Vamos conhecer a história de um médico e uma paciente com câncer. Um tratamento difícil e demorado, que gerou empenho profissional, confiança e, principalmente, uma grande amizade entre eles. Os repórteres Daniel Camargo e Monizy Amorim contam detalhes dessa bela história de vida e esperança que nós acompanhamos a partir de agora.
Edson, médico hematologista. Rosiane, assistente de segurança do trabalho. Pessoas que viram suas histórias se cruzarem quando Rosiane recebeu o diagnóstico de leucemia LLA. “É um câncer da célula do sangue em que é blastos, células jovens B começam a se proliferar desordenadamente e causar vários problemas. E a posteriori, alguns dias depois, a gente viu que ela tem uma mutação adicional, que é uma mutação no cromossomo Philadelphia, que confere uma resistência e agressividade a mais da doença”, explicou o médico hematologista, Edson Carvalho.
“É um choque. Eu acho que para qualquer um que faz um tratamento oncológico, perde sim o rumo, perde o chão”, relatou a assistente de segurança do trabalho, Rosiane Rodrigues.
De lá para cá, a relação entre o médico e a paciente se tornou de amizade. Além do profissionalismo, outra característica do Dr. Edson sempre chamava a atenção de Rosiane. “E eu era admirada com o cabelo dele, tanto eu, minha mãe, minha filha, a gente sempre falava: ‘Ai, o médico cabeludo aquele cabelão lindo’’, lembrou Rosiane.
Em boa parte da vida, o médico teve o cabelo grande. Foram 15 anos sem cortar mais do que as pontas. Só que a internação do pai de Edson o levou a pensar no corte como possibilidade de ajudar o próximo. “Primeiro que meu pai ficou doente, gravemente enfermo, foi internado por 60 dias, desses 60, 30 foram CTI, 20 aproximadamente de ventilação mecânica. E aí eu prometi que se ele melhorasse, se ele tivesse forças para melhorar e passar por aquilo tudo, eu também teria a força para cortar. E aí juntou isso tudo. Eu falei: ‘Gente, olha, eu vou cortar meu cabelo, que que eu vou fazer com o meu cabelo? Preciso usar ele de alguma maneira’”, prometeu o médico.
O próximo tinha nome e rosto conhecido, Rosiane. Uma infecção durante o tratamento a levou a ter que reaprender um básico, comandar e falar. Agora ela se prepara para uma nova etapa, o transplante de medula que fará o cabelo cair novamente.
“Eu queria tentar com que ela ficasse melhor para enfrentar algo semelhante de novo, porque o transplante vai ser alguma coisa, algo parecido com o que ela passou no CTI, porque é muito pesado, só que num momento diferente em que ela está recuperada, que a doença está em remissão e que ela tem uma chance muito grande de ter uma resposta boa para longo prazo. Então a ideia foi justamente essa”, retomou o especialista.
Com a melhora do pai, a decisão de Edson se manteve firme, inclusive com o apoio da família. A novidade chamou a atenção de Rosiane, que só não imaginava que aqueles fios eram para ela. “Eu entrei no consultório dele, falei: ‘Edson você cortou o cabelo?’. Ele não respondeu nada. E continuou falando sobre o tratamento, sobre o que tinha que ser feito, qual que eram os próximos passos. Eu falei: ‘Ok, ele não quer falar nada sobre o cabelo, eu tenho que respeitar’. E do nada me venho com uma sacola e me entrega aquele cabelo maravilhoso dele, da filha dele, que é a coisa mais linda. Então assim, não teve jeito, eu desabei”, testemunhou a paciente.
Mais do que um gesto de solidariedade, a doação também traz uma mensagem de força, esperança e gratidão. “Que sirva de exemplo para principalmente para minha filha. E para outras pessoas que a gente pode ajudar às vezes com pouco, não precisa de muita coisa”. “Esse amor, esse afeto, esse carinho é sobrenatural, é o envio de Deus, sabe? É um anjo mesmo sendo enviado por Deus. É a resposta que eu sempre pedi a Deus. ‘Deus, coloca seus anjos no meu caminho’. E ele colocou”, concluiu Rosiane.