Venezuela: impasse político deixa país com dois presidentes

Juan Guaidó se proclamou presidente da Venezuela, mas nem todos os países e instituições o reconhecem como novo chefe de Estado

Da redação, Reuters

Jovens manifestantes entram em conflito com a polícia nas ruas de Caracas / Foto: Reprodução Reuters

A situação na Venezuela continua turbulenta. Juan Guaidó se declarou presidente interino do país nesta quarta-feira, 23. As forças do Estado, porém, não estão sob seu controle e permanecem sob o comando de Nicolás Maduro ― que, por sua vez, declarou cortar laços diplomáticos com os Estados Unidos, que apoiam Guiadó.

De acordo com a Reuters, diplomatas estadunidenses foram vistos em carros oficiais, escoltados pela polícia venezuelana, em direção ao aeroporto. No poder desde 2013, Maduro é rejeitado pelos Estados Unidos. Guaidó, que é líder da Assembleia Nacional Venezuelana, é apoiado pelos Estados Unidos.

Em meio a esta disputa pelo cadeira presidencial, o Departamento de Estado da Venezuela ordenou que alguns trabalhadores e cidadãos norte-americanos deixem o país.

No entanto, a comunidade internacional está dividida com relação à situação política do país. A China, por exemplo, não vê com bons olhos a interferência internacional imposta ao país. Hua Chunying, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, espera que todos os nações possam honrar a Carta das Nações Unidas ― documento assinado em 1945 que prega a paz entre para a segurança internacional. 

“Os assuntos internos da Venezuela devem e só podem ser escolhidos e determinados pelo povo venezuelano. Pedimos a todas as partes relevantes que respeitem a escolha do povo e apoiem as facções na Venezuela para buscar uma solução política para essas questões por meio do diálogo pacífico no marco da Constituição venezuelana”, disse Hua Chunying numa coletiva de imprensa na manhã desta sexta-feira, 25.

Já o ministro das Relações Exteriores da Espanha, Josep Borrell, disse que se Maduro não convocar novas eleições, o líder da oposição Juan Gaidó deveria ser reconhecido como presidente e, assim, legitimar um novo pleito. Segundo Borrell, a Espanha considera reconhecer Guaidó como presidente interino, mas precisa do apoio de toda a União Europeia.

Militares apoiam Maduro

Os militares venezuelanos já afirmaram que não deixaram de oferecer apoio a Maduro, segundo o Ministro da Defesa, Vladimir Padrino Lopez. Em um comunicado transmitido pela tevê, Lopez afirmou que a ação tomada por Guaidó vai contra a Constituição venezuelana e terá um efeito perigoso no país. Disse ainda que os militares estão contra e não admitem interferência externa nas decisões políticas da Venezuela.

A guerra, por outro lado, não é uma solução para que esta situação se resolva, disse Lopez. Durante seu pronunciamento, disse esperar que todos os lados envolvidos possam negociar e que os militares continuarão a resguardar a segurança e estabilidade doméstica do povo.

Também na quinta-feira, 24, os governadores e outros funcionários do Partido Socialista Unido se reuniram em Caracas e ofereceram apoio a Maduro.

Morte de bebês

Enquanto a situação política da Venezuela não se resolve, o sistema público de saúde entra em colapso e o número de mortalidade infantil cresce. Uma pesquisa, publicada no periódico The Lancet Global Health, aponta que a Venezuela é o único país sul-americano em que a mortalidade infantil voltou aos índices dos anos 1990.

Estimativas sugerem que a taxa de mortalidade venezuelana ― que é definida pelo número de morte de crianças com menos de um ano ― foi de 21,1 mortes a cada mil nascidos em 2016, um aumento de 1,4 vezes das taxas registradas em 2008. Isso equivale aos níveis registrados no final dos anos 1990, o que significa que 18 anos de progresso podem ter sido perdidos, disseram os pesquisadores.

“Durante os anos 2000, a Venezuela criou políticas destinadas a proteger suas populações mais vulneráveis, mas esses esforços não se refletem nas taxas evitáveis de mortes de crianças venezuelanas vistas hoje”, disse a autora do estudo, Jenny Garcia, do Institut National d’Etudes Demographiques, da França.

A escassez severa de alimentos e a hiperinflação recorde no país rico em petróleo colocaram a compra de alimentos fora do alcance de muitos. “Durante crises importantes, as causas mais comuns de morte são as mesmas que aquelas relatadas em países com as maiores taxas de mortalidade infantil: doenças diarreicas, infecções respiratórias agudas, sarampo, malária e desnutrição severa”, disse Garcia. “Todos esses elementos estão presentes na Venezuela e certamente afetarão negativamente a mortalidade infantil futura”, reiterou.

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