Procissões, costumes e tradições familiares fazem parte da vivência da Semana Santa em Portugal e na Terra Santa
Kelen Galvan
Da redação, com colaboração de Célia Grego e Angélica Mello
Nesta semana, a Igreja Católica vive o momento mais importante do Calendário Católico, com a celebração da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo. Apesar das celebrações acontecerem em todo o mundo, cada país vive sua particularidade, com costumes que passam de geração em geração.
Um exemplo disso é Taybeh, na Palestina. A cidade histórica, antiga Efraim citada na Bíblia, é atualmente a única totalmente cristã dentro da Cisjordânia.
Fé e memória na cidade de Taybeh
Os local conta com cerca de 1300 habitantes, o que permite que os moradores acompanhem as celebrações litúrgicas da Semana Santa nas três paróquias presentes na cidade, sem preconceito com a diferença de rito: Latino, Grego-melquita e Ortodoxo.
A missionária da Comunidade Filhos de Maria, Graziella Garcia Fabrete, mora em Taybeh há quase cinco anos, e explica que essa região da Palestina acompanha o Calendário Ortodoxo no intuito de promover maior unidade e comunhão, visto que em uma mesma família, os membros pertencem a diferentes ritos. Neste ano a Páscoa Ortodoxa será no dia 1º de maio.
“Percebemos que em algumas famílias eles optam por irem juntos na mesma igreja em uma das celebrações do Tríduo Pascal e em outro dia em outra, pois as famílias costumam estar sempre juntas”, destaca Graziella.
A antiga cidade de Efraim é o local onde Jesus esteve pouco antes de ir a Jerusalém para a última ceia. Segundo a missionária, em Taybeh ainda hoje é possível experimentar esse prenúncio da paixão, morte e ressurreição de Cristo.
“O ícone da Virgem Maria com a romã, que ganha lugar de destaque na Igreja Latina, representa um pouco dessa realidade. A romã possui a casca amarga que se experimenta no sofrimento e da dor, e também o doce sabor dos grãos maduros, representando a alegria da ressurreição”, explica.
Graziella recorda que um dos costumes locais que mais a encanta é a procissão do Senhor morto na Sexta-feira Santa. “É realizada dentro da própria Igreja, e o diferencial são os aromas usados na estátua do Cristo morto, em tamanho real, coberta por flores. São os aromas que se usavam na época de Jesus, como o óleo de Nardo. Toda a Igreja fica perfumada. Existe também nesse momento uma piedade popular muito grande em beijar e reverenciar o corpo do Senhor, representado na estátua”.
Ela lembra ainda de outro costume diferente: a confecção de árvores de Páscoa. Trata-se de algo semelhante à tradicional árvore de Natal, porém são enfeitadas com ovos, geralmente pintados à mão e algodão.
Portugal
A cidade de Braga, em Portugal, destaca-se pela sua vivência da Semana Santa e atrai visitantes de todo o país para participar de suas procissões. Todos os anos ela é decorada a rigor para a Quaresma e prepara uma programação especial para a celebração da Ressurreição de Cristo, na Páscoa.
De acordo com o português Joaquim Dias, missionário da Comunidade Canção Nova, a cidade é muito católica e abriga três importantes santuários católicos do país: a Sé de Braga, o Santuário do Bom Jesus e do Sameiro.
Ele conta que as ruas são preparadas com altares e enfeitadas com luzes e flores, formando caminhos que levam às igrejas, igualmente decoradas.
Uma procissão de nome curioso é a procissão da Burrinha, no qual recorda-se a fuga de Nossa Senhora para o Egito, montada em uma burrinha, logo após o nascimento do menino Jesus.
“Visualmente forte e misticamente vivido, este momento reúne milhares de pessoas, centenas de figurantes e diversos quadros bíblicos. Trata-se de um evento que, anualmente, leva cerca de 60 mil peregrinos até à cidade de Braga”, destaca Joaquim.
Saiba mais sobre a Procissão da Burrinha
Portugal guarda ainda outras tradições para a vivência da Páscoa. Uma delas é o Compasso, uma visita pascal que simboliza a entrada de Jesus Cristo no lar, com a benção do padre para a casa e seus moradores. O momento é aguardado com expectativa pelos portugueses, que limpam suas casas ou até mesmo as pintam, à espera da visita.
O português Joaquim Dias conta que durante o compasso a família, amigos e vizinhos se reúnem e ajoelham-se na sala principal, onde o sacerdote lhes dá a cruz para ser beijada.
“No fim, todos se sentam à mesa que costuma ter amêndoas, doces da Páscoa, licores e vinho do Porto para oferecer aos membros do Compasso. Em certas regiões são os leigos nomeados pelo pároco que fazem esta visita do compasso. Normalmente, são cinco membros um que leva o sino anunciar a ressurreição, outro leva a cruz, outro as pagelas de oração, outro que faz a oração em casa de cada família, e por último o que recolhe as ofertas”, explica.
Outro costume português é o Folar, um tipo de pão que os padrinhos oferecem aos afilhados na Páscoa. Estes por sua vez, costumam entregar aos padrinhos, no Domingo de Ramos, um ramo de oliveira ou uma orquídea, e às madrinhas, um ramo de violeta.
“O folar tem vindo a ser substituído, no entanto, pela oferta de pão-de-ló, amêndoas ou dinheiro”, destaca.