Em Castel Gandolfo

Bento XVI a seus ex-alunos: não temos a verdade, pertencemos a ela

Concluiu-se com uma Missa celebrada pelo Papa na manhã deste domingo, 2, no Centro Mariapolis de Castel Gandolfo, o tradicional seminário de verão europeu dos ex-alunos de Bento XVI, o chamado Ratzinger Schülerkreis, centralizado este ano no tema "Resultados e questões ecumênicas no diálogo com o luteranismo e o anglicanismo". Na homilia, o Pontífice comentou as leituras da liturgia dominical.

Bento XVI fez a homilia a partir da leitura do Deuteronômio, onde se lê que Israel, único dentre todos os povos, recebe de Deus a lei, lei que dá a verdadeira salvação. Trata-se de um dom do qual alegrar-se, não um fruto da própria genialidade que possa gerar triunfalismo, observou o Papa.

Desse modo, a Igreja, um Israel que se tornou universal, só pode alegrar-se pelo dom de Cristo, que é o núcleo essencial da Lei, Lei feita carne, Amor de Deus por nós. Recebemos a sabedoria que é verdade, sabemos viver e morrer, porque Cristo é a vida e a verdade. Não há espaço para nenhum triunfalismo, mas somente para a alegria e a gratidão pelo presente recebido, que não foi feito por nós.

O Papa ressaltou que, com o passar do tempo, costumes humanos foram acrescentados ao dom de Deus, escondendo a sabedoria dada por Ele. Esses acréscimos podem levar a Igreja ao chamado triunfalismo, a louvar a si mesma.

Desse modo, nesta fase, vemos somente aquilo que foi feito por nós, não mais encontramos a alegria da fé. Assim não mais ousamos dizer que Deus nos ensinou a verdade e nos ensinou o que é o homem.

Mas hoje – observou o Santo Padre –, os conceitos de verdade e intolerância estão quase fundidos entre si; desse modo, afirmar ter a verdade torna-se sinônimo de intolerância. E nós cristãos não mais ousamos crer ou falar em verdade.

De fato, é verdade, ponderou: ninguém pode dizer "Tenho a verdade", porque somos nós que pertencemos à verdade que é algo vivo! Não a possuímos, é ela que nos segura; e permanecemos nela somente se nos deixamos conduzir e impelir por ela.

Creio que devemos aprender novamente este "não ter a verdade", afirmou. Ninguém pode dizer "Tenho filhos", porque não são um nosso pertence, são um presente, e são um dom de Deus e uma tarefa.

Do mesmo modo, também não podemos dizer "Tenho a verdade", mas a verdade, que é o próprio Cristo, veio até nós, e na Eucaristia veio até mesmo dentro de nós para purificar-nos das nossas misérias, do nosso egoísmo que faz o cristianismo parecer apenas um sistema de costumes.

E assim devemos aprender novamente a fazer-nos conduzir pela verdade. E então por meio de nós a verdade poderá novamente brilhar para a salvação do mundo.

Bento XVI fez uma observação tomando como referência a Carta de São Tiago, onde convida a se colocar em prática a Palavra, não sendo somente ouvintes.

É uma exortação a não realçar a dimensão intelectual da fé e da Teologia, frisou. Muitas vezes, quando leio tantas coisas inteligentes, temo justamente isso: que a Teologia se torne uma questão de intelecto que não compenetra a nossa vida e que, portanto, não nos leva à verdade.

Portanto, é um convite justamente a nós, teólogos: não somente ouvir, mas deixar-se forjar pela verdade e deixar-se conduzir por ela, concluiu.

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