hoje, para trair e vender um amigo ou para salvar uma vítima. Vemos isso todos os dias, quando o dinheiro de Judas e o do Bom Samaritano coexistem nos mesmos mercados, nas mesmas bolsas de valores, nas mesmas praças. A economia cresce e se torna humana quando o dinheiro dos samaritanos se torna mais numeroso que o de Judas”.
Francisco esclareceu que Jesus não condena os ricos ou as riquezas, e que que é possível ser comerciante, empresário e ser seguidor de Cristo, “habitante do seu Reino”. Citou pessoas ricas que fizeram parte da primeira comunidade de Jesus, como Zaqueu de Jericó, José de Arimatéia, e os beatos Giuseppe Toniolo e Giuseppe Tovini. “A questão então passa a ser: quais são as condições para um empreendedor entrar no Reino dos Céus?”. E, partindo daí, elencou algumas destas condições.
Pobreza evangélica: compartilhar as riquezas
Papa Francisco falou sobre o perigo da riqueza, que pode se tornar um ídolo. Ao mesmo tempo, ela traz consigo uma responsabilidade de ser usada para o bem comum. Disse que para entrar no Reino dos Céus, nem todos são convidados a se despir como Francisco de Assis; e que aqueles que possuem riquezas são convidados a compartilha-las. “Compartilhar é outro nome para a pobreza evangélica. E, de fato, a outra grande imagem econômica que encontramos no Novo Testamento é a comunhão de bens narrada pelos Atos dos Apóstolos: ‘A multidão dos que se tornaram crentes tinha um só coração e uma só alma […], entre para eles tudo era comum […]. Nenhum deles era carente”.
Francisco sugeriu as diversas formas de viver o espírito evangélico da partilha, como a filantropia (doar à comunidade de várias maneiras) o pagamento de impostos e taxas (para que ela se transforme em bens públicos, como escola, saúde), e a criação de trabalho, especialmente para os jovens. “ Hoje, a tecnologia corre o risco de nos fazer esquecer essa grande verdade, mas se o novo capitalismo cria riqueza sem criar empregos, essa grande função boa da riqueza entra em crise”, denunciou o papa.
“É urgente apoiar as famílias e a natalidade”
Francisco afirmou ainda que o problema do trabalho toca também o modelo de ordem social que deve ser questionado. E sobre isto entrou em outra questão importante que são os baixos índices de natalidade que, aliados ao rápido envelhecimento da população, agravam a economia em geral. “É urgente apoiar as famílias e a natalidade na prática Devemos trabalhar nisso, para sair o mais rápido possível do inverno demográfico em que também vivem a Itália e outros países. (…) Hoje ter filhos é, eu diria, uma questão patriótica, também para levar o país adiante”, afirmou.
Sobre o mesmo tema, o Papa chamou a atenção para a realidade das mulheres em seus empregos, que, muitas vezes, têm medo de engravidar e serem demitidas. E fez um forte apelo aos empresários: “Por favor, esse é um problema das mulheres trabalhadoras: estude-o, veja como fazer uma mulher grávida continuar, tanto com o filho que está esperando, quanto com o trabalho”.
Francisco realçou o papel positivo que as empresas desempenham na realidade da imigração, favorecendo uma integração construtiva e ajudando a sobrevivência da empresa no contexto atual. Ao defender o apoio aos migrantes, em forma de trabalho, pediu que eles não sejam “explorados”, mas tratados de forma justa e honesta.
Discrepância entre salários
“É verdade que existe uma hierarquia nas empresas, é verdade que existem funções e salários diferentes, mas os salários não devem ser muito diferentes”, defendeu o Papa.
Francisco afirmou que “quando os salários são muito diferentes, o sentimento de pertença a uma empresa se perde na comunidade empresarial”. E quando isso acontece, perde-se a empatia e solidariedade entre os trabalhadores, o que é prejudicial para a própria empresa. “Porque se é verdade que cada trabalhador depende dos seus empresários e gestores, também é verdade que o empresário depende dos seus trabalhadores, da sua criatividade, do seu coração e da sua alma: podemos dizer que depende do seu ‘capital’ espiritual, dos trabalhadores”.
Protagonistas de uma mudança
Francisco finalizou seu discurso pedindo aos empresários que criem um sistema econômico que seja capaz de salvaguardar o meio ambiente. “Encorajo-vos a sentir a urgência do nosso tempo, a ser protagonistas desta mudança de época.(..)Sem novos empreendedores, a Terra não resistirá ao impacto do capitalismo e deixaremos um planeta muito ferido, talvez inabitável, para as próximas gerações. O que fizemos até agora não é suficiente: por favor, vamos ajudar uns aos outros a fazer mais”.